Segunda feira da Trigésima Segunda Semana do Tempo Comum. A semana iniciando como terminou. Temperaturas altas, baixa umidade do ar, e intenso calor. Nada de chuvas em nossa região amazônica, para desespero do Araguaia e nosso. O nosso majestoso rio, segue mostrando as suas vísceras. Segundo os mais entendidos, estudiosos do meio ambiente, em 40 anos, este rio deixará de existir. Fico imaginando a situação dos ribeirinhos, pescadores, que tem a sua vida diretamente ligada ao Araguaia. Cantaremos a nossa canção, relembrando saudosamente o passado (?): “Araguaia, meu Araguaia, de mistérios e de temor. De cascatas e banzeiros. De matas e praias e campos e campos sem fim”.
No dia Mundial da Gentileza, 13 de novembro, faltam-nos este significativo adereço na conduta de muitos de nós para com a Mãe Natureza. Gentileza que o dicionário define como aquele sentimento que demonstra ou contém elegância. Que desperta empatia pela bondade de seus sentimentos e/ou pelos seus comportamentos. Gentileza de quem se encanta e sabe ser encantador. A gentileza seria o nosso primeiro passo para mudar-nos, para que assim possamos mudar o mundo, sendo gentis conosco mesmos. Quando se busca ser assim, até a alma fica mais leve. Como nos dizia o filósofo Platão: “A vida inteira precisamos de graça e gentileza”
A Teologia Popular está de luto. Morreu ontem aos 94 anos o Teólogo espanhol José María Castillo Sánchez (1929-2023). Sacerdote católico, escritor e teólogo, membro da Companhia de Jesus (Jesuita). Voltou para os braços do pai, da mesma forma que viveu, na simplicidade e humildade como sabia ser. Considerado o Pai da Teologia Popular, deixou-nos um legado indescritível nos seus muitos amigos e em tantas pessoas que se alimentaram das suas conferências e dos seus numerosos livros e até dos seus panfletos sobre Teologia Popular. Uma reflexão teológica profunda numa linguagem extremamente acessível, para as comunidades da periferia. Quem ainda não leu nenhum de seus escritos, recomendo um de seus livros mais recentes, “A Humanidade de Jesus”, 2017. “Sobra-nos religião e nos falta humanidade”, afirmava Castillo.
José Maria Castillo soube viver o poder humanista da experiência de fé. O poder libertador da fé. A fé possui um poder indescritível. Nosso bispo Pedro costumava nos dizer que “precisávamos retomar o poder subversivo e revolucionário da fé”. Esta é a fé que mora em nós e, muitas das vezes, deixamos estagnada dentro de nós, ou a usamos apenas para um devocionismo alienado e nada transformador das estruturas pessoais internas e da sociedade. Também os discípulos de Jesus, como nos mostra o Evangelho de hoje, tiveram dificuldade de manifestar esta fé, quando pedem ao Mestre: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5)
Não é o tamanho da fé que importa, mas a qualidade excepcional dela. Tanto que Jesus, na devolutiva aos seus seguidores mais próximos vai afirmar: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: Arranca-te daqui e planta-te no mar, e ela vos obedeceria”. (Lc 17,6) Ter fé é um ato de sair de nós mesmos para fazer a experiência de caminhar com Jesus. Não ter apenas fé n’Ele, mas ter a mesma fé d’Ele. A qualidade da fé se prova na capacidade de amar, perdoar e servir. Quem ama, sabe que possui uma fé inabalável. A fé se demonstra pela nossa capacidade de amar, remando contra a correnteza de uma sociedade estruturada na injustiça e no desamor. A fé da rebeldia salutar humana.
Quem tem fé sabe ser humano. O ser humanizado de Jesus mostrou-nos a sua convivência com o ser divinal de Deus. A essência da fé é movida pela humanidade, vivida na sua integralidade. Somente esta fé de unicidade com Deus, poderia ter dado a Jesus o poder revolucionário de sair da morte dolorosa, para abraçar definitivamente a vida plena na Ressurreição. “Tudo é possível para quem tem fé. (Mc 9,23) Quem tem fé está em sintonia com Deus e manifesta este estar junto d’Ele, através dos momentos que reservamos à oração. Sem nos esquecermos de que a oração exprime a união íntima com Deus e com o seu plano, porque Ele pode transformar todas as realidades, a começar da nossa realidade interior. Como assim resumiu o apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece”. (Filip 4,13)
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