Quarta feira da sétima semana do tempo pascal.
O mês de maio passou o bastão a junho. Já estamos caminhando para a metade de mais um ano em nossas vidas. Iniciamos bem o mês junino, celebrando a festa de um grande homem da história da Igreja, o filósofo e mártir São Justino [103-167]. Ele que nasceu na cidade de Siquém, na Palestina, oriundo do paganismo, mas que se converteu ao cristianismo, defendendo até a morte os princípios e a verdade cristã. Como filósofo Iniciado no platonismo, abandonou esta teoria para abraçar de vez o projeto de Reino anunciado por Jesus, dando sua vida a esta causa. Uma das frases atribuídas a Justino serve para exemplificar o contexto de nossos dias: “A ninguém é permitido pronunciar o nome inefável de Deus. Se alguém ousa afirmar ter em si este nome, não passa de um louco”. São Justino, rogai pela insanidade de nossos dias!
O martírio de Justino inspirou-me a rezar nesta manhã um pouco mais fria aqui pelas bandas do Araguaia. Enquanto os macacos bugios, em meu quintal, ensaiavam liturgicamente a cena de seus acasalamentos, espalhando sua semente reprodutiva, trouxe presente comigo o belo mantra criado pelo amigo Cirineu Kuhn: “Pai nosso dos mártires”. Uma canção que, por si só, já é um convite solene à oração, provocando em nós a lembrança dos mártires de ontem e de hoje de nossa história. Como não pensar nos mártires da educação brasileira, negligenciados e pisoteados pelos governantes que ora nos trazem tantos dissabores?
Estamos a caminho das luzes de Pentecostes. Tempo mais que oportuno para trazer presente a temática da educação brasileira. Se um dos objetivos da Campanha da Fraternidade de 2022, “Fraternidade e Educação”, é o de “promover o diálogo sobre a realidade educativa no Brasil, à luz da fé cristã”, estamos com a faca e o queijo nas mãos para desenvolver tal possibilidade. Sobretudo num dos momentos de rara infelicidade, o governo que aí está, cortou 14,5% da verba do Ministério da Educação (MEC), destinada às universidades e aos institutos federais. Tal corte equivale ao montante de 23 bilhões de reais, afetando seriamente o orçamento e comprometendo o funcionamento tanto das universidades públicas quanto dos institutos.
Que falta nos faz nosso patrono Paulo Freire que afirmava com todas as letras que “Educar é um ato de amor”. A educação é, por excelência, o espaço pedagógico do amor. A escola é o lugar privilegiado de se fazer acontecer a produção de conhecimentos na amorosidade. Ao contrário do que pensam alguns dos nossos, a escola não é lugar de se fazer educação, mas “escolarização”, já que a educação vem do berço familiar. Ela acaba fazendo estas duas coisas, por causa da dilaceração da família. Assim, nossos educadores acabam fazendo, além do papel do educador, também a função de pai, mãe, psicólogo, assistente social. Querendo apenas serem reconhecidos e valorizados na sua função de educadores.
Educadores e educadoras que amam aquilo que fazem e o fazem acreditando naquilo que fazem com a dedicação que a causa exige. Com “a cara e a coragem”. Tudo porque, somos educadores que acreditamos numa das máximas ditas pelo nosso grande pedagogo: “Amar é um ato de coragem. Uma pena que a nossa Igreja não tenha abraçado de vez a causa da educação, a partir da exortação proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Houvesse os nossos bispos, padres, freiras e seminaristas lido, ao menos “Pedagogia do Oprimido” (1968), talvez não fossem tão herméticos e alienados com a sua “Educação Bancária”, já que esta obra prima é tida como o “evangelho pedagógico dos oprimidos”. Infelizmente somos, em grande parte, uma Igreja mais voltada para o seu sacramentalismo hierárquico dogmático, olhando para os seus próprios umbigos e pouco se importando com as mazelas da educação de nosso país.
Educação é coisa séria! Como educadores e educadoras, seguimos ainda acreditando na educação e nas possibilidades de transformação que ela é capaz de promover e construir, com vistas a um mundo melhor para se viver. Uma busca que se faz continuamente uma vez que, “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria” (Paulo Freire). Como o próprio Jesus nos adverte com a sua fala que a liturgia deste dia nos traz: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno”. (Jo 17,15) Como seguidores de Jesus, devemos abraçar a missão de revitalizar o mundo, uma vez que este não pode ser algo estranho a nós. A educação é uma das ferramentas necessárias e imprescindíveis para realizar a transformação deste mundo, visando o bem estar de todos, uma vez que ela é o lugar pedagógico do amor. Amor pela vida e pelo mundo que podemos construir juntos pelo amor.
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