Sábado da Oitava do Natal. O último final de semana do ano, cruzando o nosso itinerário cronológico. Três dias mais, e bateremos às portas do ano vindouro. O tempo não para! Nós é que devemos, ir nos adequando, ao seu ritmo e compasso das horas, buscando estarmos em sintonia com o Bem Viver. Manter sempre a consciência aberta e interativa para a luta permanente, por um mundo mais justo, igual e fraterno, dominado pelas coordenadas do amor solidário
Amor solidário que sobra numa pessoa a quem devotamos toda nosso carinho, estima e consideração. No dia de ontem, 27 de dezembro, o Padre Júlio Renato Lancellotti, completou 76 primaveras. Muitas delas dedicadas a colher as flores na vida das pessoas em situação de rua, na cidade de São Paulo. Ele que é considerado o anjo da guarda daquelas pessoas, que tem no Padre Júlio, o grande defensor de suas causas, ainda que ele insista em dizer, com todas as letras: “Eu não luto pra vencer. Sei que vou perder. Luto pra ser fiel até o fim”.
“Lutar e crer, vencer a dor! Louvar o Criador! Justiça e paz hão de reinar! E viva o amor!” Rezei nesta manhã, respirando os ares de Campinas, me lembrando deste verso do Cancioneiro das CEBs, que muito animou e anima as nossas comunidades na caminhada de luta. A luta é uma constante para aqueles e aquelas que não fazem da fé, apenas um escudo, para se afastarem do compromisso com as causas do Reino. A fé se prova na luta, e não no esconderijo da consciência tranquila da indiferença.
Alegria das festas natalinas, mas também tristeza pelo dia que celebramos hoje: Dia dos Santos Mártires Inocentes. O texto do Evangelho de hoje, faz referência às crianças inocentes, assassinadas pelo rei Herodes que “mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo” (Mt 2, 16). Tudo, no intuito de matar Jesus, que era uma criança que fazia parte daquela faixa etária, obrigando seus pais a refugiarem-se no Egito. Tudo moldado, segundo a intervenção divina, com a participação decisiva do casal de Nazaré.
Herodes, o Grande, era o rei da Judeia, na época em que Jesus nasceu. O episódio brutal do massacre das crianças inocentes, do texto de hoje, narrado por Mateus, o tornou bastante conhecido em Belém. Herodes era um idumeu convertido ao Judaísmo. Não sendo israelita, ele não tinha nenhum direito ao trono, mas, com a ajuda do império romano, conquistou o poder em 37 a.C. Governou por cerca de três décadas. A sede de seu reino ficava na Judéia e seu domínio abrangia algumas das regiões vizinhas.
Nascido pobre, filho de família pobre e sem ter lugar para nascer, Jesus, desde os primeiros anos de sua infância, fez a experiência de um refugiado. Sem voz, sem vez e sem lugar, foi perseguido desde os seus primeiros passos no meio de nós. Seus pais não tiveram vida fácil, e o menino cresceu sabendo que sua missão, era a de remar contra a correnteza dos grandes no poder. Herodes via aquele simples menino como uma grande ameaça ao seu poder, por saber que Jesus era um personagem importante na história de Israel. Sua vida e morte teriam um impacto significativo na história do povo judeu.
Este texto de Mateus, que a liturgia nos possibilita refletir, nos mostra que o lugar da Terra Prometida tornou-se o novo Egito, lugar de opressão. Mateus apresenta o significado da vida e ação de Jesus: ele será o novo Moisés. Vai liderar o processo de libertação das estruturas que oprimem e escravizam, simbolizadas pela Judéia e Jerusalém. A Galiléia, terra dos pagãos, será o ponto de partida para esse novo êxodo que Jesus realizará através do seu ensinamento e atividade messiânica.
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