Sábado da Primeira Semana da Quaresma. Quaresma, que é sempre um tempo propício para avançarmos na prática do amor, como testemunhas do Ressuscitado. Viver autenticamente a fé, é sermos continuadores da mesma missão de Jesus de Nazaré. A fé sem este embasamento eclesial/teológico é mero cumprimento de normas, preceitos e dogmas. Na Quaresma, temos a oportunidade de superar a fé medíocre e farisáica para sermos autênticos seguidores/as do Mestre dos mestres. “Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação”. (2Cor 6,2)
Sábado em que amanheci longe de casa. Direto da capital matogrossense, salm deodiei o meu dia, sem me importar com a sua hora a menos. Apesar do cansaço de ontem, depois das 23 horas dentro do ônibus, o relógio biológico foi certeiro. Na síntese de minha oração, estava o desafio proposto por Jesus: amar os inimigos. Os amigos de sempre, já os amo de coração aberto e sem medo de ser feliz. Já os inimigos, como é desafiante, incluí-los nesta lista. Tarefa intrínseca para quem quer estar com Jesus.
Meu coração, que também sabe ser feminino, está em festa com as mulheres no dia de hoje. Celebramos na data de 24 de fevereiro a conquista do voto feminino no Brasil. Uma data marcada por muita luta pela garantia deste direito às mulheres. Foi a partir de 1932, que o Código Eleitoral Brasileiro, passou a assegurar o voto feminino. Se bem que, inicialmente, apenas às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e para viúvas com renda própria. Somente em 1934, o voto feminino passou a ser previsto na Constituição Federal.
“Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (Mt 5,44) A recomendação de Jesus é clara e objetiva. Contrariando a Lei antiga, Ele propõe a prática do amor incondicional também, e principalmente, aos inimigos. Tarefa nada fácil, sobretudo para um tipo de sociedade que se especializou em disseminar o ódio, a indiferença, as desavenças, a mentira e a omissão, inclusive entre os espaços religiosos. O ódio sendo conjugado em todos os tempos verbais.
Amar o inimigo é não somente não fazer-lhe mal, mas não lhe retribuir o mesmo que eles fazem conosco. É deixar que eles se envenenem com o seu próprio veneno e não com o nosso. A melhor forma de desarmar o inimigo é não tratá-los com a mesma medida com que nos tratam. Neste sentido, aprendi muito com o bispo Pedro, que não costumava responder às inúmeras agressões que recebia. “É dar Ibope ao agressor”, dizia ele.
Mateus continua nos apresentando o discurso paradigmático de Jesus no “Sermão da Montanha”. Na liturgia de hoje, o Evangelho nos abre à perspectiva do relacionamento inter-humano para além das fronteiras que as pessoas costumam construir, sejam pelas convicções políticas e religiosas. Todos e todas somos amados e amadas por Deus! Desta maneira, amar o inimigo é entrar em sintonia de relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para nós. Resolver os conflitos, as desavenças é também uma tarefa de quem ama para além das fronteiras da inimizade. Esta é também a tarefa para quem quer fazer parte do grupo de Jesus. Ser integrante do discipulado d’Ele é estarmos prontos e prontas à prática da justiça como fonte e síntese do amor incondicional aos inimigos. “Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. (Mt 5,48).
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