Sexta feira da Primeira Semana do Tempo Comum. Mais uma sexta feira no horizonte histórico de nossas vidas. Caminhamos a passos largos rumo à mais um final de semana sendo desenhado no imaginário do mês de janeiro. O tempo humano “cronos” se fazendo dentro da perspectiva do tempo de Deus “Kairós”. Vamos assim nos adequando à perspectiva de Deus através da vivência da fé.
Viver a experiência de fé no seu contexto mais profundo é assumir compromissos de caminhar com aquele que veio abrir caminhos de libertação no meio de nós. A fé não se faz por meio de teorias, por mais que estas sejam interessantes e possam nos cativar. Viver a fé, exige atitude coerente de quem se abre, mente e coração, para ser e estar com Jesus na procura do Reino. Ela deve ser esta força que alavanca os nossos sonhos para buscar a construção do Reino a cada dia pelas nossas ações, atitudes e compromissos pela vida.
A pessoa de fé é aquela que possui valores fundamentados no Evangelho. A Palavra de Deus é a base fundante da nossa fé. Palavra que é vida em nossas vidas. Entretanto, não basta conhecer a Palavra e recitá-la como alguém que decorou os versículos na “ponta da língua”. Conhecer a Palavra é desenvolver em nós a capacidade de interpretá-la através de um processo que a Teologia chama de “Hermenêutica”. Ou seja, ler o texto em seu contexto e trazê-lo para a realidade atual, fazendo com que ganhe vida nas nossas vidas. Até porque, qualquer texto fora do contexto pode ser mero pretexto para justificar os nossos interesses ou de outros.
Vivemos dias em que a fé tem se transformado em instrumento de dominação, alienação e de falsos interesses. Pessoas que instrumentalizam a fé dos mais simples e humildes para defender interesses e privilégios dos mais abastados. No jargão “Deus, família e pátria”, estão embutidos os valores elitistas daqueles que estão no andar mais alto da prateleira e querem manter os seus privilégios de classe abastada, mantendo a exploração sobre aqueles do andar de baixo.
O Deus dos cristãos é aquele que veio caminhar com o seu povo na pessoa do Filho, se fazendo um conosco. O modelo de família para os que buscam a vivência comprometida da fé é a família pobre da periferia de Nazaré. Já a pátria, na concepção de Deus, é aquela que acolhe a família dos filhos e filhas de Deus, oportunizando a plenitude da vida, como Casa Comum para todos e todas. O sonho de Deus é que todos alcancem a vida na sua amplitude e integralidade, como resume o Papa Francisco: “Terra, Teto e Trabalho”.
O exemplo que a liturgia nos traz hoje vem nesta mesma direção. O impossível se fazendo possível no gesto concreto de Jesus curando um homem que vivia acamado. Ao dizer àquele homem: “seus pecados são perdoados” (Mc 2,5), Jesus lhe devolve a dignidade dando-lhe a chance de ter a autonomia de caminhar com as suas próprias pernas. Lembrando que, para a concepção da época, a doença era causada pelo pecado. Para libertar aquele homem, Jesus vai direto à raiz, extirpando-lhe a fonte de todo o mal. Esta atitude de Jesus despertou a irá das autoridades religiosas que viviam a fé de teorias, dogmas e preceitos morais, sem se importarem com a vida humana daqueles que mais sofrem. Sejamos pois “jesuânicos” na nossa caminhada de fé, provocando gestos de libertação.
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