Sábado da Quarta Semana do Tempo Comum. Entramos no primeiro final de semana do segundo mês do ano, celebrando a festa de um grande homem: São Brás de Sebaste. São Brás foi um mártir, bispo e santo católico, que viveu entre os séculos III e IV na Armênia. Como médico que era, prestou um excelente serviço à sociedade de seu tempo, tornando assim o santo protetor da garganta. Lembro-me ainda hoje, de quando criança, a nossa mãe nos levava à igreja no dia de hoje para receber a bênção de São Brás sobre as nossas gargantas.
O mês de fevereiro segue nos trazendo a chuva por aqui. O solo amazônico agradece a benfazeja chuva. As vazantes estão cheias. As represas dos assentados de nossa região voltaram ao seu normal, garantindo um ano de boas colheitas agroecológicas. O Araguaia dando o ar da graça, emoldurando de uma beleza natural infinda. Os peixes, aqui e acolá, fazendo os seus movimentos acrobáticos à flor da água, despertando o espírito pescador das pessoas em suas margens. Que bem fazem as chuvas, permitindo a continuidade de nossas vidas sem percalços! Um dia de chuva como este nos faz lembrar o poeta Fernando Pessoa que declamava em versos: “Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é”.
O sábado, prenunciando o domingo que vem vindo, no horizonte de nosso campo visual. Sábado da compaixão! Todos os dias são dias para louvar a compaixão que devemos ter em nós! Somos filhos e filhas do Deus da compaixão. Herdamos d’Ele este espírito como virtude, já que a compaixão é um sentimento típico dos seres humanos humanizados. Nosso Deus é compassivo! Jesus também é, já que a unicidade entre Pai e Filho é a essência do mistério da Encarnação: “Eu e o Pai somos Um”. (Jo 10,30). Unicidade, regada pela amorosidade, ternura e compaixão para com todos os seres vivos. Um Deus Trino, sintonia perfeita entre o Pai e o Filho, que é movido pela força revolucionária transformadora do Espírito Santo.
Um Deus Messias extremamente humano, que se apresenta como Filho do Pai amoroso, realizando ações transformadoras, não em forma de teorias jurídicas, palavras soltas ao vento, mas com gestos concretos de transformação da vida dos pequenos, pobres doentes, marginalizados, comprovando assim que é Deus mesmo quem n’Ele age. Jesus humano, cheio de compaixão, ao ponto do teólogo Leonardo Boff afirmar com letras garrafais: “Humano assim como Jesus, só Deus mesmo”. Todas as ações desenvolvidas pelo Jesus Histórico, na região da Galileia, eram plenas de compaixão. Ele via as pessoas; percebia o sofrimento delas; ouvia o apelo dos sofredores; sofria com as pessoas. Esta era a forma d’Ele viver o seu sentimento de compaixão.
Compaixão é a capacidade de compreender o estado em que a outra pessoa está vivendo. Embora confundida com a empatia, a compaixão traz em si o elemento adicional de ter um desejo de aliviar ou reduzir o sofrimento do outro. Por este motivo, ter compaixão pelo outro é mais do que colocar-se no lugar dele, uma vez que envolve o querer compreendê-lo e também ajudá-lo. Como bem expressou o líder tibetano Dalai Lama: “A compaixão é um profundo desejo de ver os outros aliviados do sofrimento, o amor é a outra faceta, um forte desejo de ver os outros felizes”. Etimologicamente, a palavra compaixão tem a sua origem no latim “compassionis”, que quer dizer “sentimento comum” ou “união de sentimentos”.
“Todas as almas nobres têm como ponto comum a compaixão”, afirmava o poeta e historiador alemão Friedrich Schiller (1759-1805). Nobreza que extravasava por todos os poros de Jesus, o Filho compassivo de Deus: amor, misericórdia e compaixão. N’Ele, a compaixão não era apenas um mero adereço de figura de linguagem, mas a junção de seu sentimento com o do outro, levando-o automaticamente à solidariedade, promovendo ações essenciais para a existência e sobrevivência de nossa humanidade perdida na escuridão da noite do tempo cronológico da história.
“Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor”. (Mc 6,34) Este é o versículo que conclui o texto do evangelho de hoje. Ovelhas sem pastor, lá e aqui! Não porque não houvesse pessoas religiosas que pudessem desempenhar tal função do pastoreio com compaixão. Como as de ontem, as autoridades religiosas de hoje estão mais preocupadas com as burocracias institucionais da hierarquia clerical patriarcal, com seus modos de vestirem e se comportar, do que no meio concreto das ovelhas perdidas e abandonadas, a ponto de trazerem em seus corpos o cheiro delas. Como bem disse o Papa Francisco: “O bom pastor tem o cheiro das ovelhas”. Pastores movidos pela compaixão e não pelo cheiro do poder e do carreirismo eclesiástico. “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”. (Jo 10,11)
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