Segunda feira da décima terceira semana do tempo comum.
A semana inicia trazendo-nos os ares do mês de julho que aponta na esquina. O semestre está concluindo a primeira etapa do ano. Ainda vamos passar pelos festejos de São Pedro, antes de concluir o mês junino. Um final de semana diferente aqui pelas bandas do Araguaia. O Centro Comunitário Tia Irene, recebeu alguns dos primeiros alunos e professores do Ginásio Estadual do Araguaia (GEA) para um encontro, possibilitando assim o recontar da história. O GEA foi o primeiro espaço escolar pensado pela Prelazia de São Félix do Araguaia. Historia contada pelo testemunho de quem passou pela experiência como pioneiros de um processo educacional inquietante e libertador.
Sob a batuta do bispo Pedro e da irmã Irene Franceschini (Tia Irene), o Gea era uma organização escolar que cuidava da formação dos primeiros professores da região que tinham apenas o primário, e também dos alunos. Com a ajuda de professores vindos de fora, de ex-seminaristas de várias partes do Brasil, possibilitou assim alcançar com êxito, o sonho de se ter uma escola freiriana, que cuidava da formação crítica, voltada para as questões sociais, “acordando” as pessoas para que elas não fossem exploradas pelos latifundiários. No dizer de Pedro, “o GEA, com o seu jeito de inquietudes, de programas de educação alternativa, de pioneirismo, passou a ser perseguido”. Nos anos de chumbo, alguns professores foram vigiados em sala de aula pelos militares, que reprimiam suas ações, sendo que alguns deles tiveram que se esconder.
A Prelazia seguindo as mesmas pegadas de Jesus, sendo uma Igreja povo de Deus em marcha. Pedro fazendo história como fiel seguidor de Jesus de Nazaré. Sua história de vida se confundindo com a história de vida do povo sofrido destes rincões do Mato Grosso. O desafio do discipulado de Jesus se fazendo presente na caminhada de Pedro, que não mediu esforços em fazer de sua vida uma entrega total às causas dos peões, posseiros, indígenas, povos ribeirinhos. Perseguido e ameaçado pelos grandes latifundiários e também por pessoas de dentro da própria hierarquia da Igreja. Não fosse o cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e o próprio Papa Paulo VI, Pedro teria sido expulso do Brasil pelos truculentos militares.
Fazer parte do discipulado de Jesus é se candidatar de antemão à possibilidade da perseguição: “Todas as pessoas que quiserem viver e seguir Jesus Cristo fielmente serão perseguidos”. (2 Tim 3,12) Estar com Jesus requer esta coragem e disposição para o enfrentamento. Pelo menos é o que nos diz o texto da liturgia desta segunda feira. Um texto muito parecido com o que lemos no Evangelho deste domingo último. Diferentemente de Lucas, aqui é Mateus que coloca na boca de Jesus uma fala direcionada a um mestre da Lei, que manifestou o desejo de seguir à Jesus: “Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás”. (Mt 8,19) A resposta de Jesus é aparentemente desanimadora para aquele pobre homem. Quase um convite ao desânimo: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Mt 8,20)
Fazer parte do discipulado de Jesus não é de todo fácil. Requer disposição para não desistir dos obstáculos que o caminhar apresenta. Mais do que ser cumpridor de preceitos, normas e tradições dogmáticas, requer uma atitude de compromisso com a vida, numa luta contumaz contra os instrumentos de morte que ameaçam a vida, sobretudo dos empobrecidos. Quem faz este caminho com Jesus precisa estar disposto a correr o risco da insegurança sobre o futuro, e estar pronto para não adiar o compromisso e nem desistir da luta: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus.” (Lc 9,62) Os seguidores de Jesus sabem que neste caminhar, é preciso ter disponibilidade contínua, capacidade de renunciar a seguranças e, ao iniciar o caminho, não ter a tentação de querer voltar atrás, por motivo nenhum.
Não é sempre que temos esta disposição de ser parte integrante do discipulado de Jesus. Muitos de nós vamos apenas até a página dois. A acomodação é uma arma poderosa que nos tira deste caminho com Jesus. Vivemos uma fé apenas de aparência. Especializamos-nos em sermos meros “assistidores de missa”, como cumpridores de preceitos sacramentais. Vivemos num espiritualismo desencarnado da realidade e adaptamos Deus aos nossos interesses comodistas. Por outro lado, Jesus nos provoca a uma fé libertadora, encarnada na realidade de sofrimento dos mais vulneráveis. Uma fé inquieta militante, resiliente e revolucionária, que nos faz lutar pelos mais fracos, oportunizando a vida acontecer em plenitude na pessoa deles. Em assim sendo, Ele está conosco.
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