Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Estamos trilhando o caminho daquele que é o penúltimo domingo deste período litúrgico. O domingo sempre é um dia especial. Para os cristãos é o momento de fazer a memória do Ressuscitado, pois foi num dia como este, que as mulheres receberam a primeira aparição do Cristo vivo. Momento de celebrar nas nossas comunidades, na alegria e na esperança de que Ele continua no meio de nós, como a Comunidade Mateana nos assegura através de uma das falas de Jesus: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”. (Mt 28,20) Ou seja, Jesus está vivo e sempre presente no meio da comunidade, como o “Emanuel”, o “Deus-conosco”.
Um domingo também especial porque estamos celebrando o VII Dia Mundial dos Pobres. Dia este pensado e articulado pelo Papa Francisco, no intuito da Igreja voltar todas as suas atenções para a realidade dos empobrecidos mundo afora. O tema escolhido para este ano é tirado de Tobias: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7) A conclusão deste versículo não foi citada, mas ela diz assim: “e Deus não afastará seu rosto de você”. A Igreja, vendo os pobres pela ótica da misericórdia de Deus para com os pequenos, pobres e marginalizados pelo sistema de exploração da sociedade, já denunciado pelo profeta Isaías (740 a 701 a.C.), que dizia: “Ai dos que inventam leis injustas […] para oprimirem os pobres” (Is 10,12)
“Há ricos cada vez mais ricos, às custas de pobres cada vez mais pobres”, profetizou também a Conferência Episcopal de Medellín, na Colômbia (1968), consolidado este pensamento em Puebla, no México (1979). Os pobres são sacramento vivo da presença de Jesus no meio de nós. Olhar para os pobres com a misericórdia e a amorosidade de Deus, é ser Igreja com eles e para eles, buscando um caminho de libertação. Pobres com os pobres e para os pobres, eis o desafio profético de uma Igreja em Saída, que se alia a proposta do Papa Francisco, saciando a fome, mas também ajudando os pobres a pensar, na perspectiva de Paulo Freire: “O sistema não teme o pobre que tem fome. Teme o pobre que sabe pensar”. Pensar o mundo de libertação de todas as formas de exploração.
“Os pobres não são pessoas externas à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social”, conclama-nos Francisco. Evidente que numa Igreja sacramentalista, conservadora e clerical como estamos vendo nos dias atuais, a realidade de sofrimento dos pobres, pouco lhes diz respeito, apesar do clamor deles e das exigências do Evangelho: “Eu garanto a vocês, todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt 25,40). Quanto aos clericais, o Papa foi bastante veemente ao dizer: “o clericalismo é uma perversão da Igreja”.
Neste domingo continuamos no clima escatológico dos domingos anteriores. Escatologia como linguagem acerca do tempo vindouro (final dos tempos), trazendo toda a simbologia presente na compreensão apocalíptica. Nada que amedronte ou assuste os interlocutores de Jesus, mas um aprendizado quanto à necessidade de estarmos sempre prontos, vigilantes e preparados para encarar a realidade futurista, que não sabemos o dia nem a hora. Os talentos já nos foram dados por Deus, para que possamos assim trabalhar pelo Reino, sendo instrumentos nas mãos de Deus. Cada qual com o seu. Nenhum de nós está desprovido deles. Todavia, estes talentos devem ser colocados a serviço do Reino.
Paulo, um dos fieis seguidores de Jesus, soube traduzir de forma muito simples os dons que recebemos de Deus: “Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos”. (1Cor 12,4-6) Cada pessoa na comunidade recebe um dom, ou melhor, é um dom para o bem de todos. Por isso, cada um, sendo o que é, e fazendo o que pode, age para o bem da comunidade, colocando-se a serviço de todos como dom gratuito. O que fazemos com os dons recebidos, terá efeitos futuros, quando o que nos foi confiado por Deus for por Ele cobrado. Você já pensou nos dons que recebeu de Deus? O que tem feito com eles, afinal? Escondeu, como fez um dos funcionários do patrão da parábola de hoje? Você repartiu e o fez crescer, ou o escondeu das pessoas? Devemos estar certos de que, no julgamento, Ele pedirá contas por esse dom.
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