Sexta feira da Quinta Semana da Quaresma. Abril vem sextando mais uma vez, para os aficionados devotos deste dia da semana. A estação do Outono vai se configurando, dando suas caras de vez. Se bem que o verão segue intrometendo na estação que não lhe diz respeito. Depois do forte calor de ontem, a noite foi de “tromba d’água”. São Pedro caprichou, assustando a todos nós. Como é característico desta estação, as árvores começam a desprender-se de suas folhagens. Trata-se de uma estratégia delas, para se protegerem das temperaturas mais baixas, reduzindo assim o seu gasto de energia. Segundo os estudiosos do assunto, com a redução da luz solar, as plantas diminuem a sua produção de clorofila, tão essencial para o seu bem-viver. No meu quintal, testemunho tal processo a olhos nu. O chão fica forrado de folhas

Com o amanhecer mais fresquinho, fui acometido pela nostalgia, permitindo que o meu coração fosse assaltado pelas lembranças do passado. Daí recordei-me, que no dia de ontem, comemoramos 70 anos da páscoa de um grande homem, que marcou as nossas vidas com a sua vida: Teilhard de Chardin (1881-1955). Pierre Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que muito contribuiu com as suas obras para aproximar a visão integradora entre ciência e teologia. Com o seu pensamento teológico, ele contribuiu sensivelmente para que o humano fosse engravidado pela força sagrada do divino. Li avidamente boa parte de sua obra, e me apaixonei pelo seu modo de pensar, talvez influenciado por aquilo que ele dizia: “o homem não é apenas um ser que sabe, mas é também um ser que sabe que sabe”. Consciência do ser pensante que todos nós somos, completando o pensamento de outro francês, René Descartes (1596-1650): “Cogito ergo sum” – “Penso, logo existo”.

Todavia, nem só do pensamento ou da teologia vive o ser humano. A realidade nua e crua aponta no horizonte de nossa existência, mostrando que os pés precisam ser fincados no chão da história. Hoje, por exemplo, é o dia de lembrarmo-nos de uma doença que tem estado presente na vida de muitos dos nossos: “Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson”. Uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. É causada pela diminuição intensa da produção de dopamina, que é um neurotransmissor. É esta substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas. Com o envelhecimento, todas as pessoas saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem a dopamina. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que aproximadamente 1% da população mundial com idade superior a 65 anos tem a doença. No Brasil, estima-se que existam pelo menos 250 mil portadoras desta doença.

O dia de hoje foi também um marco para a história da humanidade. Foi no dia 11 de abril de 1963 que o Papa João XXIII (1881-1963), publicou uma de suas principais Encíclicas: “Pacem in Terris” – “A Paz de todos os povos na base da Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade”. Foi a primeira vez que um documento papal se dirige a toda à humanidade e não apenas aos cristãos católicos. Um documento que continua muito atual, já que os seus ensinamentos precisam chegar às lideranças politicas mundiais, para que assim possamos construir a paz, fundamentada nos valores e na defesa dos seres humanos. Diante deste contexto é sempre bom lembrar uma das frases deste saudoso Papa: “Sou sempre otimista, ainda quando exprimem perto de mim profunda inquietação pelo destino da Humanidade”.

João XXIII, “o Papa Bom”, como Jesus também é bom. O Nazareno sabia quem Ele era, de onde viera, e qual a missão fora incumbido de desenvolver no meio da humanidade com fidelidade: A Palavra de Deus se fazendo carne humana. O Ser transcendente de Deus se fazendo humano na imanência do Filho. Consciência plena do Ser que Ele era: o Messias, enviado de Deus. É isto que Ele está tentando elucidar para a classe judaica das autoridades religiosas, que questionavam o seu ser divino. Na verdade, eles não estavam questionando as ações de Jesus, mas o fato de Ele se colocar no lugar de Deus. É esta “blasfêmia” que motivou aqueles judeus a quererem apedrejar o homem de Nazaré: “Não queremos te apedrejar por causa das obras boas, mas por causa de blasfêmia, porque sendo apenas um homem, tu te fazes Deus!” (Jo 10,33)

Se por um lado, alguns judeus, queriam dar fim em Jesus, haviam também aqueles que n’Ele acreditavam: “Muitos foram ter com ele, e diziam: “João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito deste homem, é verdade”. (Jo 10,41) Certamente esta divisão entre eles, fez com que as lideranças religiosas pensassem duas vezes antes de querer apedrejar e dar um fim em Jesus. Esta conclusão do Evangelho de hoje, está ligada aquilo que o evangelista havia descrito em seu prólogo, do Precursor falando a respeito da vinda do Messias: “Eu batizo com água, mas no meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem, e que vem depois de mim. Eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele”. (Jo 1,26-27) Jesus define sua condição de Messias, apresentando-se como o Filho de Deus. O testemunho revela Jesus aos homens, levando-os a compreender que Ele realiza o projeto de Deus. As provas desta messianidade estão fundamentadas nas ações concretas que Ele realiza no meio das pessoas pobres e marginalizadas, comprovando assim que é Deus mesmo quem n’Ele e por Ele age.