Sábado da quarta semana do tempo comum.
Caminhamos para o primeiro final de semana de fevereiro. Vamos nos adequando conforme as circunstâncias do momento.
Se bem que todos gostaríamos de viver dias mais felizes, sair, abraçar, sentir o calor do outro e o pulsar de seu coração no compasso do nosso, sem a influência desta triste pandemia, que causou uma crise planetária, colocando toda a humanidade impotente de joelhos frente a um vírus mortal. Deus tenha piedade de todos nós! Que esta pandemia nos ensine a olhar com mais cuidado para a nossa “Casa Comum”, com olhares mais ternos e humanizados.
O Papa João Paulo II, num dos momentos de lucidez de seu pontificado, fez uma afirmação que nos surpreendeu a todos. Segundo ele, “mais do que uma crise social, política, econômica e moral de nossa sociedade, nossos dias são marcados pela perda de nossa capacidade de escutar o outro”. Não nos escutamos uns aos outros. Se não escutamos o outro, dificilmente escutaremos a Deus que nos fala frequentemente através dos sinais dos tempos. Nossa oração, por exemplo, quase sempre é marcada pelo muito falar e pouco escutar a Deus que habita no mais intimo de nosso ser. Deus que fala nos fatos da vida. Como nos dizia o filosofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855): ”A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”.
Vivemos hoje influenciados pela cultura do descartável. O sistema capitalista, com o seu consumismo desregrado, nos fez assim. Não “consertamos” mais nada. Quebrou, joga fora e compra outro, de preferência mais sofisticado. E o pior de tudo é que agimos desta forma nas nossas relações humanas. O outro também virou um ser desprezível e posteriormente descartável para mim. As pessoas que não nos servem mais, trocamo-las por outras, e assim sucessivamente. Somos regidos pela “Modernidade Liquida”, termo cunhado pelo polonês Zygmunt Bauman, para definir a atual sociedade, cujas relações e comportamentos rápidos e fluidos marcam o ser das pessoas, dentro do capitalismo globalizado. Aconselho a leitura do livro: “Modernidade Líquida”, do referido autor.
A liturgia do dia de hoje é marcada por um momento especial na vida de Jesus com os seus discípulos. Ele faz um “balanço” dos primeiros momentos destes, em suas ações missionárias junto ao povo. Ele quer saber o resultado desta ação em meio aos empobrecidos. Poderíamos dizer que Jesus realiza com eles uma “assembleia eclesial”, um momento “sinodal”, de escuta atenta e, “os apóstolos contaram tudo o que haviam feito e ensinado”. (Mc 6, 30) Jesus quer saber se a sua mensagem está chegando aos destinatários do Reino, através da ação missionária daquele pequeno grupo de seguidores.
O mais interessante nesta história é saber que os seguidores de Jesus não são enviados para agir nos espaços sagrados das sinagogas, local de culto da religião judaica. A casa de oração do povo judeu. Sinagoga que é um vocábulo grego, podendo ser traduzido como “congregar”. Neste espaço, os judeus se reúnem para manter viva a tradição da religião judaica, rezar e também estudar a Torá. Não é para lá que os discípulos são enviados, mas para estarem em meio a realidade concreta do povo marginalizado e excluído, inclusive dos espaços “sagrados” das sinagogas. Talvez aqui Jesus já tivesse para si a clara ideia de que não haverá mais a necessidade das sinagogas, uma vez que: “está chegando a hora, e é agora, que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade”. (Jo 4, 23)
Jesus que também propõe um retirar estratégico para que os seus, estivessem a sós consigo mesmo. Um retiro necessário, muito embora a sua popularidade fosse tamanha, que não conseguiam tal intento. Retirar para estarem a sós também com Deus que lhes fala, longe do burburinho dos muitos afazeres. Um convite que também é feito a cada um de nós: encontrar momentos em nossa vida atribulada, para reservar alguns instantes para estar a sós com Deus. Rezar é exatamente isto, entrar em sintonia com Deus que fala em nosso interior, motivando-nos a ir de encontro com os acontecimentos do cotidiano, encontrando assim as possíveis respostas para os nossos conflitos. Sempre movidos pelo sentimento de justiça, amor e, sobretudo, compaixão, marca registrada de Jesus de Nazaré na relação com as pessoas. Retirar é necessário. Que nessa ação de retirar-nos sejamos conduzidos pelo espírito franciscano: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. – São Francisco de Assis (1182-1226).
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