Quinto Domingo da Quaresma.
O próximo já será Domingo de Ramos, início da Semana Santa. Mais uma Quaresma se fazendo presente nas nossas vidas. Quem soube aproveitar, deixou que sua vida fosse revisada à luz da Palavra de Deus, com o intento de celebrar a Páscoa libertadora de Jesus. Outros, talvez, permitiram que a incoerente rotina diária ganhasse os holofotes de sua prática, sem ao menos se deixar tocar pela necessidade de mudanças mais profundas. Mudar para crescer e se fazer com a pessoa de Jesus, o divino humano de Deus.
O divino humano de Jesus. Humano assim só podia ser divino mesmo. Sua humanidade caminha à sua frente. Nele temos o espelho de como devemos caminhar no nosso processo de humanização da vida. Humanizar, mudando o comportamento e atitudes, tornando-nos humanos e dando condições humanas aos que conosco convivem. O contrário disto é a desumanização, configurada pela falta de amor, de humanidade, de empatia, de solidariedade, daqueles que não possuem sensibilidade. Em função disso, vivemos um processo de larga desumanização das nossas relações, que são marcadas pela “cultura do descartável”: a pessoa serve até quando ela me é útil.
Carl Ransom Rogers (1902-1987), psicólogo norte-americano, um dos maiores pensadores das relações interpessoais, muito nos ajudou a entender este processo do individuo que busca seu próprio crescimento. Numa de suas publicações de 2009, “Tornar-se Pessoa”, ele nos mostrou o caminho para que assim pudéssemos acolher o humano em nós na sua totalidade. Para ele a pessoa humana é uma fonte inesgotável de experiências múltiplas e, ela mesma pode e deve desenvolver o seu processo de crescimento e autoconhecimento do humano que nela habita. Todos podemos ser ajudados neste sentido. Para ele, “a única pessoa que não pode ser ajudada é aquela pessoa que culpa os outros”.
Jesus, o humano divino de Deus. Sua sensibilidade para com o outro, sobretudo os pobres, marginalizados, excluídos e invisibilizados pela sociedade, era o objeto de seu estar entre eles, com eles e para eles. É desta forma que o evangelista São João nos mostra a pessoa do Verbo encarnado entre nós. Neste Quinto Domingo, a liturgia nos coloca em sintonia com o sétimo sinal que o Quarto Evangelho nos traz nesta ordem: o casamento de Caná (2,1-11); a cura do filho do oficial do rei (4,43-54); a cura de um paralítico de Betesda (5,1-15), a multiplicação dos pães e peixes (6,1-15); andar sobre as águas (6,16-21); cura do cego de nascença (9,1-41) e a ressurreição de Lázaro (11,1-45).
A sensibilidade humana de Jesus o faz chegar até a família de Lázaro, depois de receber o seguinte recado: “Senhor, aquele que amas está doente”. (Jo 11,3) Jesus faz questão de ir ao encontro de seu amigo que não estava mais doente, mas havia já falecido. Jesus que sai de se mesmo e vai àquele que necessita de sua presença nele. O Mestre não é alguém que fica esperando na sacristia da igreja para atender as pessoas necessitadas de si. Ele mesmo toma a iniciativa e a decisão de estar com, onde quer que a pessoa esteja. Esta é a experiência que também fazemos de tê-lo em nós, ouvindo e acolhendo-nos nas nossas necessidades mais prementes no chão das nossas vidas. Jesus que tem sentimentos humanos e chora a morte de seu grande amigo Lázaro: “Jesus ficou profundamente comovido e chorou”. (Jo 11, 33.35)
Jesus que vem trazer a vida para todos e todas. Ao contrário que possamos imaginar, não fomos criados para a morte, mas para a vida e vida em sua totalidade. Ao realizar o sétimo sinal, ressuscitando a Lázaro, Jesus confirma a razão principal a que veio. Ao se apresentar como a Ressurreição e a Vida, mostra-nos que a morte é apenas uma passagem dolorosa, mas necessária. Para aqueles que creem a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude total em Deus. Desta forma, a vida plena da ressurreição já está presente naqueles e naquelas que pertencem à comunidade de Jesus, fazendo o seu seguimento dando continuidade às suas ações. O medo da morte não pode ser maior que a certeza da vida plena que está por vir. Como São Paulo mesmo nos alertou: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”. (Gal 5,1)
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