Quinta feira da vigésima sexta semana do tempo comum.
É setembro entregando à outubro a bola da vez. Dentro de 93 dias inauguraremos um novo ano de paz em nossas vidas. Chega de tanto desgoverno, violência e morte. A vida está por um triz. Nunca vivemos uma realidade tão armada como esta. A serpente eclodiu o ovo do ódio e ele é destilado no meio das pessoas sem nenhum constrangimento. O clima eleitoral acirrou os ânimos ao ponto de se ver no outro não um adversário político, mas um inimigo a ser combatido pelas armas letais da mentira, da enganação, dos falsos deuses e da discórdia. Quem acreditava na ideia do “brasileiro cordial”, perdeu o encanto de vez.
A bandeira da paz precisa ser desfraldada, hasteada em nosso coração. Engana-se quem acredita na força das armas, para se vencer as questões de cunho político, econômico e, sobretudo, social. Os espíritos precisam ser desarmados e no seu lugar instaurarmos a “civilização do amor”. Esta foi uma expressão utilizada pelo Papa Paulo VI, em 1975, ao terminar o ano santo. Dizia ele: “não o ódio, nem a disputa, não a avareza será a sua dialética, mas o amor, o amor gerador de amor, o amor do homem pelo homem, não por algum provisório e equivoco interesse, ou por alguma amarga e mal tolerada condescendência, mas por amor a Ti, a Ti ó Cristo percebido no sofrimento e no necessitado de todo o semelhante.”
As armas da morte não prevalecerão sobre a esperança da vida construída nas relações de solidariedade e fraternidade mútua. O Deus da esperança renasceu na vida do Filho que fez a sua encarnação na história da humanidade. Somos filhos e filhas desta esperança do Deus da vida que está alojado em nosso coração. O esperançamento do fazer acontecer o Reino, pulsa nas nossas veias, nos fazendo assim, artífices da vida que prevalece sobre as forças da morte. A brutalidade das armas enrijece o coração daqueles que trazem nas suas mãos o sangue inocente de suas vítimas. Seria tão bom se pensássemos como o filósofo Baruch Espinosa (1632-1677) quando diz: “Não é pelas armas, mas pelo amor e pela generosidade que se vencem as almas.”
Estamos numa quinta feira em que somos interpelados a refletir sob uma perspectiva angelical. No dia de hoje a Igreja Católica celebra a festa dos anjos: Miguel (“que é como Deus?”); Gabriel (“a força de Deus”) e Rafael (“a medicina de Deus”). A palavra anjo vem do termo latino “angelu”, como uma derivação da palavra grega “ángelos”, ambas para designar como a um “Mensageiro”. Neste sentido, a “Angeologia”, que é o “estudo sobre os anjos”, nos traz uma vasta literatura deles na história de todas as religiões de cunho monoteísta, ou seja, daquelas que mantém a crença num Deus único (o zoroastrismo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo) Para estas concepções religiosas, os anjos são seres espirituais que atuam como mensageiros do Deus único como os executores de seu desejo e sua vontade.
No dia de hoje a liturgia recorre ao texto da literatura Joanina. O evangelista João descreve para nós o chamado que Jesus faz a Natanael a quem o Mestre se refere como: “um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. (Jo 1, 47) Deus que conhece todas as coisas e sabe tudo de cada um de nós. Jesus que conhece Natanael a fundo e também a cada um de nós, mesmo que assim não nos sintamos diante d’Ele. Esta situação nos faz lembrar do dialogo entre Pedro e Jesus quando o pescador assim o diz: “sim, Senhor, tu sabes tudo…” (Jo 21,15) Todos e todas somos amigos/amigas e irmãos e irmãs de Jesus. Esta é a família da qual fazemos parte e temos por missão construir o Reino de Deus entre nós. O Deus que nos criou traz em cada um de nós a sua insígnia de amorosidade.
O amor vencerá o ódio! A esperança vencerá o medo! A morte foi vencida pela vida na cruz do Ressuscitado. O Deus da vida tem a última palavra e ela é amor. A amorosidade de Deus triunfará naqueles corações que se abrirem ao amor de Deus, porque Deus é amor! Mais do que um mero sentimento piedoso, o amor é atitude, é compromisso, é entrega e doação pela vida de todos. “As armas não conhecem limites”. (Sêneca) O amor sim, constrói e se faz esperança no esperançar de Deus. Em Jesus, Deus Pai testemunhou seu amor, entregando seu Filho único para que as pessoas tenham a vida. Cada um de nós, por sua vez, respondemos ao amor do Pai quando, do mesmo modo, nos abrimos para o dom do amor, pondo-nos a serviço da vida das pessoas. Sem ódio e sem violência, mas com muito amor. Que venha a estrela da paz! “É bonita demais a mão de quem conduz a bandeira da paz!”
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