O caminho d Jerusalém (Chico Machado)

Terça feira da 26ª Semana do Tempo Comum. Outubro finalmente chegou, e com ele, o nosso compromisso missionário. Outubro é o mês missionário. Período dedicado à reflexão e à ação missionária. Para este ano, o Papa Francisco escolheu como lema “Ide, convidai a todos para o banquete” (Mt, 22,9), e o tema “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”. A intenção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é mobilizar todas as comunidades católicas para o engajamento na evangelização e no apoio às populações vulnerabilizadas. As atividades do mês incluem além das celebrações litúrgicas, experiências de missão nas comunidades, formações e campanhas de arrecadação de alimentos e roupas, além de ações de sensibilização sobre a importância da missão na vida das comunidades.

No mês das missões, iniciamos da melhor maneira possível, pois no dia de hoje, celebramos a memória de Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897). Por incrível que pareça, não errei nas datas de nascimento e morte desta grande mulher de Deus, já que ela viveu apenas 24 anos, aqui neste plano existencial, acometida de tuberculose. Francesa de nascimento viveu o suficiente para se transformar numa referência no conhecimento (doutora) e espiritualidade, justamente no final do século XIX, no auge do pensamento positivista, de Auguste Comte (1798-1857), dentre outros, impulsionando as ideias anticlericais e ateístas. Daí a importância de Teresa com a sua espiritualidade, também chamada de “teologia do Pequeno Caminho” ou “da Infância Espiritual”. Trata-se de uma espiritualidade, cuja prática do amor a Deus não se baseava em grandes ações, mas em pequenos atos e gestos diários, aparentemente insignificantes.

Em 1923, Teresa foi beatificada pelo Papa Pio XI, que a considerava a “estrela do seu Pontificado” e, logo a seguir, canonizada em 1925. Influenciado por Teresa de Lisieux, como era também conhecida, deixei falar dentro de mim o meu lado filosófico que um dia pensei ser. Ela que encontrou um jeito simples e prático de abordar a vida espiritual, tornando-se uma das santas mais populares. Na simplicidade de Teresa rezei nesta manhã pensando também na atitude “kenótica” de Jesus. Ele, com toda humildade, se fez despojado, abrindo mão de toda forma de privilégios. Esta atitude de Jesus é aquilo que a Teologia chama de kênosis, expressão derivada do grego que quer dizer, renúncia de privilégios, que Sua divindade unida à humanidade Lhe daria direito, mas Ele renunciou e preferiu assumir a condição de servo, uma vez que, mesmo sem pecado algum, carregou sobre si as nossas dores e enfermidades, conforme disse o profeta Isaías 53,4.6.

Jesus que no texto do Evangelho de hoje está traçando o seu roteiro a caminho de Jerusalém, a caminho do Calvário, como um cordeiro levado ao matadouro (cf. Is 53,7). “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. (Lc 9,51) Os discípulos, a princípio, não entendem esta decisão de seu Mestre, uma vez que Ele estava indo ao encontro de sua morte, já que lá em Jerusalém, estavam as forças da morte, desejosos de matar Jesus e por um fim em seu movimento, ameaçando as estruturas do poder do Império. Mas Jesus está decidido e caminha para Jerusalém, como fidelidade ao Pai, realizando o seu destino. Ele sabe que este caminho o levará à cruz, morte e à ressurreição. A sua “hora” chegou: dar a vida para salvar as vidas. Dom total de si mesmo para salvar a todos e todas.

Este é o caminho de Jesus. Ao encarnar-se na realidade humana, Ele sabia que teria que passar pelo Calvário, como forma de fidelidade total ao projeto de Deus. O caminho de Jesus, necessariamente, passa por Jerusalém. O evangelista Lucas apresenta este caminho de Jesus como um caminho que se realiza na história humana. Para percorrê-lo, o Filho de Deus se faz humano em Jesus de Nazaré, trazendo para dentro da história humana o projeto de salvação que Deus tinha revelado, conforme a promessa feita bem antes, lá no Antigo Testamento. Com este seu caminho, Jesus inicia o processo de libertação dentro da própria história humana, realizando uma nova história, qual seja, a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações de amorosidade, ternura e compaixão entre as pessoas. A esperança de Deus renasce e se renova na pessoa de Jesus que traz para a realidade humana, uma nova forma de viver com plena intensidade. Este é o momento de esperançar com Santa Terezinha que nos assegura que: “Os mais belos pensamentos nada são sem as obras”; e “Eu sou aquilo que Deus pensa de mim”.

Luiz Cassio

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