Sexta feira da Décima Primeira Semana do Tempo Comum. Estamos caminhando para o penúltimo final de semana deste mês, que a Igreja Católica dedica ao Sagrado Coração de Jesus. Coração que é o cerne, parte central e essencial para o povo da Bíblia. Segundo a compreensão da tradição judaica, é nele que está o centro da memória, o centro da condenação e da salvação. O centro das decisões. O centro da ação amorosa de Deus e também o centro das coisas ruins, as maldades, o ódio e a indiferença, pois o coração é o núcleo a partir do qual acontece tudo o que molda o mecanismo humano. Foi assim que o filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), também entendeu, quando nos diz: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.

Por falar em coração, hoje a Igreja celebra a festa de São Luís Gonzaga (1568-1591) Não errei nas datas, como possam imaginar. De família nobre, da corte da Itália, viveu apenas 23 anos, antes mesmo de se ordenar sacerdote, pela Companhia de Jesus (Jesuítas). Foi canonizado pelo Papa Bento XIII em 1726, sendo proclamado “Patrono da Juventude”. Ouvi falar deste santo, quando ainda era jovem e tive contato com o padre Henrique Munáiz, jesuíta que muito contribuiu para a minha formação juvenil, nos bons tempos dos grupos de jovens, em minha cidade natal, Montes Claros. De batina surrada, padre Henrique falava de São Luís, de boca cheia, fazendo-nos todos admirar aquele santo do homem do final do século XVI.

“No entardecer de nossa vida, seremos julgados segundo o amor”. Esta foi uma das primeiras frases que ouvi deste homem que trazia o seu nome na Casa da Juventude a que todos nós frequentávamos, em nossa adolescência, ali no meu bairro. Amor que também está presente no coração de Deus, que nos deu de presente o seu Filho amado, encarnando-o em nossa realidade histórica, para nos ensinar o caminho que leva ao Reino de Deus. Este mesmo Jesus que hoje o texto escolhido pela liturgia (Mt 6,19-23), está mais uma vez ensinando os seus discípulos, as coordenadas de como trilhar os mesmos caminhos d’Ele, e serem fieis no cumprimento da proposta de Deus para toda a humanidade.

“Não junteis tesouros aqui na terra…” (Mt 6,19). Ainda dentro dos ensinamentos sob as coordenadas do “Sermão da Montanha”, Jesus está orientando os seus, para que não ajuntem, mas que saibam partilhar ao invés de ajuntar. Ajuntar, acumular, possuir, apropriar, são verbos que contrariam a proposta do Reino em que todos tem a sua porção dentro da nova sociedade, proposta por Deus, com a vinda de Jesus até nós. Vida partilhada. Dons partilhados, pois todos e todas somos chamados a termos a vida em plenitude (Jo 10,10). Quando alguns ajuntam para si, os demais ficam privados dos bens que são de todos. “Quando tudo for privado, seremos privados de tudo”, alguém sabiamente assim escreveu nas redes digitais.

“Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. (Mt 6,21) Quem age segundo a justiça e praticar o bem, numa vida solidaria partilhada, terá o seu tesouro depositado no mesmo sonho de Deus para nós. Todos temos os valores que preservamos, e estes estão fundamentados nas opções que fazemos e nos compromisso que assumimos ao longo da vida. O que Jesus pede aos seus discípulos é que eles não se apeguem aos valores que são passageiros, mas àqueles que sustentam a vida em direção à proposta do Reino. Desta forma, Jesus também nos orienta para que o nosso coração seja direcionado aos valores mais sublimes, onde a nossa afetividade, os nossos apetites e desejos mais íntimos e profundos, estejam voltados para Deus, para que assim possamos direcionar o nosso caminhar ao encontro dos irmãos que mais sofrem e precisam/necessitam dos nossos cuidados.

Todos nós, de maneira consciente ou inconscientemente, temos os nossos valores na vida. Valores que determinam toda a nossa forma de ser e viver. Diante destes valores que vamos alimentando em nós, devemos sempre nos perguntar: qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Valores passageiros, ou perenes? Lembrando-nos que Deus sempre leva as pessoas à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas absolutizam e dividem, uma vez que elas são resultado da opressão e da exploração, levando as pessoas à escravidão e à morte. É preciso escolher, a qual dos dois queremos servir: o Deus da riqueza ou a riqueza de Deus? Os olhos são as lâmpadas do coração daqueles que sabem partilhar ao invés de ajuntar. Deus, que é a luz e fonte de toda a luz, ilumina o mistério da escuridão humana. “Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado”. (Mt 6,22)