Quinta feira da Terceira Semana do Tempo do Advento. Menos de uma semana para o nosso encontro com o Deus-Menino, que renascerá nas quebradas de nossas periferias. É Deus mesmo que escolhe vir até nós, passando pela vida concreta dos marginalizados, pobres e indefesos. As grutas de Belém estão escancaradas aos nossos olhos e, de onde não se espera é que a vida floresce, provando-nos que o impossível não existe para Deus. “Pois nada é impossível para Deus”. (Lc 1,37)

Uma manhã de correria, em que estou dando, por ora, o meu adeus à Goiânia. Depois de passar pelo cardiologista e ver que o velho coração está batendo no compasso das horas e da longa estrada, estou rabiscando no burburinho da rodoviária, dividindo o espaço com centenas de outras pessoas. O anonimato e o individualismo prevalecem no comportamento das pessoas. Definitivamente, não sei ser assim! O meu eu é interativo. Este ambiente me deixa mal. O meu eu, quer estar em sintonia com outros eus. Tal situação me fez lembrar de uma das frases ditas pelo psicoterapeuta suíço Carl Jung: “Eu não sou o que me acontece, eu sou o que escolho me transformar”.

A liturgia católica deste forte período, vai a cada dia nos colocando em sintonia com a chegada do Deus Menino. Nestes últimos dias já vimos a linhagem davídica de Jesus, o anúncio feito a Maria, a tranquilização do perturbado José e, no dia de hoje, estamos vendo a interação de Deus com o velho sacerdote Zacarias. Tudo, sendo preparado para a chegada do profeta João Batista. O último profeta da Antiga Aliança.

Um casal de idosos, sendo preparado para conceber em seu seio, João Batista, o Precursor. Nada mais inusitado, pois além de ser uma mulher idosa, Isabel era estéril. Marginalizada das marginalizadas. Mulher pobre, idosa e estéril. Triplamente marginalizada. É este casal que entra nos planos de Deus, tornando protagonistas do projeto libertador de Deus para a humanidade. Tudo isso sendo definido pelas coordenadas de Deus.

Zacarias era um sacerdote e prestava os seus serviços religiosos no Templo de Jerusalém. Entretanto, apesar de ser um homem religioso, duvidou da proposta que Deus fizera a sua esposa Isabel. “Como terei certeza disto? Sou velho e minha mulher é de idade avançada”. (Lc 1,18) Fechou-se sobre o seu pequeno mundo, atitude nada esperada para quem está a serviço das coisas do Templo.

Apesar de ser um homem justo e obedecer os mandamentos do Senhor, Zacarias duvidou e não acreditou, de que Deus é capaz de tudo, quando se trata de fazer o bem, até porque a sua bondade e misericórdia ultrapassam todas as fronteiras do possível e imaginável. A esterilidade e a velhice marcam a vida desse casal justo, e o tornam objeto de humilhação pública. Zacarias e Isabel representam a comunidade dos pobres e oprimidos, que dependem de Deus. Deus se volta para esses pobres: deles nascerá João, que abrirá o caminho para a chegada do Messias, que iniciará a história da libertação dos pobres, de forma totalmente nova.

Nós, de alguma maneira, em determinados momentos de nossas vidas, temos também atitudes semelhantes às de Zacarias. Não acreditamos em nós mesmos, não acreditamos nos outros e, muitas vezes, não acreditamos no poder da ação de Deus em nossas vidas. Duvidamos das nossas potencialidades, das nossas capacidades e da força que existe dentro de cada um de nós. Nosso Deus é o Deus do impossível e, ao fazer sua morada definitiva em nós, significa que não estamos sozinhos, por onde quer que andemos. Já nos dizia o teólogo jesuíta francês Teilhard de Chardin: “A alma humana é feita para não estar sozinha.” Que o Deus do impossível crie todas as possibilidades em nossas vidas, principalmente aquelas que nos façam sair do nosso eu egocêntrico de descrença.