Segunda feira da quinta semana do tempo pascal.
Iniciamos mais uma semana de nossa caminhada peregrina. Mais um recomeçar. A vida não pára. Trilhamos nossa jornada reavivando a fé, fazendo despertar a esperança, na teimosia das utopias do Reino. Sonhar o amanhã, mas viver intensamente o aqui e agora de nossa existência. Viver um dia de cada vez como experiência única. Amanhã será outro dia e o dia de hoje não existirá mais. Restará apenas o legado daquilo que fomos e fizemos hoje. Ousar viver intensamente na concretude da história como nos sugere o filósofo dinamarquês Soren Kierkgaard (1813-1855): “Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se”.
Amar e viver. Dois verbos que devem ser conjugados em todos os tempos de nossa existência. Amar para viver. Viver para amar. Ambos são intrínsecos e necessários à nossa plena realização humana. Meu ser social depende do meu ser pessoal. Sou o que sou na minha intimidade, mas também dependo da relação que estabeleço com o outro. Nenhum de nós nasce para viver dentro de si mesmo. O outro, além me revelar quem sou, completa o meu ser, com o seu próprio jeito de ser. Vamos nos completando e nos fazendo na caminhada. Não foi atoa que Deus nos fez todos, irmãos e irmãs. Somos da irmandade de Deus.
Amar se torna o grande desafio de todos nós. Todavia, não é assim que as coisas estão acontecendo entre nós. De uns tempos para cá, vimos crescer enormemente a cultura do ódio. Uma verdadeira cultura beligerante. A força do ódio ganhou espaços significativos entre nós. Vimos nascer de dentro de alguns dos nossos, um arsenal de ódio pelo diferente, pelo pobre e por aqueles que movem os seus pensamentos baseados nos reais princípios e valores da vida humana. Estes são adversários a serem combatidos pelas armas do ódio. Ódio que vem sempre acompanhado pelos caracteres do preconceito racista, sexista, homofóbico, misógino… Tal situação nos faz lembrar daquilo que fora dito por Nelson Mandela (1918-2013): “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
Ensinar a amar. Esta é a tarefa que Jesus se incumbe de fazer com os seus seguidores na liturgia de hoje: “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama”. (Jo 14,21). O amor é a porta de entrada da vida cristã. O critério de pertença ao discipulado de Jesus passa necessariamente pelo amor, pelo mandamento novo e pela prática se sua Palavra. Condição sem a qual não se faz a experiência de caminhar com Ele, trilhando as estradas da vida de nossa história humana, na construção do Reino. Insuflados pelo amor, guiados pela Palavra e vivendo o mandamento maior, temos a garantia dada pelo próprio Jesus que assim diz: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.
A vida se constitui num grande aprendizado. Desde que nascemos nos colocamos na escola da vida, que vai moldando o nosso ser, a nossa personalidade pelos valores que vamos apropriando. Cada dia é um aprendizado diferente que nos faz crescer. Quem não se abre a esta possibilidade, deixa de aprender e se fecha em suas verdades tidas como absolutas. Deixa de realizar-se enquanto ser humano, que veio a este mundo com o objetivo explícito de viver intensamente e em plenitude total. Fracassa enquanto ser criado por Deus nesta intencionalidade. Um ser inacabado que fracassa dentro de seus planos individuais, como nos dizia o monge inglês São Beda: “Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina, e não perguntar o que se ignora”.
Somos do discipulado do amor. Somos seres guiados pela Palavra de Deus. Nossa missão é cumprir o mandamento do amor. “Quem não me ama não guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou”. (Jo 14,24)
Para tanto, devemos fazer uso do discernimento para, de fato, saber o que fazer e como fazer. Discernimento que o Espírito Santo de Deus nos indicará qual melhor caminho a seguir. Com certeza não se trata do caminho do ódio, da indiferença, da intolerância, da omissão e das armas letais que atentam contra a vida dos pobres e marginalizados. Nosso caminho é o caminho do amor sem medida que nos ajuda a discernir os acontecimentos cotidianos para continuar o processo de libertação, distinguindo o que é vida e o que é morte, e realizando novos atos de Jesus na história.
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