Quinta feira da Oitava Semana do Tempo Comum. Abrimos hoje espaço neste tempo litúrgico, para celebrar a Solenidade do Corpo e Sangue de Jesus. Todas as quintas feiras, depois da oitava de Pentecostes, a Igreja celebra a festa de Corpus Christi. A Solenidade em honra ao Corpo do Senhor – “Corpus Christi” –, que hoje celebramos na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Trindade Santa, foi oficializada somente em 1264 pelo Papa Urbano IV. Solenidade de Corpus Christi. Juntos dos seus e da mesa preparada, Jesus disse: Tomai, isso é o meu corpo. Tomai e bebei, isto é o meu sangue.

A solenidade de Corpus Christi é a celebração do memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Na Eucaristia, partilhamos um único pão. Nele está a presença real de Jesus Cristo, conforme nos ensinaram o próprio Senhor. É desta forma que podemos ver no Evangelho de João: “Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. E como o Pai, que é vivo, me enviou e eu vivo pelo Pai, assim aquele que comer de mim viverá por mim”. (Jo 6,56-57)

A comunhão da partilha do pão é a unidade do Povo de Deus se realizando na Eucaristia. Ela é fonte e Ápice de toda a vida cristã. Assim, as celebrações eucarísticas se tornam essenciais para a vida de todo cristão, pois nos une à liturgia teologal eclesiologia, e nos antecipa a vida do Reino de Deus. Na Eucaristia está enraizada toda a compreensão do mistério da Encarnação e o sentido de todo o ensinamento de Jesus. Aquilo que o povo de seu tempo viveu, as primeiras comunidades experimentaram na vida e, mais tarde, deixaram por escrito para toda a humanidade.

“O corpo do meu Senhor é força viva de paz! O sangue do meu Senhor é força viva de paz!” Assim, nosso menestrel Zé Vicente, nos ensinou a rezar cantando. Também o evangelista Marcos, nos ajuda rezar hoje, com este belíssimo texto, em que ele narra Jesus celebrando com os seus discípulos. O texto está intimamente ligado a Quinta feira Santa, em que Jesus institui a Eucaristia, que está lá em Lc 22,14-20. Ali, a última Páscoa celebrada por Jesus com os seus discípulos, indica o sentido da sua morte: Ele se entrega totalmente (corpo, sangue) em favor de toda a humanidade. Trata-se de um gesto supremo de amor que liberta as pessoas de uma vida marcada pelo mal do egoísmo e da indiferença. Somente assim se pode construir a Nova Aliança, que produz a sociedade fundada no dom de si para o bem de todos.

Estamos, portanto, diante da ceia pascal de Jesus com os discípulos, recordando a multiplicação dos pães. Ela substitui as cerimônias do Templo e torna-se o centro vital da comunidade formada por todos aqueles e aquelas que seguem os passos de Jesus. O gesto e as palavras d’Ele não são apenas afirmação de sua presença sacramental no pão e no vinho. Manifestam também o sentido profundo de sua vida e morte, isto é: Jesus viveu e morreu como dom gratuito, como entrega de si mesmo aos outros, opondo-se a uma sociedade em que as pessoas vivem para si mesmas e para seus próprios interesses. Na “ausência” de Jesus, os discípulos e nós, somos convidados a fazer o mesmo: partilhar o pão com os pobres e viver para os outros.

Na celebração Eucarística, a Palavra e o Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se transformaram no gesto de partir o pão e de oferecer o sangue, como antecipação do sacrifício da cruz, naquelas palavras: “Tomai e comei, isto é o meu corpo… Tomai e bebei, isto é o meu sangue”. Celebrar a Eucaristia é, portanto, celebrar o memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus. O gesto de Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia, pela sua compaixão pela humanidade inteira. Tanto que em grego, “eucaristia” quer dizer “ação de graças”. É por este motivo que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema ação de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto que nos ofereceu o seu Filho por amor.

Assim, nesta quinta feira somos convidados a celebrar o Sacramento da Eucaristia, enaltecendo o mistério pascal de Jesus, aquele que deu a vida, em fidelidade ao Pai pelas causas do Reino. Cada vez que celebramos a Eucaristia, participamos do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e nos comprometemos a levar adiante o seu Projeto do Reino, partilhando o pão com todos os famintos e aqueles que necessitam de cuidados, os mais pobres. Não é comungar do pão eucarístico e voltar para casa com a consciência tranquila, por ter cumprido um preceito religioso, mas é fazer da própria vida Eucaristia, como “corpo crístico”, dando a vida pelo Reino de Deus, na irmandade com os pobres. Receber a Comunhão na mesa da partilha é fazer comunhão com todos aqueles que estão na marginalidade de uma sociedade opressora e excludente.