Terça feira da Décima Quinta Semana do Tempo Comum. Um dia mais que especial para a caminhada da Igreja latino-americana que caminhou com Medellín (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992). Inicia-se no dia de hoje, na cidade de Rondonópolis/MT, o 15° Intereclesial das CEBs. As comunidades eclesiais de base (CEBs) são a expressão viva e mais concreta de uma Igreja sinodal e em saída para as periferias, como nos pede, insistentemente, o papa Francisco. No clima da Sinodalidade da Igreja (caminhar juntos), celebrar o Bem Viver da Igreja Povo de Deus, é mais do que oportuno.
“Igreja é povo, que se organiza. Gente oprimida, buscando a libertação. Em Jesus Cristo a Ressurreição”. Foi assim que cantamos alegremente por estes anos todos, de nossa caminhada. Jesus, nosso Mestre e Senhor, caminhando à frente de nossas lutas, fazendo-se um conosco, gente como a gente, na nossa caminhada histórica. Deus é o Senhor da história e Jesus é o Verbo encarnado que veio ser um de nós.
“Bem Viver” é a possibilidade concreta de sonhar outro mundo possível fora desta visão capitalista doentia do acúmulo, da ganância, do consumismo e, sobretudo, das desigualdades. Aproveitando da cosmovisão dos Povos Originários, que se organizam a partir do coletivo, das relações saudáveis entre as pessoas, a natureza e o bem comum entre todos, construamos este outro mundo, onde a vida seja o dom maior que Deus quer para todos e todas.
A vida é dom maior de Deus! Bem Viver, que procurou Jesus colocar no horizonte de perspectiva de seu projeto messiânico. Ele que escolheu viver em Cafarnaum, ao deixar Nazaré onde fora criado e vivera, por longos anos. Escolheu como base de sua prédica e prática, a cidade de Cafarnaum, às margens do lago da Galiléia. Poderia ter-se dirigido a Jerusalém, na Judéia, a Cidade Santa do judaísmo. Todavia, a escolha da Galiléia como ponto de partida de sua vida pública foi intencional, devido ao simbolismo ligado àquela região.
Mesmo tendo escolhido aquela região para dar início ao seu projeto libertador, estas cidades não souberam acolher Jesus devidamente. O privilégio de tê-lo ali com eles não foi reconhecido por estes: “Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres, porque não se tinham convertido”. (Mt 11, 20)
Corazin, Betsaida e também Cafarnaum são exemplos vivos da auto-suficiência e orgulho que não reconhecem a presença viva do Reino nas ações realizadas por Jesus. Por este motivo, são julgadas com mais severidade do que as cidades pagãs de Tiro, Sidônia e Gomorra, que eram consideradas como símbolos da perdição. Não souberam valorizar o bem precioso que tinham junto de si. Jesus de Nazaré, o libertador caminhando com eles, mas não souberam acolhê-lo. Isto também acontece conosco, quando não sabemos valorizar a presença viva de Deus nas experiências que a vida nos reserva.
“Oxalá ouvísseis hoje a sua voz. Não fecheis os corações como em Meriba!” (Sl 94(95). O profetismo de Jesus sendo colocado à prova no passado, mas também repetindo no hoje da história. A fidelidade ao projeto de Deus revelado em Jesus requer de cada um de nós o comprometimento com as causas do Bem Viver.
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