Categories: Reflexões Bíblicas

O projeto do amor infindo (Chico Machado)

31º Domingo do Tempo Comum. Solenidade de Todos os Santos. O dia desta solenidade é no 1º de novembro, todavia, a Igreja sempre traz esta solenidade para o primeiro domingo posterior. Estamos caminhando dentro do mês do esperançar dos passos decididos de quem faz a sua adesão ao projeto libertador de Jesus. Um dia especial em que a memória litúrgica dedica a todos aqueles e aquelas que fizeram sua adesão a Jesus de Nazaré. São as “testemunhas fieis”, que dedicaram as suas vidas às causas do Reino, seguindo os passos do Nazareno, confiando e vivendo as Bem-Aventuranças, expressas no Sermão da Montanha, que Mateus se encarregou de narrar de forma brilhante (Mt 5,1-12). Entre os santos e santas, estão os/as Mártires da Caminhada. Esta é uma celebração que é reconhecida por várias denominações cristãs, como Católicos Romanos, Ortodoxos, Anglicanos e Luteranos.

Santos e santas de Deus. “Vieram da grande tribulação e lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”. (Apoc 7,14) São aquelas pessoas que levaram a sério e viveram com fidelidade uma das frases ditas por Santo Agostinho: “A medida do amor é amar sem medida”. A ideia de homenagear todos os santos e santas, teria começado por volta do século IV, na Antioquia, quando se recordavam os santos mártires no primeiro domingo após Pentecostes. Estima-se que no andar das primeiras comunidades cristãs, mais de seis mil pessoas foram assassinadas pelos romanos. Todavia, no ano 835 d.C., o Papa Gregório IV, dedicou o dia 1º de novembro a todos aqueles e aquelas que morreram pelas causas do Reino, mas não foram lembradas ao longo do ano, ou mesmo não foram reconhecidas como santos/as oficialmente pela Igreja Católica.

Há muitas pessoas que não foram beatificadas ou santificadas pela Igreja, mas que nem por isso, deixaram de ter a sua importância e significância na caminhada das comunidades, na fidelidade ao projeto do Reino de Jesus. São os santos e santas anônimos/as no meio de nós. Não é a “chancela da Igreja”, que as tornam mais santas. Pessoas que, irmanadas ao Deus da vida, intercedem por nós, para que consigamos desenvolver as nossas ações em sintonia com o esperançar de Deus na vida do povo. Algumas destas pessoas, ainda estão no meio de nós, dedicando suas vidas com fidelidade às palavras do Evangelho, mostrando-nos aquilo que nos disse Santa Teresa do Menino Jesus: “Jesus não exige de nós grandes ações, mas simplesmente entrega e gratidão”.

Enfim, vamos adentrando ao mês de novembro e caminhando para momentos litúrgicos significativos de nossa trajetória cristã. Atravessando o 308º dia, restando 58 outros mais, para findarmos esta etapa. Lembrando que, liturgicamente, no dia 24 de novembro, celebraremos a Festa de Cristo-Rei, iniciando assim um novo ciclo litúrgico (Ano C). Como a Igreja Católica celebra a solenidade dos amigos e amigas de Deus neste domingo (03), o Evangelho escolhido é o de Mateus (Mt 5,1-12a) Texto este que faz parte do “Sermão da Montanha”, que é um resumo de todos os ensinamentos de Jesus a respeito do Reino e da transformação que esse Reino produz das pessoas e da nova sociedade.

As Bem-Aventuras fazem parte do projeto do amor infindo de Deus. Elas trazem a síntese do projeto messiânico de Jesus. Nelas está o prenúncio da felicidade, porque proclamam a libertação das pessoas, e não o conformismo ou a indiferença. Nas falas de Jesus, Ele anuncia a vinda do Reino. Assim, as Bem-Aventuranças tornam presente no mundo a justiça que vem do coração do próprio Deus. Justiça para aqueles e aquelas que são inúteis, desprezados, excluídos e incômodos para uma estrutura de sociedade baseada no acúmulo da riqueza que explora, e no poder que oprime os empobrecidos.

É um projeto de alegria e vida feliz, como ficou explicito nas palavras de nosso Papa Francisco: “é o anúncio principal, de uma felicidade sem precedentes. As Bem-Aventuranças, a santidade, não é um programa de vida feito apenas de esforço e renúncia, mas é, sobretudo, a alegre descoberta de sermos filhos amados por Deus. Não é uma conquista humana, é um dom que recebemos: somos santos porque Deus, que é o Santo, vem habitar em nossas vidas. Por isso, somos bem-aventurados!” Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito”. Vivem angustiados, sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita. Esses pobres estão convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores podem acontecer, surgindo assim uma nova sociedade. Os que assim buscarmos o Reino de Deus, viveremos a felicidade maior do amor infindo de Deus. O Reino de Deus não consiste em levar pessoas para o céu, mas de transformar a vida no aqui e agora da história, na perspectiva harmônica do céu.

Luiz Cassio

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