Estamos já no 33º domingo do tempo comum.
O fim do ano litúrgico se aproxima. No próximo domingo já é a Festa de Cristo Rei. No dia de hoje, celebramos um dia especial. Estamos na quinta edição do “Dia Mundial dos pobres”. Uma iniciativa criada pelo Papa Francisco, que neste ano traz o lema: “Sempre tereis pobres entre vós”. Com tal iniciativa, o Papa quer a Igreja, como um todo, saia para encontrar a pobreza nas mais variadas formas em que ela se manifesta no mundo moderno, e estenda a mão aos mais necessitados. Ir aonde os pobres estão, este é o desafio desta Igreja, quem sabe, pensando como Santo Agostinho: “O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres”.
Um dia a ser pensado com muito carinho, sobretudo no contexto que ora estamos vivendo. É mais do que necessário, que saiamos de nossa zona de conforto, para encontrar aqueles e aquelas que estão padecendo. Como o Papa mesmo nos exorta: “Faço votos de que o Dia Mundial dos Pobres, possa radicar-se cada vez mais nas nossas Igrejas locais e abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre os pobres lá onde estão. Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento”.
A opção preferencial pelos pobres é uma das marcas características da nossa Igreja latino-americana. O Concílio Vaticano II (1962-1965), abriu-nos as portas desta nova realidade de ser Igreja. Entretanto, foi mesmo a partir da Conferência Episcopal Latino-americana de Medellín (1968), que esta experiência se consignou. Nosso bispo Pedro não se cansava de dizer que: “ou a Igreja é dos pobres e para os pobres, ou não é ela a verdadeira Igreja de Jesus de Nazaré. Esta também tem sido uma das características do pontificado de Francisco que afirma enfaticamente: “Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus manifesta a sua misericórdia antes de mais a eles”.
Para ser uma Igreja com e para os pobres, necessário que seja ela, antes de tudo, uma Igreja com rosto maternal samaritano. O teólogo franciscano Leonardo Boff, em 1987, bem que nos ajudou a ver mais de perto este rosto diferente de Deus ao publicar: “O rosto materno de Deus”. Um belíssimo ensaio, que lança de forma ousada uma hipótese teológica sobre Maria. Nela, Deus assume a forma feminina a tal ponto, deste feminino se elevar à condição de divindade. Segundo o autor, fazendo uso das ciências humanas, da antropologia teológica e da própria psiquiatria de Carl Gustav Jung (1875-1961) coloca Maria unida intimamente ao Espírito Santo e à Santíssima Trindade. De leitura indispensável para quem deseja fazer uma experiência de fé com esta proximidade do rosto amoroso e feminino de Deus.
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Por falar em rosto materno, ontem (13), fizemos memória da páscoa de nossa Tia Irene. A Irmã Irene Franceschini, (para nós Tia Irene), nasceu em São Paulo no dia 16 de novembro de 1919 e faleceu também em São Paulo, aos 89 anos, no dia 13 de novembro de 2008. Na pessoa de nossa Tia Irene, víamos não somente o rosto materno de Deus, mas também o rosto dos pobres da prelazia. Ela que chegou por aqui no ano de 1970 e teria sido enterrada nestas terras, como Pedro. Ficou doente e saiu para se tratar e não mais voltou para cumprir o seu último desejo.
Conheci a Tia ao chegar na prelazia (1992), e já pude perceber que não se tratava de uma pessoa qualquer. Zelosa e muito carinhosa para com todos, sobretudo os pobres e as mulheres, com quem fez uma longa caminhada missionaria, como agente de pastoral desta prelazia. Senti a sua mão maternal e carinhosa, ao cuidar de mim, assim que contraí a fatídica malária, nos meus três primeiros meses de prelazia de andanças pelo sertão. Era assim com todos os que passavam pelo “Palácio de Pedro”, “sendo a mão direita e também esquerda da prelazia”, como bem disse o meu amigo, diácono e agente de pastoral Zé Raimundo (Zecão). Nunca me esqueço, de quando, certa feita, cheguei ao sertão, e encontrei dentro de minha bolsa, um lanche, carinhosamente preparado por ela, acompanhado por um bilhete: “É para quando você sentir fome”.
Quem não se lembra da Tia, recortando as páginas dos jornais da época, dando início ali o tão famoso “Arquivo da Prelazia”. De recorte em recorte, ela foi montando aquele que se transformaria num dos arquivos mais importantes da história do Araguaia. Só podia ser uma mulher simples e despojada, vivendo a radicalidade evangélica, para conseguir acompanhar os passos de Pedro. Ela se transformara no esteio da prelazia, sendo assim reconhecida por todos e todas. A Tia Irene personificava em si o rosto maternal de Deus, fazendo a caminhada com centenas de outras mulheres, que passaram ou ainda estão nesta Igreja. Todos trazemos em nós, um pouco desta “fraternura” da Tia Irene, de saudosa memória. Nela, Deus fazia morada e transluzia através de seus gestos, de alguém sempre pronta a servir. No Dia Mundial dos pobres, lembramos da Tia Irene, que se fez pobre, com os pobres e para os pobres, a exemplo do Nosso Mestre maior. Tia Irene, presente na caminhada!
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