Viajei muito pelo médio Rio Solimões entre as divisas de Codajás e Tefé, no Amazonas, como relato em “O Segredo dos Rios – Aventuras de um Missionário Caboclo, Ed. Alta Performance, 2021.
Nas frequentes viagens, observava, da proa do barco, as margens, centrando o olhar para a cor da terra, os barrancos caídos, as águas entrando nas matas, as grandes enchentes e as novas praias nas vazantes. Entretanto, mais encantador e delirante era ver o verde ganhar seu tom de maior esplendor.
Vinha a imagem das águas do Templo escorrendo e florindo a terra, multiplicando as sementes e sombreando as águas cristalinas.
“Ezequiel 47, relata a visão de como fluirá água de sob o templo de Jerusalém em direção ao leste, aumentando cada vez mais até tornar-se um rio. O rio fluirá para o Mar Morto que “viverá” novamente com peixes e vegetação”.
Minha mente viajava no tempo imaginando a formação geológica da região, nos milênios anteriores. Sempre enchentes e vazantes, correntes de força arrastando ilhas, formando praias e novos lagos. A natureza se refazia e podíamos aplicar o princípio que a “vida cura a própria vida”.
Pensava nos habitantes que povoaram esses lugares, os omáguas e os várias grupos étnicos que a história registra e que os sítios arqueológicos confirmam. Uma das verdades desses povos era a harmonia de convivência com a floresta e o rio. Vida simples de caçador e pescador, de agricultura básica para sobreviver sem desperdícios. Exemplo para nós consumidores, que descartamos lixo e envenenamos a natureza!
O Templo da Natuteza exuberante tornou-se Mercado predatório. O culto prestado a ele fazem até águas mortíferas, por uso de mercúrio para o garimpo ou dos agrotóxicos. A natureza já não dá para recuperar-se usando sua forma milenar de cura.
Perdido nas imagens da infância ribeirinha e na vida adulta que tudo questiona, navegava contemplando os barrancos altos, comuns de um lado do rio, enquanto, do outro lado, a várzea de terra lavada, sedimentando-se para formar novas ilhas.
A formação geológica da região, aconteceu como resultado do trabalho das águas que dos Andes desciam escavando o chão e encontrando um trajeto facilitado para chegar ao mar. Vinha-me à imaginação, que por milhões de anos, existiam lagos imensos e pequenas montanhas no Vale Amazônico. Os barrancos altos e vermelhos atiçavam-me a essas conjecturas.
Nossa Amazônia, nesse ritmo acelerado, cada vez mais degradada e morrendo, é ameaçada se transformar num deserto de luto ou em lamaçal de águas povoadas de doenças.
Salvemos nossa Casa Comum! Deus assim o quer para torná-lo o novo jardim do Éden.
Os estranhos da região até chamam de “inferno verde”, que agora está mudando de cor, ficando cinza. Inferno apenas quando o fogo arde.
Nós, comprometidos com o conteúdo de salvaguarda das florestas e dos rios, sonhamos no Jardim Azul do Éden.
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