Quarta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. Incorrigível amante da Lua como sou, este satélite que orbita o Planeta Terra a brilhar em nosso céu, está na fase Nova, apenas 17% visível a olho nu para nós. Dentro de dois dias e ela passará à fase Crescente. A título de curiosidade, o ciclo lunar, como é chamado o intervalo de tempo entre Luas Novas, é sutilmente variável, com média de duração de 29,5 dias. Lembrando que durante esse período, ela passa pelas quatro fases principais (Nova, Crescente, Cheia e Minguante), e cada uma prolongando-se por aproximadamente sete dias. No dia 13 de julho próximo, precisamente às 19h49, ela entrará na sua fase Crescente.
“Todas as coisas foram feitas por intermédio d’Ele; sem Ele, nada do que existe teria sido feito”. (Jo 1,3) Contemplar a Lua e as estrelas no céu, é contemplar a natureza como obra e criação de Deus. Nosso Deus é o Deus da Criação. Amou tanto, que nos criou à sua imagem e semelhança. À semelhança d’Ele nos criou. Somos filhos e filhas de Deus e irmãos de Jesus na caminhada. Como nos assegura a teologia Joanina, no começo, antes da criação, o Filho de Deus já existia em Deus, voltado para o Pai: estava em Deus, como a Expressão de Deus, eterna e invisível. O Filho é a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de amorosidade e de mútua comunicação: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30)
Em Jesus fazemos parte da irmandade dos filhos e filhas do Deus da criação. Somos todos e todas chamados/as a fazer parte desta grande família. E o chamado é nominal. O chamado é pessoal, como podemos ver no Evangelho que Mateus nos apresenta no dia de hoje, com Jesus chamando os doze discípulos que vão compor o seu grupo inicial. Interessante salientar que Mateus apresenta a lista dos nomes dos discípulos, seguindo a mesma ordem tanto de Marcos (3,16-19) como de Lucas (6,14-16). O primeiro da lista é “Simão, chamado Pedro”. A sequência dos nomes segue no formato dois a dois e encerra com Judas Iscariotes, aquele que o haveria de trair. Este chamado é acompanhado de algumas instruções importantes, feitas por Jesus: dar continuidade a missão entre os israelitas, e anunciar o Reino de Deus.
Jesus chama as pessoas simples do meio do povo. Ele não se dirigiu ao templo ou aos palácios, para chamar as autoridades religiosas e políticas, mas chama os “desqualificados” e “desclassificados”, pessoas rudes e sem muitas instruções: pobres, pescadores, cobradores de impostos, pecadores, pessoas vindas do paganismo. Portanto, o critério de escolha de Jesus não passou por nenhum tipo de meritocracia, ou de aptidões qualificadas. Ele chama pelo nome a reveste de poder para servir e não para dominar e sobrepor aos demais. Primeiramente discípulos e, posteriormente, apóstolos com o mesmo poder de Jesus: abrir os olhos e o coração das pessoas (expulsar demônios) e libertá-las de todos os males (curar doenças). Os doze apóstolos formam assim o núcleo da nova comunidade, chamada a dar continuidade a palavra e ação de Jesus.
Em Jesus, Deus nos chama pelo nome. O convite é feito de forma pessoal, mesmo que a missão deva acontecer na comunidade. Deus nos conhece profundamente e ao nos chamar pelo nome, Ele sabe das nossas limitações e imperfeições, dando-nos força para que sejamos capazes de dar conta da missão que nos é confiada. Foi assim também com o profeta Isaías e com muitos dos e das que são chamados/as a cada dia. “Não temas, porque eu te redimi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu”. (Is 43,1) A aliança de Deus feita no passado se renova a cada dia com o chamado que Ele nos faz e deste chamado, jamais abrirá mão: Deus está disposto a trocar tudo para libertar e reunir-nos para que possamos transformar a história pelas nossas próprias ações, pois é olhando para dentro da nossa história que poderemos compreender quem é o Deus vivo que caminha conosco na pessoa do Filho.
Vocação é chamado! Cada um de nós recebeu este chamado de Deus, e cada um carrega em si a vocação para a qual Deus o chamou. Assim como aos discípulos, Jesus continua chamando os seus hoje, para fazer parte de seu grupo. Ele nos chama pelo nome. Desta forma, somos desafiados a fazer da nossa vida, instrumentos de salvação para os outros nossos irmãos e irmãs. A missão é reunir o povo para seguir a Jesus, o Messias Salvador. Esta missão se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença deste Reino no meio de nós. A missão se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Somos portadores da libertação. Como ajudou o Padre Zezinho a embalar as nossas vocações, em uma de suas canções: “Se ouvires a voz de Deus, chamando sem cessar. Se ouvires a voz do mundo, querendo te enganar. A decisão é tua! A decisão é tua!”
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