Categories: Reflexões Bíblicas

O anúncio da felicidade (Chico Machado)

Segunda feira da Décima Semana do Tempo Comum. Iniciamos a semana, grávidos de esperança. Esperar esperançando, fazendo e acontecendo. Acreditando em mais uma semana que teremos pela frente, e que faremos o melhor que podemos ser. Deixar de lado o mínimo necessário, para abraçar toda a nossa potencialidade envolvida na construção de um mundo melhor, de novas relações, novas perspectivas na busca concreta de nossas realizações. Se quisermos um mundo melhor, sejamos melhores. Se quisermos um mundo de mais amor, sejamos amorosidade. Tudo começa primeiro por nós mesmos. Sejamos a justiça que queremos ver no mundo.

“Deixarás de temer quando deixares de ter esperança”, afirmava o filósofo e dramaturgo romano, Sêneca. Em tempos difíceis, é preciso lutar esperançando, como nos ensinou nosso maior pedagogo. Nos seus escritos Paulo Freire nos dizia que: “É preciso ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”. Esta é, portanto, nossa caminhada neste mundo, de mãos dadas com todos aqueles e aquelas que abraçam conosco o esperançar do fazer acontecer.

Jesus é o profeta da esperança. Não apenas anunciava o Reino de Deus, mas ia realizando-o através de sua ação libertadora. O Verbo de Deus encarnou em nossa realidade humana, trazendo até nós o sonho de Deus, de nos ver felizes e realizados. Criando-nos à sua imagem e semelhança, para que assim pudéssemos alcançar a plenitude de nosso existir, semeando entre nós a esperança do amor, da fraternidade, da justiça e da ternura de um Deus que muito ama, tanto que veio morar no meio de nós. A boniteza da relação entre Deus e o seu Filho Jesus, se espalha pelos corações daqueles/as que se abrem em “fraternura”, semeando a esperança do existir do Reino que está aqui e agora, como obra de arte do Criador.

Nesta segunda feira somos embevecidos com um dos textos mais belos de todo o Novo Testamento. Deixamos Marcos um pouco de lado e nos apropriamos da narrativa do evangelista Mateus, com o seu “Sermão da Montanha”, que ocupa os capítulos de 5 a 7 de seu evangelho. Ele inicia este sermão, narrando para nós as “Bem-Aventuranças”. As bem-aventuranças estão entre as palavras mais revolucionárias e desconcertantes, ditas por Jesus. Mais do que um discurso, trata-se de um projeto de vida para toda a fé cristã. “Bem-aventurados os pobres em espírito” (Mt 5,3). Jesus se passando como o novo Moisés, instituindo a nova Lei, para o novo Povo de Deus. Uma nova forma de ver o mundo, com os pobres sendo protagonistas, uma vez que são eles os que mais esperavam pelo Reino. Com a vinda de Jesus, chegou a hora e a vez desse Reino.

Reino de paz e justiça! Uma não existe sem estar vinculada à outra. Esta era a ideia também do profeta Isaías, que nos seus escritos já dizia: “o fruto da justiça será a paz”. (Is 32,17) Na compreensão bíblica, o objeto da esperança é um mundo novo onde reine a justiça e o direito que geram paz e prosperidade para todos, como está descrito na sexta bem-aventurança: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. (Mt 5,6) Os pobres e humildes cumprem a justiça, isto é, a vontade divina com entusiasmo e determinação, com fome e sede, e são justificados pelo Senhor que é a nossa-Justiça.

Feliz o justo que sofre pela justiça! As bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e não o conformismo ou o comodismo alienante. Elas anunciam a vinda do Reino, através da palavra e ação de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles e aquelas que a sociedade considera como inúteis ou incômodos, desprezados. As bem-aventuranças estão solidificadas numa nova sociedade, diferente daquela que é baseada na riqueza de uns poucos, que explora os pobres e os marginalizam pelo poder de sua opressão. Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito” que anseiam por uma vida melhor, e estão convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Ele, esta nova sociedade vai surgir e a vida vai florescer. Acolhendo este projeto de vida das bem-aventuranças, rezemos juntos com o salmista: “Amor e Fidelidade se encontram, Justiça e Paz se abraçam”. (Sl 85,11)

Luiz Cassio

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