Chegou o dia combinado. Nada mais do que a vontade de estarmos juntos com uns amigos conquistados na rua e desertores de seus lares por decepção e tristeza.
“Alegra-te, Mariazinha! Agraciada és entre todas as mulheres! (Lc.1, 26 ).
“O Senhor fez em mim maravinhas”, cantou Maria, em
nome dos pobres e esquecidos, maltratados e feridos na vida. Estes caminham com ela e conosco e os desprezamos. Indiferentes passamos por eles, quase sempre os julgando preguiçosos, viciados e aproveitadores sem vergonha de pedir.
Nossa ceia vespertina não aconteceu num banco de cimento, feito mesa, que mais tarde será cama nesses dias de chuva e umidade noturna. A chuva “atrapalhou” planejado.
Difícil imaginar um “sono de justo” numa noite de desassossego com voos rasantes de morcego e os apitos distantes vindos dos vigias das casas!
Mas assim dormem nossos amigos que ainda teimam em cantar, esperar o amanhecer, dividir a pouca cachaça e recomeçar o dia.
Nessa ceia seríamos uns quatro.
Tinha na mochila um pequeno presépio rústico para começar a conversar sobre Jesus e o seu nascimento no frio e com o cheiro de curral.
Planejávamos rezar uma parte da Novena do Natal e anunciar a alegria dos anjos e dos pastores, cabendo a cada um sino na mão para dar uma volta na praça.
Depois, íamos badalar anunciando o Natal, Jesus nascido, crescido, morto e ressuscitado vivendo no meio dos pobres.
Esperei que chegassem para se aquietarem na parte de fora da quadra de esporte, que o telhado impede um pouco a chuva. Quadra que descobri onde a vizinhaça permite que usem o banheiro. Onde será que lavam as roupas? Se alguém os ajuda, vou saber.
Escurecia e já estava sem chuva, os meus convidados não chegavam. Resolvi entregar o frango assado, a farrofa e arroz que eu trouxe mais adiante e guardar um outro frango para o almoço do dia seguinte e procurar saber do desaparecimento.
Meu plano B seria levar para meu amigo sucateiro criativo.
Fui até ele, que arranjou uma moradora de rua para viver e não o encontrei. Deixei a sacola para encontarem e desapareci.
“O Senhor ergue do pó o homem fraco, e do lixo retira o indigente, para fazê-los assentar-se num lugar de muita honra e distinção” (Samuel)
O Natal afervora essa ESPERANÇA. “VEM, SENHOR JESUS!”
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