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O Reino em nós (Chico Machado)

Quinta feira da 32ª Semana do Tempo Comum. Aproximamo-nos rapidamente da primeira quinzena do mês de novembro. Os dias correm velozmente. O tempo não para e nem espera que estejamos prontos para seguir a sua métrica. Estar atento ao momento presente, no aqui e agora de nossa história, é uma dádiva para aqueles que sabem viver na intensidade que a vida humana requer de nós. Um novo dia chegou e, com ele, surgem novas oportunidades, para que sejamos autênticos e verdadeiros nas nossas relações, dando o melhor que podemos ser nas circunstâncias que o momento nos dispõe. Ser a melhor versão de nós mesmos é o grande desafio que a vida nos pede.

Somos filhos e filhas de um Deus pleno de amorosidade. Ao nos criar neste mundo, Deus infundiu em nosso coração o selo de sua divindade: “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus Ele o criou; e os criou homem e mulher”. (Gn 1,27) A humanidade é o ponto mais alto da criação. Homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus, no mesmo pé de igualdade. Nada de superioridade de um sobre o outro. Como seres criados por Ele, somos plenos da divindade d’Ele, já que Jesus abriu-nos as portas desta transcendência, em forma de mistério. O amor de Deus está em nós e a nossa missão é irradiá-lo entre a irmandade que formamos dentro do sonho de Deus. Ter a certeza de ser amado por Deus nos faz fortalecidos, como expressa o filósofo da China antiga Lao-Tsé (604-517 a. C.): “Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem”.

“O Senhor é misericordioso e justo; o nosso Deus é compassivo”. (Sl 116,5) O amor de Deus sendo vivenciado na experiência profunda da libertação, oportunizando reconhecer a justiça e o amor de Deus, que se volta para os pobres e necessitados. É na simplicidade das coisas que Deus faz acontecer o mistério da vida. Esta foi a tônica de meu humilde momento orante nesta manhã, contemplando a maravilha que se estendia à minha frente, com a Ilha do Bananal, fazendo brotar de dentro de si, os primeiros raios radiantes do Sol. “Irmão sol com irmã luz, trazendo o dia pela mão”, cantamos assim com o Padre Zezinho, numa referência que ele faz à São Francisco de Assis.

Uma quinta feira em que os educadores se voltam para um dos momentos mais importantes de sua missão: 14 de novembro é o Dia Nacional da Alfabetização. Esta data tem o objetivo de sensibilizar a população sobre a importância da melhoria das condições de ensino e aprendizagem no país. Lembrando que a alfabetização não se resume apenas no ato de aprender a ler e a escrever, mas também no desenvolvimento da capacidade de compreensão, interpretação e produção de conhecimento. Como reza a legislação brasileira, a alfabetização é um direito fundamental de toda pessoa, além de permitir que elas pessoas possam desenvolver-se cognitivamente, conquistando sua própria autonomia. “Trata-se de aprender a ler a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)”, como bem disse Paulo Freire.

Ler a realidade também pela ótica cristã, a partir da pedagogia de Jesus, que no dia de hoje segue com os seus ensinamentos, acerca do Reino de Deus. Pra variar, os fariseus querem saber de Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Sem meias palavras, Jesus diz-lhes claramente: “o Reino de Deus está entre vós”. (Lc 17,21) Imbuídos de tal teimosia, os fariseus procuram sinais misteriosos da vinda do Reino. Para desespero da classe religiosa do tempo de Jesus, o Reino de Deus já está presente em qualquer lugar onde a ação d’Ele é continuada pelos seus seguidores e seguidoras. Levar adiante a proposta, sendo construtores do Reino, pelas ações de libertação que fazemos.

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós!” (Jo 1,14) Com a encarnação de Jesus na historia humana, Deus e o seu Reino se fazem presentes no meio de nós. Assim, o Reino de Deus está presente na história humana. A Palavra se fez carne! A Palavra é a Sabedoria de Deus que se faz presente nas maravilhas do mundo e no desenrolar da história. Jesus, Palavra de Deus, é a luz que ilumina a consciência de toda pessoa humana. Deus é amor e fidelidade! Levado pelo seu imenso amor e fiel às suas promessas, Deus quis introduzir as pessoas onde elas jamais teriam pensado: partilhar a própria vida e felicidade de Deus. Tendo acesso as palavras dos Evangelhos, nós podemos fazer esta experiência de proximidade maior com Deus, como Paulo expressou em uma de suas cartas: “Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé!’” (Rom 1,17)

Luiz Cassio

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