Terça feira da Sétima Semana do Tempo. Entramos na última dezena do Mês Mariano. Liturgicamente, estamos retomando o Tempo Comum, que fora interrompido para adentrarmos o Período Quaresmal. Como estamos no Ano B, a liturgia nos reserva os textos do Evangelho de Marcos, um dos três Livros Sinóticos.
O Evangelho de Marcos é conhecido como “Evangelho Querigmático”. Ou seja, ele relata com profundidade o primeiro anúncio (querigma), apresentando Jesus principalmente como o Filho do Homem, o servo enviado por Deus, que viveu e deu a sua vida pelo Reino.
Em Marcos, Jesus não apenas falou do Reino, mas através da sua prática, realiza o projeto messiânico, segundo a vontade do Pai. Isto foi o bastante para entrar em conflito com uma concepção de Messias ligada aos esquemas de dominação da época. Tinha-se a ideia de que o Messias viria como rei triunfante, que libertaria a nação judaica do poderio romano, e faria Israel retomar o antigo esplendor dos tempos de Davi e Salomão.
Esta era também a ideia que os discípulos tinham a respeito de Jesus. Nenhum deles tinha a ideia de que Jesus, aquele a quem seguiam, terminasse a sua vida pendurado numa cruz. É justamente o contrário disso, que o texto da liturgia de hoje nos traz, com Jesus fazendo o anúncio da sua paixão: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão”. (Mc 9,31)
Jesus que estava ensinando os seus discípulos na periferia, na Galiléia, longe de Jerusalém, centro do poder político, econômico e religioso. Ele não queria que ficassem sabendo que estavam ali e o que Ele ensinava. Lembrando que, foi ali, naquela região, que Jesus desenvolveu a maior parte de seu ministério terreno. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, a região da Galileia chegou a ter 240 cidades e vilas, com um exército de aproximadamente 100 mil homens para resistir aos ataques dos romanos”.
Jesus falando de seu futuro, sua paixão, morte e ressurreição, e os discípulos disputando entre eles, quem seria o mais importante deles, na nova ordem criada por Ele. Jesus admite que tem de haver um “primeiro”, mas não à maneira da sociedade pensada por eles. Para o Mestre, o primeiro é aquele que está disposto a servir. Amar é servir e servir é amar. Quem serve, liberta-se do egoísmo, da prepotência, da vaidade de querer ser o primeiro e se faz último, como aquele que serve a todos, dando-se por amor, servindo.
“Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35) Esta é a máxima para aqueles e aquelas que se colocam na estrada com Jesus. Ser servidor e servidora das causas do Reino, nas causas dos pequenos, pobres e marginalizados. Esta é a dinâmica da missão dos que seguem a Jesus, que alguns padres e bispos carreiristas não entenderam ainda, pois se colocam como os primeiros a serem servidos pelos leigos em nossas comunidades, e os últimos que se preocupam em servir, contrariando assim os ensinamentos de Jesus.
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