Segunda feira da Vigésima Terceira Semana do Tempo Comum. A segunda semana do mês da Bíblia vai acontecendo na nossa história de vida. O mês que nos saúda com a primavera, vindo de maneira diferente: fogo, calor e fumaça. Aqui e acolá, um ipê matizando o ar, resiste à destruição causada pela insanidade humana. “Nossa luta é para salvar a humanidade, mantendo a floresta em pé”, disse-me acertadamente um dos caciques Xavante, estando aqui por São Félix nesta semana. Eles que são os guardiões da floresta, falando com propriedade. Para eles, a natureza é o espaço do sagrado, dos valores e saberes ancestrais culturais.

Enquanto setembro vai dando as caras, nos municípios brasileiros, as campanhas eleitorais vão se desdobrando. Neste ano de 2024, cerca de 155 milhões de brasileiros eleitores, vão votar em 5.569 municípios, durante as eleições municipais. Lembrando que as Eleições Municipais de 2024 serão realizadas no dia 6 de outubro, com a possibilidade de um eventual segundo para aqueles municípios com mais de 200 mil eleitores, devendo ocorrer no último domingo do mesmo mês (dia 27). É impressionante como as pessoas mudam, em busca do voto do eleitor. Nestas horas, elas viram seus amigos, vem à sua casa, batem em suas costas, dizendo serem seus amigos de longa data. Cinismo e falsidade, andando de mãos dadas.

Como o mês é o da Bíblia, iniciei a minha semana em clima de leitura orante da Palavra de Deus. Veio-me nitidamente à mente o primeiro versículo da Carta de Tiago, da liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum: “A fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas”. Como é difícil colocar na ordem do dia, a prática deste versículo, na relação que estabelecemos com as pessoas. Ser de Jesus e com Ele, não permite que façamos distinção de pessoas, principalmente entre aquelas com um poder aquisitivo melhor, em detrimento daquelas que estão caídas à margem do caminho. Nestas horas me lembro do que nos dizia o nosso bispo Pedro: “nossa missão, como seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, é descer da cruz os crucificados da historia”. Esta é a perspectiva da Cristologia da Libertação.

Se ontem a liturgia nos possibilitou a reflexão com o texto do Evangelho de Marcos, de um Jesus “fazendo bem todas as coisas”, hoje, somos desafiados com o texto da comunidade Lucana. Jesus, em dia de sábado, entrando na sinagoga e ensinando. Um ambiente propício para ser observado pelos mestres da Lei e fariseus, para ver até onde iria à audácia de Jesus no descumprimento das tradições religiosas, adotadas por eles. Naquele contexto, aparece um homem com a mão atrofiada. Tudo o que as lideranças religiosas esperavam, é que Jesus fizesse a cura daquele homem, o que era veementemente proibido em dia de sábado.

Jesus não se faz indiferente àquela situação. Movido pela sua pedagogia do cuidado e da atenção, para com aquele pobre homem, Jesus desarma os espíritos dos mestres e fariseus ao perguntar-lhes: “O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?” (Lc 6,9) Interessante observar no texto que Jesus, antes mesmo deles responderem, toma a iniciativa de não somente curá-lo, mas também de trazê-lo para o centro. Isto foi o bastante para desencadear uma série de críticas dos adversários de Jesus. Se antes, eles atacavam os discípulos de Jesus, por não fazerem aquilo que estava previsto no cumprimento da lei do sábado, desta vez, eles o fazem diretamente ao Mestre Galileu.

Jesus é o taumaturgo de Deus, ou seja, aquele que realiza sinais (milagres). Sua atividade taumatúrgica, fazia a multidão ficar admirada com a sua capacidade terapêutica: “Numerosas multidões se aproximaram de Jesus, levando consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes. Os colocaram aos pés de Jesus. E ele os curou. Os mudos falavam, os aleijados saravam, os coxos andavam e os cegos viam”. (Mt 15,30-31) Jesus os curavam com as mãos (Mc 6, 5), com saliva (Mc 8, 22-25), com a palavra (Jo 5, 2-9), com sua ausência física (Mc 7, 24-30; Mt 8, 5-13). Atividade taumatúrgica que curava toda sorte de enfermidade e alienação. Jesus curou o homem da mão seca e disse também aos mestres da Lei e fariseus, que a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para as pessoas, deixando-os furiosos. Eles, porém, preferem ficar com o velho sistema e se reúnem para planejar a morte de Jesus, pois Ele está destruindo as ideias de religião e sociedade que eles mantinham.