Terça feira da 34ª semana do tempo comum.
Entramos praticamente na última semana do mês de novembro. Ele passou voando, disse-me ontem a dona Isabel. O tempo é veloz. Os dias parecem não ter mais o quantitativo de horas de antes.
Certo é que o ano vai chegando ao final de mansinho. Desta forma somos conclamados a viver intensamente cada instante de nossas vidas. Por mais que tenhamos a concepção de que o dia de amanhã vai estar ali a nos espreitar, não sabemos exatamente se estaremos lá para testemunhar.
A vida é um Dom de Deus! Recebemos esta dádiva do Criador, para que a vivamos na totalidade e integralidade. Nada de viver pela metade! Não foi assim e desta forma que Ele nos projetou nesta vida. Não viemos a este plano para morrer, mas para viver. “Eu vim para que todos tenham vida! Que todos tenham vida plenamente” (Jo 10,10), já nos prenunciara o Mestre Galileu. Quando a vida é antecipada, significa que algo de errado está acontecendo, contrariando assim, os desígnios de Deus. Vida que não tem sentido de ser vivida na individualidade, mas na conjugação de forças de quem caminha junto. Como na canção que nos animou por longos anos: “Deus chama a gente pra um momento novo. De caminhar junto o seu povo. É hora de transformar o que não dá mais. Sozinho, isolado, ninguém é capaz”.
https://www.youtube.com/watch?v=p9FBM5DEaLQ
Viver o momento presente intensamente, este é o maior de nossos desafios. Nunca esperando que as coisas nos caiam do céu, mas lutando bravamente para que elas se façam realidade no cotidiano de nossas lutas. Enfrentando de igual para igual os opressores que arquitetam e tiram a vida dos pobres e indefesos. O tirano e opressor também precisa ser libertado de sua tirania. A única forma de libertar-nos das garras dos opressores ou das instituições opressoras é comprometer-nos com Jesus de Nazaré. Não estamos sós. Ele é o guardião das nossas lutas e está junto conosco nesta empreitada.
Viver o hoje de nossa história. O passado vai ficando distante e o futuro se descortina na no horizonte de nossas vidas. Mas o presente é aqui e agora. Vivê-lo é nos colocarmos numa atitude onde estaremos sempre arriscando. Para viver este momento presente com intensidade, necessitamos sempre fazer uso do discernimento hermenêutico. Nunca nos esqueçamos de que o discernimento é um dos dons do Espírito Santo e sempre esteve presente na caminhada de fé dos seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré. O cristão, a cristã, que não tem em si o dom do discernimento, corre o risco de fazer opções equivocadas ao longo de sua trajetória de fé e errar o caminho.
A palavra “discernimento” advém de um dos muitos verbos latinos “cernere”, que quer dizer, ver, enxergar claramente, distinguir; acompanhada do prefixo “dis”, que significa “entre”. Desta forma, aquele que faz uso do discernimento, tem a capacidade de “enxergar claramente entre”. Quem assim age, tem a condição de escolher com atenção e segurança entre as opções que possui, o melhor caminho a seguir adiante. Discernir se torna uma arte. A arte de compreender as coisas que nos rodeiam, nos preparando para conhecer mais amplamente o que há de vir mais além de nós. Discernir assim se torna a capacidade de encontrar a verdade e através dela fazer as opções que nela se fundamentam.
Viver se configura como o dom e a arte de saber fazer escolhas. Escolhas válidas e pertinentes. Segundo este raciocínio, não são as coisas que possuímos (temos) que importam na nossa vida, mas aquilo que somos na nossa essência. Neste sentido, nenhum de nós é melhor que as demais pessoas, sobretudo por aquilo que possuímos na vida. Quando partirmos deste plano, aquilo que possuímos – e que fizemos tanta questão de enaltecê-los como valor supremo – ficará para trás. O que prevalecerá será apenas aquilo que somos ou fomos. William Shakespeare diria, “o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida”.
Não sermos enganados, é o grande alerta feito por Jesus a partir dos textos da liturgia de hoje. Cuidado! Dirá o nosso Mestre e Senhor. Cuidado com aquilo que nossos olhos vêem! Cuidado com aquilo que mexem com os nossos sentidos! Cuidado com aquilo que os ouvidos escutam! Cuidado, porque tem muita coisa que nos seduz, nos ilude e engana. Facilmente somos enganados e ludibriados pelo canto da sereia dos vendedores de ilusões. É preciso estar atentos e vigilantes, para que não sejamos traídos pelas nossas visões distorcidas da realidade. Olhar o horizonte e enxergar a utopia do Reino que já está presente entre nós. Embasar a nossa fé na utopia do Reino é acreditar que somos capazes de edificá-lo por meio das nossas ações, construindo um mundo de novas relações onde prevaleça não aquilo que temos, mas aquilo que somos e podemos ser. “Somos quem podemos ser”, já nos dizia os
Engenheiros do Hawaii.
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