Sábado da 29ª Semana do Tempo Comum. Chegamos ao último final de semana do mês das missões. Curiosamente, estamos atravessando o 300º dia deste ano. Apenas 66 outros mais, e findaremos mais uma etapa em nossa jornada histórica deste tempo cronológico. Se a vida é uma viagem, como seguidores e seguidoras de Jesus, temos a missão de fazer com que o nosso destino seja culminado no abraço com Deus. A vida pode até ser curta, mas o carinho de Deus é infinito. Portanto, escrevamos a cada dia, com as nossas mãos e o coração, na página em branco de nossa vida, o livro mais lindo que possamos ser, quiçá inspirados nas palavras de nosso bispo Pedro: “Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama até as ultimas consequências”. A infinitude do amor de Deus está em nós. Confie!

26 de outubro. Nesta data, uma grande instituição internacional está soprando a velinha de aniversário: a Cruz Vermelha. Esta organização que foi criada no ano de 1863, em Genebra, na Suíça. Instituição de caráter humanitário e beneficente, cuidando das pessoas feridas nas guerras que acontecem ao redor do mundo. A ideia da criação da Cruz Vermelha, como entidade, cuja missão foi a de prestar principalmente os serviços médicos aos feridos de guerra. Seus valorosos membros correm risco de morte, pois estão presentes nos campos de batalha. Viva a Cruz Vermelha e viva os seus combatentes pela vida! Tudo por causa da imbecilidade da guerra. Prefiro pensar com o filosofo francês Émile-Auguste Chartier (1868-1951): “Quem quer a guerra está em guerra consigo mesmo”.

O Texto que vamos refletir neste sábado, os 9 versículos iniciais do capitulo 13 de Lucas, nos faz recordar da “Teologia da Prosperidade”. Esta corrente teológica que surgiu nos Estados Unidos, no século XIX, cujo eixo central está na comercialização da fé cristã a partir da deturpação dos ensinamentos bíblicos. Seu foco principal está na defesa ardorosa do acúmulo de riquezas materiais na terra. Ela exalta os privilégios que a riqueza e o dinheiro podem trazer, apresentando-os como se fossem uma “retribuição de Deus” aos fiéis que seguem sua doutrina, substituindo a fé e a devoção divinas por “prósperos empreendimentos”. Se a pessoa não atingiu um determinado patamar de acúmulo de bens e riquezas, é porque ela não foi suficientemente fiel a Deus.

Uma grande falácia teológica, que precisamos desconstruir na nossa relação com Deus, sobretudo porque Deus não nos vê como mais merecedores que outros menos merecedores. O Deus de Jesus de Nazaré é o Deus da amorosidade infinda, da misericórdia e do perdão sem limites. Se fosse o Deus da “Teologia da Prosperidade”, como justificar que “90% dos meninos nascidos em lares pobres morrem pobres, não importa quão capazes sejam. Mais de 90% dos meninos nascidos em lares ricos morrem ricos, não importa o quão estúpidos sejam. Portanto, o mérito não é um valor”, afirma o economista estadunidense Joseph Eugene Stiglitz, crítico contumaz da gestão da globalização da economia.

A grande revelação de Jesus para a humanidade é o rosto amoroso de Deus. Um Deus que se importa com os seus. No seu caminho rumo a Jerusalém, mesmo sabendo que iria ao encontro à morte, Ele continua com os seus ensinamentos. Na narrativa de Lucas, Jesus aproveita dois acontecimentos ocorridos em Jerusalém: Pilatos mandou matar alguns Galileus enquanto ofereciam sacrifícios no templo; sendo que 18 pessoas morreram devido à queda da torre de Siloé. Diante deste trágico contexto, Jesus aponta a necessidade urgente da conversão: “se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. (Lc 13,3) O ensinamento principal de Jesus é o de que Deus não é aquele que está sempre pronto a nos castigar, a cada passo errado nosso. Pelo contrário, Ele é o Deus compassivo e misericordioso, como o profeta Ezequiel já o definia: “Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, mas que ele volte, se converta e tenha vida”. (Ez 33,11)

Deus sempre nos dá mais uma chance, uma nova oportunidade. Sua paciência é infinda e sua imensa misericórdia não tem limites. Como estamos percorrendo o nosso peregrinar pela vida, nem sempre conseguimos ser fieis o tempo todo. Nos altos e baixos do caminhar, há acontecimentos trágicos. Estes não significam que somos mais ou menos pecadoras do que as outras pessoas. O convite à conversão está aberto a todos e todas. Converter-nos é a urgência que se faz no caminhar. Cada dia é necessário afirmar esta conversão, para que assim possamos ir construindo a nossa história. E não nos esqueçamos: Deus sempre nos dá uma última chance. O Deus de Jesus é o Deus da amorosidade sem fim. Santo Agostinho nos fez entender a nossa relação de amorosidade com Deus de uma forma muito simples: “Deus não espera que submetamos nossa fé a Ele sem razão, mas os próprios limites da nossa razão tornam a fé uma necessidade”.