Categories: Reflexões Bíblicas

O coração feminino de Deus (Chico Machado)

Sexta feira da Terceira Semana da Quaresma. A quaresma vai se delineando, nos convidando a fazer uma experiência de fé mais profunda com o Deus que é amor. Criou-nos com este distintivo e nos enviou o Filho para que encurtássemos o caminho que nos leva ao Pai amoroso. Da relação de amor divino entre o Pai e o Filho, experimentamos em nós a força do Espírito Santo, que nos queima por dentro e nos faz sermos plenos da divindade de Deus nas três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O Ser transcendente de Deus veio nos visitar e fazer morada em nós, através do Filho que é um de nós conosco. Esta é a essência da conversão verdadeira, já que o amor nos aproxima de Deus e nos faz como Ele é.

Março vem sextando mais uma vez. Por aqui, o dia não amanheceu. O Sol foi enganado por São Pedro, que fez descer do céu uma imensa tempestade. O Araguaia amanheceu com um sorriso de barranco a barranco, recebendo com alegria do céu, tamanha quantidade de água. A escuridão tomou conta das primeiras horas do dia se fazendo ainda noite. De sorte que, sem os ventos e os estrondosos trovões, típicos das “águas de março fechando o verão”, assustando a cachorrada pelos quintais. Dias de sol e também de chuva, fazem parte da criação de Deus, que criou a natureza pronta para nos servir e cuidar da nossa sobrevivência. Como os poetas veem beleza em tudo, Fernando pessoa que o diga, quando afirma: “Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é”.

É tempo de Quaresma, mas entramos num dia especial: “Dia Internacional das Mulheres”. Lembrando que, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o dia 08 de março tornou-se o símbolo principal de homenagens às mulheres. Uma data que, a partir dos anos 1960, a comemoração do dia 8 de março já tinha se tornado tradicional, mas foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU), apenas em 1975, quando declarou o “Ano Internacional das Mulheres”, como uma ação voltada ao combate às desigualdades e discriminação de gênero em todo mundo. Mesmo sabendo que as mulheres têm pouco a comemorar, principalmente diante de uma sociedade, cujos machistas de plantão, filhos do patriarcado, fazem ainda das mulheres seres subalternos. Ser mulher é estar pronta pra lutar!

Um dia pra chamar de seu! Se bem que todo dia, é dia da mulher! Todo dia é dia de mulher, ser e estar onde ela quiser! Elas já tiveram muitas conquistas, graças a sua incansável luta. O que seria do homem sem as mulheres? Se bem que cada um de nós traz em si o ser feminino, como essência do existir. Certo é que, sem elas, não estaríamos aqui. Bem disse a professora terapeuta holística, que é da Tanzânia, mas atua em João Pessoa, Paraíba, Efu Nyaki: “Metade do mundo são mulheres. A outra metade, os filhos delas”. Quem somos nós para dizer o contrário. Aqui no Brasil, segundo o último senso do IBGE de 2022, temos 104,5 milhões de habitantes mulheres, o que representa uma fatia de 51,5% da população, enquanto 48,5% do total de brasileiros são homens. Eu só sei que o meu lado feminino, é aquilo que aprendi na infância, convivendo ao lado de 11 mulheres (minha mãe e 10 irmãs) Sei ser o que elas me ensinaram a ser.

Jesus tinha uma relação muito estreita com as mulheres de seu tempo. Embora os Evangelhos não tragam este registro, de que no grupo de Jesus haviam várias mulheres discípulas do Mestre. Se bem que hoje Ele não está se dirigindo a elas especificamente, mas aos escribas que d’Ele se aproximaram. No tempo de Jesus, os escribas eram pessoas, cujo nome já dizia, eram pessoas, que exerciam a profissão de escrever. Eles registravam e copiavam coisas importantes por escrito, como: documentos legais ou administrativos, registros históricos, informação comercial e as Escrituras. No Novo Testamento, por exemplo, os escribas também eram professores da lei judaica. Ao se dirigirem a Jesus e o inquirirem, o fizeram com o intuito de saber se Ele sabia ou não a tradição e os conhecimentos judaicos. A pergunta dirigida a Jesus é objetiva: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” (Mc 12,28)

Como bom judeu, a resposta de Jesus é sucinta e também objetiva: “O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! (Mc 12,29-31) Jesus, fazendo referência ao capitulo 6 do quinto livro do Pentateuco, o Deuteronômio. Numa síntese perfeita, Ele resume a essência e o espírito da vida humana num ato único com duas vertentes inseparáveis: amar a Deus com entrega total de si mesmo, porque o Deus verdadeiro e absoluto é um só e, entregando-se a Deus, a pessoa tira o foco se si mesma, o próximo e as coisas. O desafio é o de amar ao próximo como a si mesmo, ou seja, a relação num espírito de fraternidade e não de opressão ou de submissão. Quando se ama a Deus, a pessoa tem que estar ciente que este amor se completa, necessariamente, no amor ao outro que conosco convive no dia-a-dia: “pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. (1Jo 4,20).

Luiz Cassio

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