Terça feira da Sexta Semana do Tempo Comum.
Vida que segue nos fazendo partícipes deste mundo. Construir um mundo mais humanizado e feliz é o dever de casa de todos nós. Um mundo de uma nova realidade, onde o amor e a partilha se façam presentes em gestos de solidariedade, ternura e compaixão. O sonho de Deus precisa estar vivo dentro de cada um de nós para que possamos ser instrumentos de sua vontade nas relações que iremos edificar. Uma vida nova onde todos e todas possam sentir a amorosidade de Deus construindo a história.
Dia 14 de fevereiro é o “Dia Mundial do Amor”. Tanto que em alguns países se comemora também o “Dia dos Namorados”. O amor não precisaria de um dia somente para si, uma vez que todos os dias são dias próprios para se amar na intensidade que dele se requer. Todo dia é dia do amor, não apenas como um sentimento alojado no peito, mas como essência do nosso existir. Somos frutos de um ato de amor que gerou-nos para este mundo. Ao nos projetar para este mundo, Deus infundiu em nossa essência sua amorosidade do Deus sempre fiel. Sou partidário de uma das frases ditas pelo maior físico de todos os tempos, Albert Einstein (1879-1955): “Um simples ato de amor é maior que o Universo físico inteiro”.
“Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor”, já nos dizia a Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Foi pensando assim que acordei nesta manhã presenciando em meu quintal as investidas amorosas dos macacos machos sobre as fêmeas, nos seus rituais barulhentos de acasalamento. Deus multiplicando a espécie e fazendo a natureza cada vez mais viva como parte de sua criação. A interligação do ser humano com a natureza sendo gestada no espaço de um quintal que os acolhe, fazendo unidade na diversidade. Exemplo concreto do equilíbrio natural entre as espécies em sua biodiversidade. O humano diante do reino animal, convivendo com o plano espiritual revivendo a experiência de uma parcela do Criador elevando à condição divinal como “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26).
O Deus da criação presente no Filho muito amado que veio estar e se fazer um de nós: Emanuel. Jesus que mais uma vez a liturgia do dia o coloca ensinando os seus discípulos diante dos desafios da vida. Mais uma vez o Mestre alerta os seus que o mais importante não é o “ter”, mas o “Ser”: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. (Mc 8,15). De um lado está o fermento da hipocrisia daqueles que falam, mas não fazem nada daquilo que falam. De outro está o fermento do poder, justamente daqueles que se apegam ao poder do ter sempre mais, sem se preocuparem em “Ser”. Mais do que ter e acumular, necessário se faz que sejamos coerentes com as nossas ações e atitudes diante dos desafios que a vida nos reserva: todos são chamados a viver plenamente.
No contexto do texto do Evangelho de hoje, vemos os discípulos de Jesus preocupados por não terem acumulado pão. Todavia, Jesus chama a atenção deles para não ficarem presos a um sistema que visa apenas a acumular coisas para ter segurança (fermento dos fariseus e de Herodes). A vida do seguidor de Jesus precisa ser fundamentada na partilha total dos bens, dons e serviços. Quem segue os mesmos passos de Jesus precisa confiar mais na partilha, pois a experiência nos mostra que tudo o que se reparte, torna-se até mais do que suficiente. A fome se faz presente no meio de nós porque há aqueles (fariseus) que acumulam para si mais do que o necessário para viver. Realidade distinta desta está presente no meio dos povos indígenas. Eles não têm a preocupação em acumular. Sabem como ninguém vivenciar esta proposta de Jesus, pois todo o alimento que dispõem e está à mesa, serve apenas para aquele dia. No outro dia, será outra realidade com as suas preocupações próprias.
Viver sem acumular. Viver sem a preocupação do “Ter” sempre mais. Viver sendo pessoa que sabe partilhar. O desafio para o discipulado de Jesus é o de construir a sociedade da partilha. Nela não haverá quem passa fome, pois todos saberão partilhar com todos os bens necessários para que todos tenham vida. Com Jesus viveremos a espiritualidade da partilha. Pertencemos à mesma família e fomos inseridos na mesma comunidade cristã. Isto significa que temos os mesmos direitos e deveres de filhos e filhas, ou seja, participamos dos bens, mas também somos co-responsáveis pelo bem-estar material e espiritual de todos os membros da família e da comunidade. Como nos indica uma das antífonas da celebração de hoje: “Quem me ama realmente, guardará minha palavra e meu Pai o amará, e a ele nós viremos”. (Jo 14,2)
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