Sábado da Décima Sétima Semana do Tempo Comum. Estamos adentrando o primeiro final de semana do mês de agosto. Se para a Igreja Católica, agosto é o mês celebrativo das vocações, no conceito popular, este é o mês de “cachorro louco”. Fui pesquisar o porquê e deparei com a curiosa explicação. Devido às condições climáticas desta época do ano, este é o período em que as cadelas mais entram no cio. Sendo assim, há um aumento no clima de euforia dos machos, tornando-os agressivos diante da cadela no cio, na disputa de quem será o privilegiado da vez, que se acasalará com elas, provocando brigas, mordidas e arranhões. Daí a explicação “mês de cachorro louco”.

Entre os humanos não deveria ser assim: sobra desejo e falta amor, sentimento que vem de dentro. Como a Bíblia é o livro de cabeceira daqueles e daquelas que desejam fazer uma experiência de fé mais profunda, ali podemos observar que do começo ao fim dela, o amor é citado como o grande mandamento e algo a ser vivido/praticado por todos os que buscam fazer parte do grupo de Jesus de Nazaré. Sim, porque o relato bíblico enxerga o amor como a principal virtude entre todas as relações humanas e extra-humanas. Ele é o valor maior e mais importante, intrínseco entre os humanos e entre Deus e suas criaturas. Tudo porque, o amor é um dos atributos de Deus, algo que faz parte de seu Ser Divino, e que podemos conhecer experimentá-lo em formato de Dom de Deus a nós: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. (1 Jo 4,7-8)

O centro da vida é a prática do amor. Amor que faltou ao coração do governador Herodes Antipas, tetrarca da Galileia e Pereia entre os anos 4 a.C. a 39 d.C. No “banquete dos poderosos”, celebrou ele em família, a morte do profeta precursor, tendo sua cabeça festejada numa bandeja no salão. O martírio do profeta derramando seu sangue, satisfazendo o desejo da família. Herodes temia uma rebelião popular, pois o profetismo de João não se acovardou diante da imoralidade dos poderosos, denunciando os valores éticos e morais, de um governante sem escrúpulos e que se esconde atrás do poder. João, pelo contrário, fala a verdade nua e crua, pois o seu fundamento é o amor de Deus que ele traz em si como projeto de vida.

Este é contexto a que fomos inseridos, e que a liturgia de hoje nos faz refletir. O texto de Mateus, tem o seu paralelo no Evangelho de Marcos 6, 14-29. O primeiro é até mais ameno no seu relato, diferentemente de Marcos que apresenta um quadro de crueldades, praticadas pelo imperador à pessoa do último profeta do Antigo Testamento, e que abre o horizonte da Nova Aliança. Já o relato de Mateus sobre o martírio de João Baptista, baseia-se na história, pois se trata de um acontecimento datado no tempo de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande.

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque é deles o reino dos céus! (Mt 5,10) As perseguições são inevitáveis para quem anuncia a verdade e se colocam do lado da justiça. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Assim como o amor, a verdade também incomoda, porque exige discernimento e tomada de posição. Implica renúncia aos próprios interesses pessoais egoístas, e exige abertura aos outros. João sabia que a sua vida estava correndo riscos, mas mesmo assim, não se intimida e nem se cala diante do opressor.

A morte brutal de João Batista prenuncia a morte de Jesus. Os compromissos que obrigaram Herodes a cortar a cabeça do Precursor vão levar adiante o seu projeto de poder e, com muito maior razão, político astuto e negociador que era, se juntará às demais autoridades, inclusive religiosas para tramar a morte de Jesus. Tudo porque, tanto João como Jesus, colocam em perigo os princípios éticos, morais e religiosos vigentes. A morte de João acontece dentro de um banquete de poderosos. Assim, o profeta que pregava o início de transformação radical é morto por aqueles que se sentem incomodados com essa transformação. Depois da prisão e morte de João. Jesus dá início à sua atividade messiânica: “Depois que João Batista foi preso, Jesus voltou para a Galileia, pregando a Boa Notícia de Deus”. (Mc 1,14). Tudo pelo Reino! É hora de agir. O Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical da situação injusta que domina as pessoas. Está próximo: o Reino é dinâmico e está sempre crescendo. João cumpriu a sua missão: deu a vida pelo Reino. Em Jesus somos vida pela vida. Vidas pelo Reino. Profetas de ontem e de hoje que derramam o seu sangue pelas vidas que se fazem no e pelo Reino.