Terça feira da segunda semana do Advento.
Seguimos na nossa trajetória preparando-nos para aquilo que há de vir. O tempo é presente e requer atitude de esperança na vida nova. O sonho de Deus é que estejamos vigilantes e preparados para o que der e vier. Não isoladamente, mas caminhando de mãos dadas na construção do Reino. Reino que inrrompe na história com a presença de Jesus e se faz continuidade nas nossas ações, quando da nossa adesão na caminhada com o Rei-Messias. A melhor forma de viver o Natal é aquela atitude de silêncio em nossos corações que aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida. Ser Natal na vida de quem está ao nosso lado.
O ano de 2022 caminha para a sua conclusão. Um ano importante para a nossa caminhada de Igreja. Neste ano celebramos os 60 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965). Um marco histórico de nossa caminhada e que nos abriu os horizontes para uma nova realidade de leitura do mundo. Como o Papa Francisco assim resumiu: “Irmãos e irmãs, voltemos ao Concílio, que redescobriu o rio vivo da Tradição sem estagnar nas tradições; reencontrou a fonte do amor, não para ficar a montante, mas para que a Igreja desça a jusante e seja canal de misericórdia para todos.”
Igreja como “canal de misericórdia”, como Igreja seguidora dos passos de Jesus de Nazaré. Misericordiosa assim como é misericordioso o Pai. O Deus da misericórdia infinda. Toda ação de Jesus entre nós foi para nos revelar o rosto misericordioso de Deus. Um Deus que arde em amorosidade e ternura para com os seus, sobretudo para com aqueles que desviam do caminho, como o texto que a liturgia desta terça feira nos apresenta: “Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu?” (Mt 18, 12) A ação movida pela misericórdia permite entender que o mais importante é aquela “ovelha” que extraviou no caminho e precisa ser resgatada.
“Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso.” (Lc 6,36) O Pai é misericórdia em pessoa e nós também devemos sê-lo na nossa caminhada de fé. Este é o convite que é feito a todos e todas que desejam trilhar os mesmos passos de Jesus. Vivemos numa sociedade onde os relacionamentos, são marcados por interesses e reciprocidade (meritocracia), que geram lucro, poder e prestígio. Todavia, o Evangelho desmascara e revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa, igualitária e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai.
“O Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos.” (Mt 12, 14) Ao contrário do que possamos imaginar, Deus não se alegra com a morte de quem quer que seja. A pequena ovelha desgarrada e “perdida” precisa ser reencontrada e trazida de volta ao convívio das demais. É assim que Deus age também conosco, na alegria de poder nos reencontrar. É assim também que deve comportar a Igreja. Quantas das “ovelhas” não ficam pelo caminho sem que ao menos sintamos a falta delas? A opção primeira é buscar aquelas pessoas que mais necessitam de serem resgatadas em sua dignidade de filhos e filhas de Deus; “Eu fui enviado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel.” (Mt 15,24)
“De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. (Jo 3,17) Deus não quer que as pessoas se percam, nem sente prazer em condená-las, como a nossa concepção de um Deus carrasco assim pensamos. O Deus da misericórdia infinda manifesta todo a sua amorosidade através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos e todas. Os que acreditamos em Jesus e procuramos viver o amor sem fronteiras, devemos dar continuidade a palavra e a ação dele em favor da vida. Saber acolher e cuidar de quem se perdeu pelo caminho é a missão da “Igreja em Saída”, capaz de deixar as noventa e nove ovelhas que estão seguras e ir atrás daquela que extraviou. Para que isto aconteça, precisamos deixar de lado os egos inflados; as disputas internas marcadas pelo sentimento de inveja e a busca egoísta de privilégios; a busca pelos primeiros lugares nas comunidades. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.” (Fil 2,5) Eis ai o nosso maior desafio.
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