Trigésima segunda semana do Tempo Comum.
Um terço do penúltimo mês vai ficando para trás. Resta-nos mirar o horizonte e continuar com o passo firme no compasso da história. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”, como nos conclamava Gonzaguinha. Saboreando um dia por vez, sem deixar que nos roubem os nossos sonhos. Sonhar mais um sonho impossível, com a realidade cravada nos pés da história.
Rezei a minha oração desta manhã diferente de todos os demais días. Nos primeiros passos do dia, enquanto aguardava para entregar os resultados dos exames, numa sala de recepção médica, contemplei todos os meus anos já vividos até aqui. Não pude deixar de reconhecer que Deus foi por demais generoso para comigo, por ter colocado pessoas tão especiais no meu convívio, engrandecendo a minha história de vida. Se sou quem sou, sou porque elas existem em mim, cravadas em meu coração. A marca registrada delas trago escondidas nas entranhas.
Algumas delas aprontando conosco, é verdade! Viajando mais cedo que o esperado, nos deixando tristes na orfandade dos que ficamos desolados. Meu coração bastante contristado, acompanha alhures, o encontro alegre de Gal Costa com o Autor da vida, certamente ao som de uma de suas canções de timbre afinado, com que ela tanto nos brindou os tímpanos. Isso numa terra de días intermináveis, em que a cultura de nada vale, em meio a um “sertanojo” demente de tanta sofrência e carente de uma melhor qualidade musical.
Gal era uma mulher a frente de seu tempo. Sua voz inconfundível, fez o nosso cancioneiro popular vibrar na tonalidade que somente ela mesma sabia alcançar. Mulher forte e destemida, sempre afinada com as lutas mais nobres, com a consciência de pertencimento à sua classe, fazendo e acontecendo como cultura popular brasileira. Não vendeu a sua consciência e nem o seu povo, como tantos outros nordestinos que nos dignificam, como foi demonstrado nesta última e mais importante eleição.
A vida tem destas coisas. O Reino estando presente no meio de nós e não sabemos direito como dele desfrutar, como Deus assim sempre quis. Muitos dos nossos só valorizam quando já não têm mais as pessoas presentes neste plano. Choram pela perda dos que já foram, mas não pensam em mudar de atitude para com aqueles e aquelas que aqui ainda estão. O coração de pedra segue insensível pulsando no peito da indiferença e do desamor.
“O Reino de Deus está entre vós”. (Lc 17,20). Uma afirmação diretiva de Jesus aos terríveis fariseus, que não se convenciam em hipótese alguma, de que estavam diante do Messias, Verbo encarnado de Deus. Por mais que insistisse com eles, era como letra morta, uma vez que, para acolher a verdade, necessário se faz passar pelo processo de conversão. Mudar de atitude; mudar de pensamento; mudar o jeito de ser e agir no mundo; mudar os valores; mudar de concepção de sociedade que se quer construir. Os fariseus de lá se multiplicando aos de cá, numa insanidade infinda.
“Venha a nós o vosso Reino”, assim rezamos com a oração que Jesus nos ensinou. Reino do aqui e agora! Reino que se estende na plenitude dos tempos, mas que já está presente em nossa realidade histórica, onde as ações de Jesus são continuadas naqueles e naquelas que n’Ele acreditamos. Reino de paz e justiça. Reino de vida e verdade. Reino de partilha e solidariedade. Reino de amorosidade, ternura e compaixão. Reino do respeito mútuo, inclusive quando se perde as eleições e a soberania majoritária popular sai vitoriosa nas urnas. No Reino de Deus, a esperança vence o medo, pois Ele é um de nós e conosco.
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