Trigésimo Domingo do Tempo Comum. O mês das Missões vai se despedindo de nós. Estamos caminhando rapidamente para o final do ano litúrgico A. O ano B está à frente. Neste sentido, muito nos ajudou o Concílio Vaticano II (1962-1965) com o propósito de celebrar, de modo digno e adequado, os mistérios de Cristo: “A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar, em determinados dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou domingo, celebra a memória da Ressurreição do Senhor”. Distribui-se assim todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor.
Meu coração amanheceu neste domingo num misto de alegria e tristeza. No final do dia de ontem, tomei contato com a informação de que o meu professor, havia realizado a sua páscoa do encontro definitivo com o Pai. Faleceu o padre Edênio Reis Valle (87 anos), da Congregação dos Missionários do Verbo Divino, também conhecida como Verbitas. Foi meu professor no quarto ano de teologia, ministrando sabiamente uma das disciplinas do curso. Entre suas muitas formações, era especialista em Psicologia, e muito ajudou nos nossos estudos, compreendendo melhor a dinâmica da vida. A alegria é de saber, que colherá junto do Pai, os louros pelos seus grandes feitos no seguimento de Jesus de Nazaré. Os bons estão partindo!
Rezei mais uma vez agradecido ao Pai pelo dom da vida. Ainda na penumbra da noite que se despedia, testemunhei o nascer do dia, às margens do Araguaia. Assim que o sol veio nos visitar e fazer morada neste dia, desenhou-se no cenário a minha frente, uma obra de arte assinada pelo próprio Deus da vida. A cada dia que amanhece a natureza ensaia um espetáculo maravilhoso; pena que a maioria das pessoas está ainda dormindo, ou anestesiada pela mecanicidade de seus olhares. Sou um eterno apaixonado por cada amanhecer! Não sei quem escreveu esta frase, mas assinaria embaixo: “Eu te amo tanto que cada amanhecer é um novo encanto, lírio puro e santo, que planto por querer”.
Mas voltando ao propósito destes rabiscos diários, a liturgia deste dia nos coloca mais uma vez diante do cenário de Jesus em Jerusalém. São os seus últimos momentos de seu ministério público, marcado pelos confrontos com as classes dirigentes: política e religiosa de Israel. Diríamos que o Evangelho de hoje é um texto sinótico, uma vez que aparece nos três evangelistas, guardadas as suas pequenas diferenças entre eles: Mt 22,34-40; Mc 12,28-34; Lc 10,25-28. Como Mateus é o evangelista que apresenta Jesus como o Mestre que veio realizar a justiça: “devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3,15), o confronto de Jesus e as autoridades se dá por causa da excessiva observância da Lei, mas sem um critério objetivo da prática da justiça e do amor em gestos concretos.
Como os judaizantes cumpriam rigorosamente uma lista de preceitos, eles querem saber de Jesus qual destes era o maior, o mais importante. A tradição rabínica cumpria um total de 613 preceitos, que representam a regra de vida que deve seguir cada um para realizar o seu papel de judeu. Desse número, 365 são mandamentos negativos, proibições (mitzvot taaseh) e 248 são prescrições, mandamentos positivos (mitzvot aseh). Desejosos de colocar Jesus numa situação embaraçosa, os fariseus perguntam a Ele: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” (Mt 22,36) Evidentemente que, velhacos que são, estas lideranças religiosas não estavão interessadas em saber qual seria o maior dos mandamanetos, mas a ideia deles era a de colocar Jesus numa situação sem saída (sinuca).
A essência da vida é o amor. O amor incondicional. Amor a Deus! Amor ao próximo! Amor a si mesmo! Quem não se ama, jamais será capaz de amar a quem quer que seja. Percebendo as más intenções deles, Jesus os desarma e afirma que a essência e o espírito da vida humana está contido num ato único com duas faces inseparáveis: amar a Deus com entrega total de si mesmo, porque o Deus verdadeiro e absoluto é um só e, entregando-se a Ele, a pessoa desabsolutiza a si mesma, o próximo e as coisas; amar ao próximo como a si mesmo, isto é, a relação num espírito de fraternidade e não de opressão ou de submissão. O dinamismo da vida é o amor que constrói relações entre as pessoas, gerando uma sociedade cada vez mais justa e fraterna, mais próxima do Reino de Deus.
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