Tempo Comum. Estamos chegando ao segundo final de semana deste mês de julho, que a Igreja Católica dedica ao Sangue de Jesus, derramado na cruz como o “preço da nossa salvação”. Sangue do martírio que marcou profundamente a vida de Jesus de Nazaré e de todos aqueles e aquelas que fizeram e fazem a sua opção pelo seguimento do Mestre, na radicalidade do Evangelho. Mais do que um devocionismo piegas, o sangue dos Mártires da Caminhada, testemunham a luta pela construção e edificação do Reino de Deus. Como escreveu nosso bispo Pedro em sua Carta Aberta aos Nossos Mártires: “Vocês lavaram as vestes de seus compromissos no sangue do Cordeiro. O seu sangue no sangue d’Ele continua a lavar também nossos sonhos, nossas fragilidades e nossos fracassos”.

Fiz a minha vigília matinal neste dia ao lado dele, naquele “santuário”, em que estão depositados os restos mortais do profeta dos pobres do “Vale dos Esquecidos”. Era assim que era chamada esta região desde antes da chegada de Pedro por aqui (1968). A Prelazia foi criada em 13 de maio de 1969 e, em 1971, pelas mãos de Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia; de Dom Tomás Balduíno, OP; e Dom Juvenal Roriz, CSSR, Pedro é sagrado bispo e assume esta Prelazia. Foi assim até 2005, quando atingiu a idade de 75 anos, renunciando e se tornando emérito, depois que o Papa João Paulo II, em 2 de fevereiro de 2005, avaliou e aceitou seu pedido de renúncia. Como a um monge, contemplei aquele amanhecer na presença de nosso profeta, fazendo coro às centenas de pássaros que salmodiavam o dia, fazendo respingar em mim o aroma do pequizeiro em flor.

“Uma vida para humanizar a humanidade”, este era o lema principal do pastoreio de Pedro à frente desta “Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social”, conforme rege a Primeira Carta Pastoral da Prelazia. Um legado muito forte e que nos cabem levar adiante, seguindo nas mesmas pegadas de Jesus de Nazaré, a quem Pedro se referia como “a testemunha fiel”. Ser com Ele, para Ele, nas causas d’Ele, ao lado da Mãe, a “comadre de Nazaré”. Tudo pelo Reino! Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! Imbuídos da mesma coragem de Pedro, sentimo-nos na obrigação de transformar as nossas vidas em sementeiras do Reino, fazendo com que as nossas “causas valham mais que as nossas vidas”, na opção primeira pelos pequenos: com eles, para eles, junto deles.

“Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem fiquem apavorados por causa delas, pois o Senhor, o seu Deus, vai com vocês; nunca os deixará, nunca os abandonará”. (Dt 31,6) Foi assim que Deus encorajou as lideranças de Israel na condução do povo à terra da liberdade e da vida. É esta mesma coragem que Jesus infunde em seus discípulos para que eles e elas possam dar prosseguimento na mesma missão d’Ele. Por diversas vezes Jesus repete a frase “não temais!”; “coragem!” Centenas de vezes, esta expressão aparece no Novo Testamento, no sentido de fazer com que o discipulado de Jesus, seja fiel e perseverante, na missão de anunciar o Reino.

“O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor”. (Mt 10,24) Jesus prepara os seus discípulos e seguidores para serem como Ele é. Ele, como Mestre e Senhor, ensina o caminho da perseverança nas ações de libertação. O Mestre está acima do discipulado e se faz um com eles, nas ações deles de cada dia. Lembrando que a missão é dirigida pelo Espírito de Deus. Por isso, os discípulos perseveram até o fim, sem temor nem aflição, seguros da plena manifestação de Jesus, Senhor e Juiz da história. Sendo assim, o discipulado não deve ter medo, porque a missão se baseia na verdade, que põe a descoberto toda a mentira de um sistema social que não mostra a sua verdadeira face. Os homens podem até matar o corpo dos discípulos e discípulas, mas não conseguirão tirar-lhes a vida, pois é Deus quem dá e conserva ou tira a vida para sempre. A segurança do discípulo está na promessa: quem é fiel a Jesus, terá Jesus a seu favor diante de Deus.

“Não tenhais medo! (Mt 10,31) São muitas as exigências da missão, podendo incluir a perseguição e até a morte, como vimos no texto do Evangelho de ontem. Hoje, no “Sermão da Missão”, Jesus introduz a expressão “Não temais!” Um convite a não ter medo (vv. 26.28.31), seguido das razões pelas quais a confiança deve sempre prevalecer. Os discípulos de Jesus são encorajados à ousadia do anúncio. Anunciar o Reino e fazê-lo acontecer nas ações que forem sendo desencadeadas. O tempo é de semeadura e cultivar a terra, para que a semente brote, transformando a realidade de opressão e morte dos pequenos. Quem sabe, revestindo-nos do mesmo espirito da coragem profética de Isaías: “Não tenha medo, pois eu estou com você. Não precisa olhar com desconfiança, pois eu sou o seu Deus. Eu fortaleço você, eu o ajudo e o sustento com minha justiça vitoriosa”. (Is 41,10)