Sábado da Segunda Semana do Tempo do Advento. Advento é tempo de esperançamento, mas também de preparação. Preparar a chegada do Deus Menino, que vem para anunciar a Boa Nova do Reino. Um tempo de espera militante, fazendo acontecer aqui e agora, os sinais que prefigurem o Reino. Deus, que abre espaço em nosso coração, para que possamos sonhar com Ele uma realidade nova, em que o amor possa desabrochar em nossos gestos e ações. Neste tempo do Advento, aproveitemos para rezar com o salmista: “Esteja sobre nós o teu amor, Senhor, assim como está em ti a nossa esperança”. (Sl 33,22)

Hoje celebramos a Memória de São João da Cruz, presbítero e doutor da Igreja. Nasceu em Fontiveros, província de Ávila, na Espanha, em 1542. Filho de família muito pobre. Conheceu santa Teresa de Jesus, que depois de fundar a Comunidade das Irmãs Carmelitas Descalças, fundou ele a comunidade dos Carmelitas Descalços. São João da Cruz, realizou a sua Páscoa em 14 dezembro de 1591, aos 49 anos. Foi canonizado no ano de 1726 e, em 1926, o papa Pio XI o declarou doutor da Igreja. Suas obras sobre a espiritualidade seguem nos encantando.

Depois de uma noite bastante chuvosa, rezei nos ares da manhã, adentrando o final de semana. Um clima bastante agradável, com o sol tirando folga. Uma semana bastante corrida, em que dividi o meu tempo entre consultas e exames. Depois que passamos dos 60, as limitações do corpo pedem passagem. Ficamos mais caros, é verdade, para cuidar da nossa saúde. O bom mesmo é saber e poder contar com a serenidade que vai aos poucos, ocupando espaço em nosso coração. Mais do que possuir as coisas, o importante é ser quem nós somos.

Hoje bateu uma saudade da terrinha, do meu Araguaia. Como diz a canção mineira: “não precisa ter um pontinho preto no mapa, mas quando a gente se afasta, coração pede pra voltar”. Se por lá estivesse, estaria rezando na companhia ancestral do poeta, místico, profeta Pedro. Estar diante de seu túmulo e beber da espiritualidade e da mística revolucionária de sua resistência teimosa, em sua vivência de radicalidade evangélica. Como ele mesmo traduzia em forma de versos: “Por meu Povo em luta, vivo. Com meu Povo em marcha, vou. Tenho fé de guerrilheiro, e amor de revolução”.

Profetismo que está presente na caminhada de fé do povo de Deus. O projeto libertador de Deus passa, necessariamente, pelos caminhos da profecia. Profeta é aquele que fala em nome de Deus, a verdade e as coisas de Deus. Muitos e muitas, profetas e profetizas, deram suas vidas, pelas causas do Reino, se fazendo mártires da caminhada. Como o profeta João, que os discípulos sintetizam a fala de Jesus no texto de hoje, referindo-se ao Precursor. João, não somente foi insistentemente rejeitado, como também teve a sua cabeça como prêmio, numa bandeja, satisfazendo os caprichos de um governante sanguinário. Ainda bem que sobre ele, Jesus havia dito: “Nenhum homem nascido de mulher é maior que João Batista”. (Mt 11.11)

Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (lc 4,24) A começar por Elias e todos os demais profetas e profetizas. Todos, aqueles e aquelas, que experimentaram fazer a experiência mais profunda do seguimento de Jesus, sofreram, e sofrem, na própria pele, as perseguições. Bem que Ele mesmo advertiu seus seguidores “Eles os entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por causa do meu nome”. (Mt 24,9) Que os ventos da profecia nos desinstalem e nos façam sair do comodismo e da indiferença alienada! “Não deixem cair a profecia!” (Dom Hélder Câmara)