O caminho da vida, por Chico Machado.

Segunda semana da Páscoa.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Iniciamos a semana trazendo presente um grande personagem do cristianismo. A Igreja celebra hoje a festa do evangelista São Marcos. Ele que teve uma participação significativa nos primórdios do cristianismo, uma vez que foi ele o autor do primeiro evangelho. Um texto bem menor que os demais evangelhos, mas de profunda densidade. Evidentemente que Marcos não fez parte dos primeiros apóstolos, entretanto, fez uma longa caminhada ao lado de Pedro e Paulo, sendo testemunha ocular da terrível perseguição do Império Romano, sobre os primeiros cristãos. Lembrando que Pedro foi também crucificado (de cabeça para baixo) e Paulo teve a sua cabeça cortada.

O cristianismo não nasce no berço elitista dos grandes palácios. Ele nasce no caminho de luta percorrido pelos primeiros cristãos, testemunhando a fé com as suas próprias vidas. A perseguição não parou em Jesus, mas se estendeu sobre todos aqueles e aquelas que abraçaram a fé, doando suas vidas pelas mesmas causas de Jesus. O cristianismo, portanto, é martirial, pois estar ao lado dos pequenos, pobres e marginalizados, rende a perseguição. Tomar para si a cruz de Jesus é sinal de contradição, num mundo marcado pela desigualdade. “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Ou seja, Jesus não engana seus seguidores. O caminho se faz com o testemunho em meio às lutas e perseguições. Todavia, é também de confiança e paz, pois os seguidores podem contar com o amor incondicional do Pai e a certeza da vitória.

Nesta segunda feira (25), comemoramos também o Dia Mundial de Luta Contra a Malária. Esta data foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2007, para marcar o reconhecimento e todos os esforços de todo mundo, para manter o controle efetivo desta doença infecciosa febril aguda, transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada pelo microrganismo Plasmodium. Assim que cheguei à Prelazia (1992), alguns meses depois, fui premiado com a picada da tal “mosquita”. Tive que ficar de molho na casa de Pedro. Ao ver-me com aquele quadro, sintomático, ele simplesmente me disse: “Chicão, agora você foi batizado no Mato Grosso. Bem vindo aos ‘malarentos’”. A febre é algo delirante. Surreal. Entrei na prelazia pela porta da frente.

Seguimos nós ainda sob a égide do clima pascal. Paulatinamente vamos decifrando a Ressurreição de Jesus e o modus operandi da missão à luz da Palavra de Deus. Palavra esta que Marcos nos oportuniza no dia de hoje, nos colocando na mesma cena de Jesus com os seus discípulos. A eles o Mestre delega o seguinte poder: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15) Jesus que está devolvendo a esperança de seus seguidores, insuflando-os a continuarem a sua missão. Num clima de tensão e medo, o encorajamento se faz necessário. A tarefa é árdua e difícil, mas precisa ser continuada na pessoa daqueles e daquelas que com Ele se põem no caminho.

Os mais entendidos das questões bíblicas (biblistas, exegetas) diriam que este texto específico de hoje (Mc 16,15-20) não fora escrito pelo evangelista em questão, mas foi um adendo feito por outro autor, já que difere das características do primeiro evangelista. Contudo, ao ser inserido aqui neste contexto, provavelmente quiseram fazer uma síntese sobre as primeiras aparições de Jesus e o dístico característico da missão dos seguidores, constituindo assim a Igreja. Mesmo sendo um texto acrescido posteriormente, ele conserva o pensamento central de Marcos, qual seja o de que os seguidores e seguidoras de Jesus devem dar continuidade à ação d’Ele na história, como caminho, resistência e esperança. Nosso bispo Pedro diria também com a teimosia e utopia.

Este é o desafio que nos é colocado enquanto seguidores e seguidoras deste Jesus: fazer acontecer na história a missão que Ele iniciou entre nós. Não estamos sozinhos nesta nobre missão. Conosco vão todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus. Conosco também vai a própria pessoa de Jesus que se faz presente em nossa caminhada, sendo um conosco: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28,20) O sangue martirial de Jesus corre nas nossas veias. O sangue dos mártires da caminhada marca o caminho por onde devemos trilhar. Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! Que a Divina Ruah nos ilumine!

Pedro Dias

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