Quarto Domingo da Quaresma. 26º dia de nossa caminhada quaresmal. 14 dias mais, nos separam de nosso roteiro, cujo foco principal está no nosso processo de conversão. Mudar para viver mais e melhor sob o horizonte da perspectiva em Deus. Converter é fazer um encontro pessoal com Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. Conhecer a sua proposta por dentro, para que possamos assim dar respostas concretas aos desafios que se colocam no caminho da nossa fé. Amar servindo e servir amando, até as últimas consequências. Como dizia o escritor batista inglês John Bunyan (1628-1688): “A conversão não é um processo suave e fácil como algumas pessoas imaginam; se assim fosse, o coração do homem jamais teria sido comparado a um solo não cultivado, e a Palavra de Deus, a um arado”.
Encontrar-se com Deus é encontrar o irmão nas encruzilhadas da vida. Não encontra Deus, quem não é capaz de antes, encontrar-se com o seu irmão, sua irmã. Encontrar Jesus como o fizera Nicodemos, conforme o relato de João para nós neste domingo. Exatamente este homem, que era um fariseu convicto, membro integrante do Sinédrio, que era um tipo de associação de juízes, uma Corte Suprema dos judeus. Seu próprio nome já dizia quem era, pois Nicodemos é de origem grega e significa “conquistador do povo”. Ele era um mestre em Israel, um estudante profissional, intérprete e doutor da Lei, ocupando uma posição de extrema relevância a época.
Neste domingo, continuamos na mesma sequência dos três domingos, em que teremos contato com a narrativa do evangelho joanino. No domingo passado, vimos a cena de Jesus revoltado com os vendilhões, que haviam transformado o espaço do templo em comércio. Comercialização da fé. A cena de hoje acontece depois deste ocorrido, em que as autoridades judaicas ficaram possessas com a atitude de Jesus, criando assim uma enorme repercussão negativa acerca da atitude d’Ele. Certamente, ao procurar Jesus, Nicodemos não trazia em si este tipo de preocupação ou revolta, até porque, ele era um dos simpatizantes da proposta de Jesus. Pelo menos é assim que o vemos até a crucificação de Jesus.
Com Nicodemos, Jesus se sente a vontade e revela-lhe os mistérios do Reino e de seu projeto messiânico, passando pelo caminho da cruz: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16) O mistério da amorosidade de Deus para com os seus, sendo revelado a um homem de dentro do poder local. Mas para chegar a esta revelação divina transcendental, Jesus encontra receptividade na pessoa daquele homem que o ouvia atentamente com o coração aberto. Nicodemos toma conhecimento da grande novidade que Deus tem para a humanidade, passando necessariamente pela pessoa de Jesus, que revela em si a cruz da vida nova: Ressurreição. Ato pleno de amor do Filho: doação da própria vida em favor dos que creem. “Quem nele crê, não é condenado, mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito”. (Jo 3,18)
A plenitude da vida passa pelo caminho da cruz. Chegar à Ressurreição é trilhar o mesmo caminho do calvário de/com Jesus. Não há ressurreição sem cruz! Não há plenitude de vida sem abraçar a cada dia os desafios daquele dia e dar uma resposta fundamentada pelas coordenadas do amor. Amor incondicional às mesmas causas de Jesus. Subir o caminho do calvário com Ele é ter a certeza de que com Ele haveremos todos de ressuscitar para a vida nova. O Filho de Deus vai à frente abrindo caminhos de libertação, nos convidando a fazer o mesmo. A vida nova está no horizonte de nossa esperança que não decepciona. “Eu estarei convoco todos os dias até o fim dos tempos”. (Mt 28,20) Jesus esperançando com o nosso coração em chamas do desejo de nos encontrarmos com Ele.
“Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas”. (Jo 3,20) Jesus que é o caminho, verdade e vida! A luz de Deus está presente n’Ele, iluminando as nossas vidas. Não é vontade de Deus que percamos ao longo desta nossa jornada. Deus não sente prazer em condenar quem quer que seja, muito menos nos castigar, como foi nos passado em nossa catequese infantil. Pelo contrário, Deus manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a “todos, todos, todos”, como afirma o Papa Francisco. Todavia, como vimos no domingo passado, a presença de Jesus é incômoda, pois coloca o mundo dos homens em julgamento, provocando divisão e conflito, e exigindo decisão. De um lado, os que acreditam em Jesus e vivem o amor, continuando a palavra e a ação d’Ele em favor da vida. De outro, os que não acreditam n’Ele e não vivem o amor, mas permanecem fechados em seus próprios interesses e egoísmo, gerando opressão e exploração. Por isso, estes escondem suas verdadeiras intenções e não se aproximam da luz que é Jesus, como o fez Nicodemos.
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