Sábado da vigésima primeira semana do tempo comum.
O último final de semana deste mês de agosto. O mês que a Igreja dedica às vocações está dando o seu adeus. Logo mais, entraremos no mês da Bíblia. Um sábado de festa para a Igreja Católica. No dia de hoje, celebramos a memória de Santa Mônica (331-387). Uma grande mulher da História da Igreja, nascida no norte da África, e que morreu aos 56 anos de idade, sendo que trinta destes passou rezando pela conversão de seu filho Santo Agostinho de Hipona. Manteve intensos diálogos espirituais com o seu filho, sendo que alguns destes estão registrados no livro “Confissões”, de Santo Agostinho. Um dos meus livros de cabeceira, o qual recomendo a leitura atenta.
O dia 27 de agosto é também um dia especial para a História da Igreja do Brasil. Coincidentemente, neste dia aconteceram as passagens de Dom Hélder Câmara (1999); Dom Luciano Mendes de Almeida (2006) e Dom José Maria Pires (2017). Parece que Deus escolheu a dedo este dia 27 para que ambos realizassem a sua Páscoa. Três bispos, três histórias de vidas dedicadas à caminhada da Igreja dos pobres. Cada qual, à seu modo, usaram do serviço eclesial às causas do Reino. Na vida destes três homens de Deus, a opção pelos pobres não era um mero discurso homilético, mas projeto de vida na austeridade evangélica no dia a dia. Dois deles muito amigos de nosso bispo Pedro. Lembro-me do dia em que fomos contar a Pedro da morte do primeiro bispo negro do Brasil, dom Zumbi. Uma lágrima atrevida, teimosamente escorreu pelo rosto do profeta do Araguaia.
“Servus Servorum Dei”. Esta é uma das expressões de origem latina, cujo significado é “Servo dos Servos de Deus”, atribuídas de forma oficial aos Papas. Ou seja, o Papa é o Servo dos servos. Aquele que se faz o servidor de Deus nas causas da humanidade. Lembrando que o ser servidor é a causa maior do discipulado de Jesus. Pessoas que são enviadas para servir em todas as circunstâncias, muito embora a busca pelo poder e pelo carreirismo clerical, ainda sejam o projeto de vida de alguns dentro da hierarquia eclesial. Prontos para servir, este é o chamativo maior para aqueles e aquelas que se colocam na mesma dinâmica do seguimento de Jesus de Nazaré. Chamados a servirem e não serem servidos.
Serviço que se dá como diaconia do servo que se faz servidor de todos. A palavra “diácono” advém do grego “diakonos”, que quer significar “servo”. Aliás, é desta forma que esta palavra é empregada muitas vezes nos Evangelhos. Na Igreja primitiva os diáconos eram vistos como uma das mais nobres e importantes tarefas que os membros destas igrejas podiam desempenhar. Diáconos e diaconisas. E ao exercerem tal função, os/as diáconos/as davam continuidade ao ministério exercido pelo próprio Jesus, Ele que disse muito claramente: “Porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. (Mc 10,45). Vida doada no serviço permanente.
A liturgia deste sábado segue nesta mesma direção. Estamos refletindo o capitulo 25 do evangelista Mateus e dando continuidade ao “Discurso Escatológico” de Jesus. O texto fala dos talentos que são distribuídos aos empregados pelo patrão. Talentos estes que podemos muito bem traduzir pelos dons que recebemos de Deus. Se Deus nos dá apenas as cruzes que somos capazes de carregar, com os dons/talentos é a mesma coisa. Ele somente nos dá os dons que somos capazes de desenvolvê-los na nossa prática de fé cotidiana. Dons que são doados para que possam ser desenvolvidos por nós e não para serem enterrados, seja pela nossa omissão, desserviço, ou comodismo. Dons são os talentos que vamos usufruindo para conseguir realizar a transformação de nossa realidade histórica.
Segundo a concepção escatológica, no Juízo Final seremos julgados pelas nossas ações e também pelas nossas omissões e descompromisso com as causas do Reino. Devemos, portanto, estar preparados e vigilantes, fazendo acontecer a justiça do Reino. Não basta estar preparado, esperando passivamente de braços cruzados a manifestação de Jesus. É preciso arriscar e lançar-nos à ação, para que os dons (talentos) recebidos frutifiquem e cresçam. Jesus confiou à comunidade cristã a revelação da vontade de Deus e a chave do Reino. Neste julgamento final, Ele pedirá contas pelos dons/talentos que recebemos e não os colocamos à serviço. A comunidade o repartiu e o fez crescer, ou o escondeu enterrando-o? Ficam então para nós as seguintes perguntas: o que temos feito com os dons que Deus nos presenteou? Temos nos colocado a serviço com os dons recebidos? Quais são os dons que você reconhece em você, como obra e graça do Criador? Não pense que você está distante de Deus pois, como Santa Monica mesma disse, “Não há lugar que esteja longe de Deus”.
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