25º Domingo do Tempo Comum. Um domingo abençoado, já que no dia de hoje ele está recebendo a primavera, que mais uma vez, vem até nós, devolvendo-nos a esperança e nos dizendo que a vida pede passagem. Bem que os ipês, com as suas multicores, já anunciavam, que ela viria neste 266º dia do ano. Exatos outros 100 dias nos colocarão dentro do ano vindouro. Neste clima primaveril, que possamos abrir o nosso espírito e saibamos viver com intensidade, novos recomeços em nossa história de vida, recriando e fortalecendo as relações de irmãos e irmãs que queremos e devemos ser.
Domingo é o dia da alegria! Domingo é o Dia do Senhor! Dia para conviver mais de perto com as pessoas que amamos, deixando um pouco de lado a faina mecanicista diária. Dia em que podemos reservar momentos para nós mesmos, no cuidado que devemos ter com o nosso ser. Cuidar do outro é cuidar de nós mesmos. Cuidar de si mesmo é a base fundamental para que possamos alcançar a plenitude da vida, nas conquistas que vamos conseguindo, objetivando assim o sonho de Deus para nós. Se assim o fizermos, estamos também dentro da pedagogia de Jesus quando Ele nos diz: “Ame ao seu próximo como a si mesmo”. (Mt 22,39) Relação de de fraternidade e não de opressão ou submissão.
Um domingo em que a Liturgia Católica, possibilita a nossa reflexão, com o texto do Evangelho de Marcos 9, 30-37. Nele, Jesus e seus discípulos estão atravessando a Galileia rumo à Jerusalém. Lá, Ele sabe que irá morrer. Por este motivo, aproveita para fazer o segundo anúncio de sua paixão: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará” (Mc 9, 31) Todavia, enquanto Jesus fala de seu futuro, nas mãos das autoridades religiosas e politicas, seus discípulos estavam disputando entre si, qual deles seria o maior, no Reino instaurado pelo Mestre deles.
Os discípulos ainda concebiam a ideia de um rei triunfalista, que viria na pessoa de Jesus, para restaurar a liberdade dos judeus, sob o poder do Império Romano. Percebendo o clima de disputa entre os seus seguidores, Jesus vai ao âmago da proposta do Reino e fala às claras: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35) Os discípulos não compreendem as consequências que a ação de Jesus vai provocar, pois ainda concebem uma sociedade onde existem diferenças de grandeza. Jesus mostra-lhes que a grandeza da nova sociedade não se baseia na riqueza, no prestígio, no privilégio e no poder, mas no serviço sem pretensões e interesses.
Entra em cena a criança. Jesus faz questão de trazer para o centro das discussões uma criança. Na sociedade do tempo de Jesus, na tradição religiosa, havia uma divisão social entre publicanos, considerados pecadores, da parte do mal, ímpios e impuros; e, de outro, os que eram considerados justos, abençoados, piedosos e puros. Dentre os considerados da parte do mal, amaldiçoados, estavam mulheres e crianças, consideradas “pessoas impuras”, num estado permanente de impureza; tocar nelas significava contrair impureza.
Entretanto, com Jesus é diferente. Sua pedagogia é a mesma pedagogia libertadora de Deus, que acolhe, toca, abraça, os inclui e os faz participantes, em vez de rejeitar, marginalizar e excluir. Em todos os Evangelhos vemos que Jesus assumiu publicamente a causa das crianças, inclusive encontrando-se com elas, como podemos ver: a filha de Jairo, de 12 anos (Mc 5,41-42), a filha da mulher cananeia (Mc 7,29-30), o filho da viúva de Naim (Lc 7,14-15); o menino epilético (Mc 9,25-26); o filho do centurião romano ( Lc 7,9-10); o filho do funcionário público (Jo 4,50); o menino dos cinco pães e dois peixes (Jo,6,9). Jesus, não somente com elas encontra, mas diz claramente para os seus interlocutores: que o Reino de Deus pertence a elas.
Ser como as crianças: simples, humildes, inocentes, desarmadas e amorosas. Este é o desafio que nos é colocado por Jesus, se quisermos fazer parte de seu discipulado e adentrar o Reino de Deus. Todos e cada um de nós, temos dentro de nós a criança que fomos um dia. Quem não se recorda dos momentos de criança, na convivência alegre e feliz no seio familiar dos seus? Deixar que a nossa criança interior, tome conta das nossas ações, atitudes e pensamentos, é o desafio que nos é colocado no dia de hoje. Que a criança que mora dentro de nós, seja a condutora do nosso jeito de ser, agir e pensar, para que assim, possamos construir relações de amorosidade e ternura, próprias da criança, rumo à um mundo mais humano e feliz. São as crianças que nos ensinam a ser quem devemos ser, como Rubem Alves mesmo nos disse: “São as crianças, que sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida”.
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