Segunda feira da Terceira Semana do Tempo Comum.
A semana só está começando e temos motivos de sobra para a indignação e o descontentamento. Tudo por causa da situação que ora vive o Povo Yanomami. Não bastasse a maior taxa de mortalidade infantil entre todas as comunidades indígenas, eles estão vivendo uma situação de verdadeiro massacre de seu povo. Estima-se que cerca de vinte mil garimpeiros invadiram o território Yanomami, a maior reserva indígena do país, provocando um rastro de destruição, doenças e mortes, tudo com o descaso e omissão do poder público, agravados no governo anterior.
Como todos os povos indígenas do Brasil, o que mais anseiam é viver em paz em seus territórios, livres da presença vil e gananciosa de seus invasores. Diferentemente dos latifundiários, grileiros e exploradores da terra, os povos indígenas mantém uma relação profunda com a terra, de forma espiritual e ancestral. Sem a sua terra, não há vida para eles. Sua relação com a terra não é de exploração para lucrar, mas apenas para alimentar o seu povo, manter a sua cultura, preservando suas tradições e saberes ancestrais milenares. A terra para eles não é um bem de capital, mas o espaço cultural sagrado de convivência mútua entre todos os que ali habitam. O povo Yanomami quer viver!
Comecei a minha semana visitando o espaço sagrado onde está sepultado o nosso guerreiro, guardião dos povos indígenas. Defensor intransigente das causas indígenas, Pedro se aqui estivesse com a sua presença física, manifestaria veementemente contra o massacre do povo Yanomami. Evangelicamente ele nos ensinou que pelos povos indígenas se vale a vida doada pelas suas causas, como bem expressou em um de seus poemas: “Ser o que se é. Falar o que se crê. Crer no que se prega. Viver o que se proclama. Até as últimas consequências”. Na brisa leve da manhã prenunciando o dia, rezei em sua companhia, refletindo em cada letra deste poema, tentando fazer de mim, vida doada pelas mesmas causas do Mestre Galileu em meio aos povos indígenas.
Rezei também em sintonia com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O maior Movimento Social do mundo, mais uma vez resolveu fazer mais uma de suas peripécias. Neste último sábado (21), tomou a decisão de enviar médicos e alimentos agroecológicos para ajudar na crise humanitária que aflige os indígenas Yanomami, em Roraima. Depois de distribuir mais de 7 mil toneladas de alimentos durante a pandemia, o MST se faz solidário mais uma vez aos mais pobres. Por outro lado, o “Agro veneno”, sequer foi capaz de doar um mísero centavo a quem quer que fosse, apesar de seus volumosos lucros fartos doentios. O agro é morte, é lucro e ambição!
Iniciamos uma semana em que a liturgia deste dia nos traz Jesus em mais um confronto com os mestres da Lei. Desta vez, estes “o acusam de estar possuído por Beelzebul, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios”. (Mc 3,22) Tudo isso porque Jesus nao somente ensinava as pessoas, mas também realizava atos de libertação delas, sobretudo das doenças que eram acometidas. Jesus fala e faz o bem. Diferentemente das lideranças religiosas daquele tempo que apenas manipulavam, exploravam e marginalizavam os mais pobres. Tudo em nome da religião do templo, contrariando todos os anseios de Deus para com os pequenos. A centralidade do Evangelho é a vida dos pobres e indefesos. Desta forma, a opção pelos empobrecidos, para os cristãos, é a mesma opção para o Reino de Deus neste mundo estruturalmente subjugado pelo anti-reino, neste mundo de Deus manipulado e maltratado.
Jesus é o Filho de Deus. N’Ele está presente a força divina do Espírito Santo, que o leva à missão de libertar e desalienar as pessoas. Anuncia e faz acontecer o Projeto Salvador de Deus. Ele faz as pessoas enxergarem a realidade com os seus próprios olhos e a se libertarem de todas as formas de escravidão. Por isso ele é acusado de estar “possuído por um espírito mau.” Na concepção de Deus, tal acusação é pecado sem perdão. Para os mestres da Lei, acusadores de Jesus, o bem é mal, e o mal é bem. Eles estão comprometidos e tiram proveito do mal; por isso, não reconhecem e não aceitam Jesus e vão tramar a sua morte.
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