Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum. Agosto se foi e setembro vem dando o ar da graça. Iniciamos bem o mês da Bíblia. O primeiro dia é o “Dia do Senhor”. Setembro sem muita vontade de vir até nós, dado o calor absurdo, também provocado por intensas queimadas, deixando-nos até com dificuldades para respirar. É impressionante como o bicho homem sente a necessidade de queimar tudo, agredindo ferozmente a mãe natureza. O verde se tornando cinza. O homem que se considera o animal mais inteligente do planeta e é o único que destrói a natureza. Vai entender!
Primeiro de Setembro. Todos os anos, é celebrado nesta data, o “Dia Mundial de Oração pela Criação“. Para este ano o Papa Francisco escolheu como tema “Espera e age com a criação”, numa referência à Carta de São Paulo aos Romanos 8, 19-25. O Apóstolo, ao esclarecer o significado de viver segundo o Espírito, concentra-se na esperança firme da salvação pela fé, que é vida nova em Cristo. Deus Pai Criador formou a vida a partir de um “vazio sem forma”, um grande nada sem luz ou vida (Gn 1, 2). A decisão do Criador de acender uma faísca no meio dessa escuridão é generosa para além da nossa compreensão. Como nos diz o Papa Francisco, “todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus” (Laudato Si 84).
Setembro é o mês da Bíblia. A escolha deste mês está ligado ao Dia de São Jerônimo, que é celebrado no dia 30. Ele que ficou conhecido como o tradutor da Bíblia para o latim. A celebração do Mês da Bíblia tem como objetivos principais, aproximar as pessoas da Palavra de Deus, promovendo aquilo que chamamos de “leitura orante” e reflexiva da Palavra de Deus. A leitura orante, pressupõe quatro passos a serem seguidos, como forma de absorver melhor as Escrituras Sagradas: leitura; meditação; oração; e contemplação. Isso requer dedicação e escuta atenta à Palavra de Deus.
Todos os anos, quando chega o mês de setembro, a Conferência Nacional do Brasil – CNBB nos propõe a leitura específica de um dos livros da Bíblia. Para este ano, a nossa tarefa é refletir com o livro do profeta Ezequiel. O lema escolhido é: “Porei em vós meu espírito e vivereis” (Ez 37,14). Como o contexto deste livro está ligado ao exílio babilônico, o profeta, vem com o espirito de convocar e restaurar a vida do povo de Deus, que tinha sido dominado, destruído e exilado longe de seu torrão natal. Mesmo parecendo tudo morto e sem esperança, com a ajuda do profeta, o povo retoma sua história, se desvencilhando de uma atitude fatalista e passiva diante desta sua própria história.
Neste Vigésimo Domingo do Tempo Comum a liturgia nos oferece o texto do Evangelho de Marcos, em que Jesus está, mais uma vez, tendo um embate com os mestres da Lei e fariseus. Desta vez, eles estão interrogando Jesus do porquê os discípulos não lavam as mãos antes de comer, como manda a Lei. Exímios cumpridores de preceitos e normas legais, eles não aceitam que os discípulos de Jesus infrinjam a Lei. Na visão dos fariseus as normas escritas na Tora não podiam ser ignoradas. E elas eram muitas. Na época de Jesus, a “tradição dos antigos” era constituída de 613 leis, das quais 248 eram preceitos de formulação positiva e 365 eram preceitos de formulação negativa. As regras da “pureza” (cf. Lv 11,1-15,33) tinham sido ampliadas pelos doutores da Lei. Havia uma lista de coisas que tornavam o homem “impuro” e que o afastava da comunidade do Povo de Deus. Daí a obsessão com os rituais de “purificação”, que deviam ser cumpridos a cada passo da vida diária.
Todavia, Jesus desmascara o que está por trás daquelas práticas apresentadas como religiosas pelos doutores da Lei e fariseus. Enquanto as autoridades tinham uma prática religiosa de aparência, mostrando toda a falsidade deles, Jesus faz o contraponto ao dizer que, o que vem de fora não torna a pessoa uma pecadora, e sim o que sai de dentro do coração dela, isto é, da consciência humana, que cria os projetos e dá uma direção às coisas. Jesus anuncia uma nova forma de moralidade, onde as pessoas podem relacionar-se entre si na liberdade e na justiça. Com isso, Ele abole a lei sobre a pureza e impureza (Lv 11), cuja interpretação era o fundamento de uma sociedade injusta, baseada em tabus que criavam e solidificavam diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos.
Como para o povo semita, o coração é o centro das principais decisões e atitudes, é de dentro dele que mostra quem a pessoa realmente é. É o que sai de dentro do coração das pessoas que as tornam puras ou impuras. “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, dir-nos-ia o filósofo e teólogo francês Blaise Pascal (1623-1662). “A boca fala aquilo de que o coração está cheio”, emenda o evangelista Mateus. (cf. Mt 12,34) É o nosso coração que diz quem nós somos, de fato. Ele revela o nosso ser. Se de dentro dele sai toda forma de amorosidade, podemos dizer que somos seres misericordiosos e entendemos bem os ensinamentos de Jesus, nos fazendo discípulos seus. O coração caracteriza o ser humano na sua interioridade, autenticidade e totalidade, uma vez que ele é o centro da vontade e das opções.
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