Terça feira da Festa da Visitação de Nossa Senhora.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Maio chega ao seu final, entregando-nos a junho. O mês mariano que, tradicionalmente, é celebrado em maio, vem desde o século XIII de nossa era cristã. No encerramento deste mês, celebramos a festa da Visitação de Maria à sua prima Isabel. O grande encontro de duas gerações, fechando o Antigo Testamento e abrindo o horizonte para a presença do Messias em nosso meio. Uma festa significativamente celebrada na semana de Pentecostes, pois ambas as mulheres, grávidas do Espírito Santo, anunciam a grande novidade. Isabel, com o precursor em si anuncia o Filho de Deus presente no ventre de Maria como a Ave cheia de graça.

Segundo a Tradição Católica, de Isabel nos advém a oração mariana que todos nós católicos rezamos: a “Ave Maria”. De Maria nos vem um dos cânticos mais revolucionários da tradição cristã: o “Magnificat”. Um cântico de libertação, expressando o sonho de um Deus que é partidário dos pobres Neste cântico se manifesta o suspiro dos pobres por libertação, nos fazendo recordar da experiência do êxodo do Povo de Israel: “Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo”. (Êx 3,7-8)

O encontro de duas grandes mulheres. Dois pilares que marcaram a história. Duas mães que se colocam nas mãos de Deus para que se fizesse acontecer através delas o Projeto de Deus. Isabel que gesta o Batista, aquele que veio “preparar os caminhos do Senhor”. Maria, trazendo em seu ventre a semente do Verbo, demonstrando que já era uma das discípulas de seu filho Jesus. O Pentecostes de Maria com o seu gesto solidário de se fazer presente na vida de sua prima Isabel, num dos momentos que ela mais necessitava de cuidados, evidencia a ação de Jesus se fazendo presente em sua vida. Iluminada pelo Espírito Santo, a “Comadre de Nazaré” se põe a caminho para transmitir o mistério santificador da Palavra que no mistério de Deus, se fez carne.

Estamos também nós à caminho do nosso Pentecostes. Indo em direção da infusão da luz de Deus em nossas vidas. Enquanto caminhamos, vamos vivenciando a experiência maior de fazer unidade em meio a diversidade. Esta é a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), proposta pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). De 29 de maio a 05 de junho, temos esta missão de rezar para que possamos fazer esta unidade acontecer, seguindo aquilo que o próprio Jesus nos propusera: “Que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti” (Jo 17,21) Justamente num dos momentos mais importantes de nossa caminhada de fé, inspirados pela força do Espírito, sejamos capazes de superar as arestas, lembrando que o que nos une, é infinitamente superior aquilo que, porventura, possa nos separar (dividir).

Uma terça feira especial também na minha vida. No dia de hoje há um ano, estava eu internado num dos hospitais de Goiânia, pronto para realizar o procedimento cirúrgico para a retirada de coágulos no cérebro, proveniente do irmão AVC. Sinto-me hoje completando o meu primeiro ano de vida, celebrando o dom da vida e a graça de não ter ficado com nenhuma sequela. Pelo contrário, o “HD 6.5” está funcionando a pleno vapor, me fazendo recordar de lembranças perdidas na minha infância e de outras peripécias da trajetória histórica pelas causas do Reino feitas até aqui. Tenho que reconhecer que o meu Deus e as pessoas que me acompanham, tem sido muito mais generosas do que sou merecedor de tão grande graça. Que Maria, a mãe de Jesus e nossa, continue me acompanhando com a sua graça, para que também eu possa ser um fiel seguidor de seu Filho, assim como ela soube ser.

O grande encontro. Isabel, a mulher cheia do Espírito Santo, fazendo a criança dar cambalhotas em seu ventre. Maria, a cuidadora das coisas de Deus. Generosidade e gratuidade para o serviço sempre! Nosso bispo Pedro, nos últimos anos de sua convivência física conosco, tinha o hábito de atribuir a si como o “bispo preguiçoso”. Isto pelo fato de ser bispo emérito e de estar sendo cuidado por todos nós ao seu redor. Cuidou das coisas de Deus na pessoa dos peões, posseiros, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, mulheres, até quando a saúde lhe permitiu. A “Comadre de Nazaré” era um espelho para si. Celebrar a Visitação de Maria à Isabel é um dia de lembrar também que, como seguidores de Jesus, somos servidores e cuidadores das pessoas mais necessitadas, sobretudo aquelas que são as mais esquecidas. Ave, Cheia de graça!

https://www.youtube.com/watch?v=ZKZGWuusqyg