Quinta feira da 29ª Semana do Tempo Comum. Entramos na última semana do mês de outubro. Como seguidores e seguidoras de Jesus, temos a missão de trabalhar para fazer acontecer o Reino entre nós. Isso nos desafia a ser, a melhor versão de nós mesmos, com simplicidade e humildade, deixando que as pessoas descubram as nossas qualidades e potencialidades. Não precisamos enaltecê-las. Elas falarão por si mesmas e mostrarão quem realmente somos nós. Temos um caminho a delinear. Sem saber aonde se quer ir, fica difícil saber o que a gente almeja na vida. Lembrando que sempre há algo a aprender e, não fechar-se a esta possibilidade, já é um sinal de sabedoria. Movimentar é preciso! Ficar parado enferruja a alma, o corpo e a mente, impedindo o coração de ser ele mesmo e agir em nós.

Meu coração de mineiro radicado no Araguaia amanheceu entristecido neste dia. Logo nas primeiras horas desta quinta feira, tomei conhecimento de mais um suicídio entre o povo da etnia Iny, da Ilha do Bananal. Um jovem de 29 anos tirou a própria vida. Não são apenas números estatísticos, mas vidas jovens que se perdem. Um jovem bonito e forte, que tinha toda a vida pela frente. Cada vez que isso acontece, desfaleço um pouquinho dentro de mim. Cada morte assim anunciada comprova a decadência e o fracasso desta nossa sociedade. É preciso força para continuar acreditando na vida, e suscitar a esperança naqueles que encontram a porta fechada para sua existência neste plano.

Rezei nesta manhã, trazendo junto a mim todos aqueles e aquelas que necessitam serem cuidados pela amorosidade e misericórdia de nosso Deus. Em meio às angústias de meu coração, lembrei-me das indagações feitas pelo teólogo Gustavo Gutiérrez em seu livro Beber do Próprio Poço: “Como falar de um Deus que se revela como amor, numa realidade de pobreza, opressão, desigualdade e morte prematura; como reconhecer o dom gratuito de seu amor e de sua justiça a partir dos que sofrem de forma inocente?” Perguntas que calam fundo em nosso coração, principalmente se nos abrirmos à realidade de sofrimento e dor que passa boa parte dos nossos irmãos e irmãs.

E para completar este meu estado de espírito deparei-me com o texto do Evangelho que a liturgia de hoje nos apresenta: Jesus falando do fogo que precisa ser ateado e das divisões. Um dos textos mais complexos do Novo Testamento, que requer um aprofundamento maior, para que possamos entendê-lo na sua propositura. Até parece que Jesus está entrando em contradição com a sua própria mensagem dita em outros contextos, como, por exemplo, na celebração da última ceia com os discípulos, quando o mestre reza ao Pai pedindo: “Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um”. (Jo 17,11)

Na verdade, a missão do discipulado de Jesus e nossa é dar continuidade a mesma missão d’Ele. Como Jesus, eles e nós, devemos romper com a mentalidade perversa do sistema que rege a nossa sociedade. Não se trata em “sair do mundo”, mas permanecermos unidos, presentes e atuantes no meio da sociedade, sendo testemunho vivo de Jesus. As divisões surgirão em decorrência daqueles que aderem ao projeto do Reino e os que fazem a sua opção pelo Deus dinheiro (Mamom) A palavra bíblica Mamom vem do aramaico e significa “dinheiro” ou “riqueza”. Jesus falou claramente sobre os perigos de tornar a riqueza em um ídolo, em vez de ter o coração dedicado a Deus. Assim, Mamom representa o domínio do dinheiro sobre a vida das pessoas.

O texto ainda diz que Jesus também veio trazer o fogo abrasador do Espirito Santo de Deus sobre a humanidade: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49) A missão de Jesus, desde o seu batismo até a cruz, é anunciar e tornar presente o Reino de Deus, entrando em choque com as concepções dominantes na sociedade de sua época. Mediante este seu projeto, é preciso tomar uma decisão firme diante de Jesus. Esta tomada de decisão, com certeza, provocará divisões entre as pessoas e até mesmo no relacionamento familiar: “pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. (Lc 12,53) O Reino é vida e só o amor constrói! As divisões serão superadas quando os corações se abrirem na construção de pontes e na abertura de portas e janelas, para que assim possa transitar a harmonia da paz duradoura do Espírito de Deus em nós.