Sábado da Quinta Semana da Quaresma. Estamos a um passo de iniciar mais uma Semana Santa. De olho não conversão que precisamos assumir como projeto de vida. Conversão não é mudar de religião, como alguns chegam a pensar. Também não é aderir a este ou aquele “influencer”, seguindo-o nas redes digitais. Conversão não é restringir a sua fé apenas às devoções, ritos e dogmas, estando presente nos espaços dos templos. Converter é assumir uma nova postura de vida que seja regada pela coerência e pela fidelidade no seguimento de Jesus de Nazaré. Para que possamos acreditar no Cristo da fé (pós-pascal), é preciso antes conhecer o Jesus Histórico e sua perambulação entre os mais necessitados de cuidados, comprometido com as suas causas.

Neste final de semana, o ciclo litúrgico dá um salto. Com a Solenidade do Domingo de Ramos, damos entrada na semana que encerra com a maior festa da cristandade: Páscoa – a Ressurreição de Jesus. Todo o calendário litúrgico está voltado para este momento singular da fé cristã. A Ressurreição de Jesus abre um precedente na história da humanidade, sendo a porta de entrada para todos aqueles que aderirem ao projeto libertador de Deus, anunciado e vivido por Jesus de Nazaré. Pelo menos é desta forma que o evangelista João narra uma das falas de Jesus, diante de uma família amiga: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá”. (Jo 11,25-26) A morte não tem a última palavra, mas a vida que renasce. Para os que creem, morrer não é o fim, mas o (re) começo de tudo; a possibilidade de estar presente no colo do Pai.

Conforme o Plano do Pai, Jesus se apresenta como a Ressurreição e a vida, mostrando que a morte é apenas uma necessidade física limitada pela condição humana. Ao descer da cruz e Ressuscitar o seu Filho amado, Deus está nos dizendo que a morte foi vencida pela vida, não tendo ela, portanto, a última palavra, prefigurando toda a história da criação: Deus nos cria para a plenitude da vida. Para a fé cristã, a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude total. Em outras palavras, a vida plena da Ressurreição já está presente naqueles que fazem a sua adesão pelo seguimento concreto de Jesus de Nazaré, abraçando a cruz do sofrimento dos empobrecidos. “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou Cristo dos mortos dará a vida também para os corpos mortais de vocês, por meio do seu Espírito que habita em vocês”. (Rm 8,11)

Nosso bispo Pedro sempre nos alertava com estas palavras muito lúcidas e carregadas de significado. Dizia ele: “Sempre foi e sempre será um risco a entrega total da própria vida às grandes causas da justiça, da fraternidade, da paz. Nós, os cristãos, sabemos por que Jesus acabou crucificado”. A opção de vida de Jesus o levou à cruz. Os sinais que Ele realizava, davam testemunho d’Ele, mas também o credenciava para entrar na fila daqueles que seriam perseguidos, injuriados e mortos pela classe dirigente dominante de sua época. Jesus era um perigo iminente e tinha que ser combatido, pois ameaçava a vida e a estrutura de organização daquela sociedade. Entretanto, Ele sabia disso, tanto que não amenizou na sua postura de falar e viver a verdade. A sua vida se complica porque, além de anunciar a sua mensagem, Ele também realizava os sinais de libertação do povo oprimido, como podemos ver no texto que a liturgia nos preparou para o dia de hoje: as consequências da ressurreição de Lázaro.

Marta, Maria e Lázaro, era uma família muito amiga de Jesus de Betânia. Volta e meia, Ele passava por ali. Numa destas passagens, foi diante de um acontecimento trágico para aquela família: Lázaro havia morrido. A queixa principal das meninas, era a de que, se Jesus tivesse estado ali antes, o irmão delas não teria morrido. Contudo, esta cena oportuniza Jesus fazer uma das afirmações mais impactantes de todo o Novo Testamento, que é a confirmação de que todos os que estiverem com Ele não morreriam jamais, assim como Ele vive e está presente no meio de todos nós. É um de nós na figura do Emanuel – Deus conosco. O texto joanino de hoje repercute está ação de ressuscitar o amigo Lázaro.

Se por um lado, alguns creram em Jesus, diante daquilo que Ele realizara junto da família de Marta e Maria, outros porem, foram fofocar para os fariseus, que Jesus ainda continuava fazendo das suas. Dai surge a grande preocupação diante da ameaça que se chamava Jesus: “O que faremos? Este homem realiza muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação”. (Jo 11,47-48) O perigoso e subversivo Jesus se transformara numa ameaça nacional. Lutar, defender e promover a vida e a liberdade das pessoas é intolerável para um sistema opressor que gera a morte. As autoridades disfarçam sua oposição a Jesus com a desculpa de que o bem da nação está em jogo. Apelam para a segurança nacional. O Sumo Sacerdote judaico Caifás, apresenta a solução de que Jesus deve morrer em nome dos superiores interesses da nação. Matando a Jesus, o sistema opressor se autodenuncia e destrói a si mesmo, abrindo a possibilidade da vida e liberdade para todos e todas, já que Jesus morrerá por todos e ressuscitara, tornando assim a essência da vida e fé cristã.