Sábado da terceira semana do Advento.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

Já estamos quase lá. Falta pouco para adentrarmos na experiência renovada da vida que nos vem por intermédio de uma criança. Sabemos, que a criança renova o ambiente de um lar. Ela torna-se o centro das atenções e do carinho dos seus. Não é diferente deste menino que caminha em nossa direção, trazendo a vida em si e também a Boa Nova da libertação.

O olhar de Deus se vira em nossa direção, fazendo-nos experimentar a vida e a esperança de dias melhores. Deus é mais, dizem aqueles mais convictos na sua fé.

Os dias seguem na rotina da pandemia. Entretanto, a alegria vai tomando conta de nosso coração, apesar de tanta dor sofrida ao longo deste ano. A nossa fé nos coloca em sintonia com o Projeto de Deus, e nos faz renascer na esperança de que o amanhã virá com nova roupagem. Pelo menos é assim que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos faz pensar. Depois de uma consulta popular, feita pelo Conselho Episcopal Pastora (Consep), ficou definido na tarde de ontem (17) que o tema da Campanha da Fraternidade de 2023 será: “Fraternidade e Fome”. O lema será: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16).

Não poderia ter escolhido temática melhor, sobretudo neste contexto de fome que muitos de nossos irmãos e irmãs estão padecendo. A pandemia fez revelar o contexto de desigualdade gritante em que vivemos na nossa realidade brasileira, com famílias inteiras sem ter o que comer. Lembrando que em 2022, iremos refletir sobre a temática da educação. O tema para o ano que vem será “Fraternidade e Educação” cujo lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Temática que nos fará refletir sobre a situação da educação brasileira e os profissionais da educação que não são valorizados nesta difícil tarefa de trabalhar por uma educação de qualidade social. Ao contrário, são taxados de preguiçosos e de não querer trabalhar. Mal sabemos o que cada um deles e delas passou neste período de ensino remoto.

Quantas injustiças presenciamos no cotidiano de nossas vidas!? Não podemos ficar indiferentes diante delas. A indiferença é a mãe da omissão, que por sua vez é parente do descompromisso. O critério da justiça jamais poderá ser o cumprimento da lei, até porque, nem sempre que a lei é justa. A lei precisa ser regida pelo critério maior que é a vida em primeiro lugar e o amor. A lei que é feita para as pessoas e não as pessoas para a lei. Neste sentido, precisamos superar a visão doentia da lei, que vem de uma expressão do latim “Dura lex sed Lex” que significa “a lei é dura, mas é a lei”.

É para esta realidade que a liturgia nos chama a atenção no dia de hoje. Estamos diante do personagem José, o “homem justo”. Homem de um coração humanitário pouco visto em toda a história do povo de Israel. Poderíamos dizer que nele personifica o modelo de fé de todos aqueles e aquelas que fazem o seguimento de Jesus de Nazaré. José é o homem justo! Ele passa por cima de toda a tradição patriarcal machista da época, para estar ao lado daquela que amava e que estava próxima de sofrer a “pena de morte” (apedrejamento). Ele não titubeou, mas se fez atento, amoroso e cuidadoso como esposo fiel, como servidor da mãe e do filho.

Passou por todas as agruras ao ter aceitado fazer parte do projeto salvífico de Deus. Poderia muito bem ter dito: “Não quero”; “arranja outro aí”; “não tenho o perfil”. Como muitos de nós certamente teríamos dito. Aguentou firme, e não arredou o pé. Como a Mãe, se colocou nas mãos de Deus como instrumento, pedindo que fizesse em si à sua vontade (Lc 1,38). Certamente, em sua carpintaria, foi moldando a personalidade do Filhão, fazendo-o entender a dinâmica da vida dos pobres e se fazendo classe com os seus. Pelo menos foi assim que nosso bispo Pedro também entendeu em um de seus poemas: “No ventre de Maria, Deus se fez homem. Mas na oficina de José, Deus também se fez classe”.

A justiça é a nossa medida. O ser justo precisa brotar de nossas entranhas e se fazer personalidade em nós pelos nossos atos. Um coração que seja justo onde as regras do bem viver e do amor possam fazer morada em nós. Ser justos como também Deus é justo. No contexto bíblico podemos perceber que a ideia de justiça, está ligada ao conceito de que Deus dará a cada um e cada uma, aquilo que lhe corresponde de acordo com suas ações. Sem nos esquecermos também que na linguagem bíblica há uma equiparação clara entre o Reino de Deus e a justiça. Sermos justos como José não é nada fácil. É necessário caminhar nesta direção. Quem sabe possamos fazer também nossas as palavras ditas pelo especialista em comportamento humano Geraldo Eustáquio de Souza: “Desistir… eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”. Viva São José, o Justo!

 

*Os textos dos colunistas e colaboradores não expressam, necessariamente, as opiniões da UNESER.