Segunda feira da 31ª Semana do Tempo Comum. A semana iniciando com uma benfazeja chuva fina, caindo aqui pelas bandas do Araguaia. O Sol aproveitou do ensejo, para dormir um pouquinho mais, deixando de fazer a sua presença caliente no meio de nós. A terra vai ficando mais molhada, como dizem os mais velhos por aqui: “chuva fina é que molha a terra”. Uma segunda atípica para os padrões do Araguaia, sempre mais quente, razão para louvar e agradecer a Deus pela chuva, fazendo uso das palavras do salmista: “Demos graças ao Senhor, porque Ele é bom. O seu amor dura para sempre!” (Sl 136,1) Deus testemunhando este seu amor infinito, sempre aberto para novas realizações.
Depois do final de semana intenso, com duas celebrações importantes (Finados e Todos os Santos), a segunda nos traz a memória de São Carlos Borromeu (1538-1584). Um Bispo do século XVI, de vida evangélica sóbria, onde vivia apenas com o indispensável, partilhando seus bens com os mais pobres. Faleceu no dia 3 de novembro de 1584, aos 46 anos. Foi santificado canonicamente em 1610, pelo Papa Paulo V, cujo pontificado aconteceu do dia 16 de maio de 1605 até à sua morte em 1621, fixando a festa de São Carlos Borromeu para o dia 4 de novembro, razão pela qual estamos celebrando sua memória no dia de hoje. “Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus nos entregou meios com que, se quisermos, poderemos ser fortalecidos com facilidade”, afirmava o bispo dos pobres.
Dia 4 de Novembro. Neste dia é comemorado também o Dia da Favela. Este dia é lembrado desde 1900. Esta data é usada para celebrar e alertar sobre a luta que os moradores dessas regiões enfrentam cotidianamente, fazendo parte do Mapa da Desigualdade Social deste país. São nestas comunidades que muitas famílias acham um refúgio da opressão social, onde muitos sonhos de jovens começam a nascer. Segundo os dados do último Senso do IBGE de 2022, o Brasil tem mais de 10 mil favelas e comunidades urbanas, em que vivem cerca de 16,6 milhões de pessoas, correspondendo a um total de 8% da população brasileira.
Conheci de perto uma destas comunidades, já que morei em uma delas (Favela do INPS – Jardim Oratório, em Mauá, no ABC Paulista), durante o período que durou os 4 anos do Curso de Teologia no ITESP (1985-1988). Foi com as comunidades de lá que aprendi Teologia Encarnada à Realidade, seguindo as orientações da Conferência Episcopal de Puebla (1979) que dizia: “a Teologia é o ato segundo; o ato primeiro é a inserção à realidade sofrida do povo empobrecido”. Ali declinei a Teologia da Libertação (TdL), lendo e relendo Gustavo Gutiérrez e tantos outros mestres. Minha segurança teológica que tenho hoje advém da caminhada com a comunidade da “Favela”. Estava no lugar certo e na hora certa da história. Quer privilégio melhor?
Deus sempre foi muito generoso para comigo! Colocou pessoas especiais em minha vida, que me fizeram ser quem sou hoje. Se sou quem sou, devo a participação destas pessoas em minha vida. A melhor versão de mim mesmo, veio pelo fato de trabalhar com bispos exponenciais, tais como: Dom Cláudio Hummes (então bispo de Santo André); Dom Angélico Sândalo Bernardino (bispo da Região de São Miguel Paulista) e nosso Pedro, nesta Prelazia de São Félix do Araguaia, onde ainda estou comemorando neste ano, o 32º aniversário de participação nesta Igreja. Pedro se foi, mas o seu legado segue entranhado em mim. Um mineiro radicado no Araguaia!
“Se vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus discípulos”. (Jo 8,31). Ser discípulo e discípula de Jesus requer que sejamos conhecedores e praticantes coerentemente da Palavra. É aceitar a vida nova trazida por Jesus, que relativiza tudo aquilo que antes parecia absoluto: riqueza, poder, ideias, estruturas. É romper com a ordem social injusta da sociedade da ganância e da exploração dos pequenos, pobres e marginalizados. A experiência do amor maior de Deus tem que passar pelas nossas relações fraternas de solidariedade, comunhão e participação, tendo em nós as coordenadas do amor, do perdão, da misericórdia e da compaixão. Pelo menos esta é conclusão do texto de Lucas hoje, com Jesus orientando como deve ser a nossa prática: “quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir”. (Lc 14,13-14) Para Jesus, o amor verdadeiro não é comércio, mas serviço gratuito, pois o pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Só Deus pode retribuir ao amor verdadeiro e gratuito de quem se dá por inteiro.
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