Segunda feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Setembro chegou e já é realidade no meio de nós. Certamente que o nono mês de nosso calendário, não imaginaria que chegaria em meio ao caos ambiental que ora estamos vivendo. Justamente ele que traz em suas entranhas a estação das flores. Nestes anos todos em que estou aqui na Prelazia, nunca tinha visto algo semelhante: a área de minha casa amanheceu com uma camada espessa de cinzas, trazidas pelo vento. Quando será que vamos entender que, ao destruir a natureza, os animais/insetos e o planeta, estamos destruindo a nós mesmos? Não há nada mais insano que fazer a mesma coisa sempre e esperar resultados diferentes.

“Do egoísmo, de viver para nós, nesse heroísmo, nos encontramos a sós”, adverte-nos em um de seus versos, o escritor brasileiro Mário Magalhães. “Nenhum homem é uma ilha”, ensinou-nos o poeta metafísico inglês John Donne (1572-1631). Não estamos sós em meio a esta terra. Fazemos parte da grande família humana, que tem um objetivo claro e definitivo, estabelecido pelo Criador: buscar às nossas realizações com vistas à plenitude do existir. Estamos todos interligados, numa interação permanente entre todos os seres vivos que habitam esta Casa Comum. Qualquer tipo de mal que, consciente ou inconscientemente fazemos, atinge a todos os seres, direta ou indiretamente. “Diante de Deus, descobrimo-nos todos iguais”, observa o nosso Papa Francisco.

Setembro chegou e, como sempre neste mês, temos um compromisso inadiável com a Palavra de Deus. Como seguidores e seguidoras de Jesus que queremos ser, a Bíblia se faz presente no horizonte factual de nossa rotina neste mês: ler, meditar, rezar e contemplar. Ela é o nosso livro de cabeceira neste mês, onde buscaremos uma intimidade maior com o profeta escolhido para esta vez. Ezequiel é aquele profeta que exerceu sua atividade entre os anos 593 a 571 a.C. Como sacerdote, esteve exilado na Babilônia com o seu povo, anunciando as sentenças de Deus. A comunidade, em meio à qual ele vive, acredita que em breve tudo voltará a ser como antes. Junto a seu povo, ele não desanima e nem desespera, pois o futuro é de ressurreição e novidade radical.

Mais uma segunda feira no histórico de nossas vidas. Iniciamos a semana sendo conduzidos pelas palavras escritas pela comunidade de Lucas. Jesus voltando à cidade onde havia sido criado: Nazaré. Num dia de sábado, Ele se dirige à sinagoga e, como era de costume, se fazia a oração e a leitura dos livros de Moisés. (At 15,21) Além disso, são lidas partes dos livros proféticos. Quando Jesus se levanta para ler, talvez reconheça muitos dos que, durante anos, frequentaram a sinagoga com Ele. Recebe o rolo do profeta Isaías e procura o trecho que fala sobre Aquele que foi ungido pelo espírito do Senhor. (Is 61,1-2). Um momento solene no início da atividade pública de Jesus que Lucas sublinha. Jesus é o profeta enviado para proclamar a Boa Notícia da libertação aos pobres e marginalizados.

As pessoas ali presentes ficam maravilhadas com as palavras de sabedoria que saem da boca de Jesus e dizem umas às outras: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22) Todavia, ao ver que as pessoas esperam que Ele realize obras como as que ouviram falar, Jesus diz: “Sem dúvida, vós me repetireis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum”. (Lc 4,23) Provavelmente, que os antigos vizinhos de Jesus, achem que os sinais que Ele realiza devem ser feitos primeiro na sua cidade natal, em benefício de seu povo. De certa maneira, sentem-se desprezados por Jesus. Diante deste contexto, Ele lhes adiantam: “Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. (Lc 4,24)

Colocada no início da vida pública de Jesus, esta passagem constitui, conforme Lucas, o programa de toda a atividade de Jesus, numa referência direta ao texto do Profeta Isaías (Is 61,1-2) O Messias iria realizar a missão libertadora dos pobres e oprimidos. Evidentemente que Jesus aplica a passagem a si mesmo, assumindo-a de forma concreta. Contudo, a dúvida, a rejeição e a hostilidade a Jesus, por parte de seus compatriotas, fazem prever a hostilidade e a rejeição de toda a atividade messiânica dele por parte das autoridades. Consciente de estar na hora e lugar certos, Jesus prossegue seu caminho, para construir a nova história que engloba a todos nós. Os que estão na sinagoga, sobretudo as autoridades religiosas, ficam furiosos, se levantam e arrastam Jesus para fora da cidade. Eles o levam à beira do monte, onde a cidade de Nazaré foi construída, e tentam jogá-lo para baixo. Mas Ele segue seu caminho destemidamente, convocando a humanidade para a reconciliação e a partilha, que tornam possíveis a igualdade, a fraternidade e a comunhão.