Terça feira da Primeira Semana da Quaresma. Estamos andando hoje o sétimo passo dos quarenta que teremos pela frente. Na Quaresma temos o compromisso de repensar a nossa vida cristã à luz da Palavra de Deus, refletindo na tríplice dimensão: oração, jejum e a solidariedade (“caridade”). Durante este período quaresmal, somos convidados a colocar a nossa vida no centro destas três dimensões, para estarmos em sintonia com o Projeto de Deus revelado por Jesus de Nazaré. A oração tem o proposito de fortalecer a nossa conexão com Deus; o jejum simboliza o controle sobre as necessidades essenciais para viver; e a solidariedade quer expressar a compaixão e a misericórdia em gestos concretos de amor para com os mais necessitados.
Necessidades todos nós as temos! Uns mais, outros menos! Por falar em necessidades, neste dia 20 de fevereiro, comemoramos o Dia Mundial da Justiça Social. Esta data foi pensada e criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 26 de novembro de 2007, através da Resolução A/RES/62/10. O objetivo primeiro desta importante data foi, exatamente, reforçar e fortalecer-nos nas lutas contra a pobreza, a exclusão, o preconceito, desemprego, falta de moradia, no intuito de uma busca do desenvolvimento social dos países, sobretudo os mais pobres. O objetivo principal é alcançar a justiça social, promovendo uma convivência pacífica e saudável entre as nações, eliminando as barreiras do preconceito, da discriminação, seja por motivos de raça, etnia, religião, idade ou cultura.
Rezar, refletir, meditar e nos posicionarmos com a Campanha da Fraternidade, como nos propõe a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): “Fraternidade e amizade social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8). Rezar em sintonia com Deus e também com a realidade que nos cerca, cuja beleza da fraternidade humana esteja aberta a todos e todas, para além dos nossos gostos, afetos e preferências, em um caminho de verdadeira penitência e conversão. Converter é abrir o coração para Deus e também ao outro que caminha na mesma estrada que nós. Como os vértices da cruz de Jesus, que aponta para o vertical do amor absoluto e infinito de Deus, mas também para o horizonte das vidas dos irmãos e irmãs nossos. Um completa o outro e ambos se fazem comunhão e participação.
Oração pessoal da nossa intimidade com Deus. Deixarmo-nos sermos seduzidos pela presença d’Ele em nós. Oração da comunidade: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles”. (Mt 18,20) Reunida em nome e no espírito de Jesus, a comunidade tem o poder de incluir e não de excluir, quem quer que seja, muito menos o pecador. Oração de Jesus. Ele que também reservava momentos para estar a sós com Deus, muito embora, não necessitasse, pois como Ele mesmo havia dito: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30) Suas ações comprovam que é Deus mesmo quem age n’Ele. Jesus rezava e provocava os discípulos que não conseguiam fazer o mesmo que Ele. Foi por isso que no dia de hoje, o texto de Mateus nos mostra, Jesus ensinando os seus, a forma como eles deveriam rezar.
A perícope do Evangelho de hoje (Mt 6,7-15), também aparece no Evangelho de Lucas (Lc 11,1-4), com uma diferença fundamental. Neste último, os discípulos pedem a Jesus que também os ensine a rezar: “Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos pediu: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele”. (Lc 11,1) Era comum os mestres, transmitirem conhecimentos, saberes e também orações aos seus seguidores, inclusive como foi o caso da comunidade de Joao Batista. Rezando e transmitindo o resumo da própria mensagem em forma de oração.
Como veem o tema central da nossa reflexão de hoje é a oração. Mateus aproveita o tema da oração para inserir a oração do “Pai-nosso”, ensinada por Jesus, contrapondo a oração cristã à oração dos fariseus e dos pagãos. O Pai é “nosso!” O Pão é “nosso!” O perdão é “nosso!” Para um bom entendedor da língua portuguesa, tudo aqui está conjugado na primeira pessoa do plural. Na oração do “Pai Nosso”, está contida a nossa simplicidade e intimidade com Deus. Na primeira parte dela, pedimos que Deus manifeste o seu projeto de libertação e salvação; na segunda, pedimos o essencial para termos vida com dignidade, segundo o projeto de Deus: pão para o sustento, bom relacionamento com os irmãos/irmãs e perseverança até o fim. O Pai é nosso! O pão é nosso! O perdão, a misericórdia, o amor, a compaixão, tem que ser nossos. A medida de Deus para conosco é a mesma medida que teremos com os nossos no aqui e agora de nossa história. Que a Mãe seja a nossa mediadora nas horas mais difíceis!
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